7.3.18

Um tal guardador de rebanhos!

À medida que as horas se esgotam, sinto que não faz sentido preocupar-me com o futuro, a não ser o dos jovens... Mas como?
Ensiná-los a ser Pessoa ou pessoas poderia ser o caminho. Se a alusão não vos escapa, pensareis, talvez, que Pessoa era uma pessoa, mas a verdade é que não é certo, pois a sua originalidade resulta dessa demarcação - da fuga à humanidade por causa da bestialidade das pessoas...
Pessoa inventou-se a si próprio, indiferente aos deuses, e só por acidente sebastianista - fraqueza de quem, ao desbaratar a inteligência, passou a necessitar de um pastor.
Um tal guardador de rebanhos!
E mesmo esse preferia os pensamentos às ovelhas... Embora ele diga que as olhava com um estremecimento, ele bem sentia que essa fraqueza dos sentidos era uma cedência imperdoável...
Ensiná-los a ser Pessoa, mas como, se querer ser Pessoa é abdicar de ser pessoa? Aprender com Pessoa? Sim, mas cientes de que aquele foi o caminho dele, só dele... e que é tempo de o deixar fazer as pazes com a avó Dionísia... 

6.3.18

Não há Citius que lhes resista!

Um país reduzido a um assessor jurídico - um jurista toupeira. Ao serviço de quem? Dizem-me que do Benfica. 
Em termos militares, as toupeiras caracterizam-se pela sua capacidade de infiltração nas linhas inimigas...
Desconfio que esta toupeira começou por se infiltrar no Benfica para servir as linhas inimigas...
Só que parece que o alvo estratégico de Paulo Gonçalves era o Portal Citius...
Uma vez lá dentro, entra-se no melhor dos mundos...

Dizem-me que a toupeira é um mamífero insectívo comum no nosso país... 

5.3.18

Com tais exemplos...

Na China, está aberto o caminho da eternização do líder. Na Rússia, há muito que Putin descobrira como romper com a efemeridade. Nos Estados Unidos, Trump não quer ficar atrás... Na Alemanha, a senhora Merkel procura uma solução governativa definitiva. Em Itália, os italianos votam no caos...
Por cá, o poder é um trampolim para o enriquecimento a qualquer custo... Santana vai gerir uma Fundação que ele próprio acolheu na Santa Casa...
Finalmente, Passos Coelho vai ensinar, dando razão à tradição: - quem não sabe fazer, ensina! O problema é que, neste caso, nós vamos pagar-lhe um ordenado equivalente ao de um professor catedrático. Nem sequer se inscreveu na Sorbonne, como fez o colega Sócrates... talvez porque não tivesse um amigo magnânimo...
Não me interessa se necessitou de 10 anos para concluir uma licenciatura de 5 ou 3 anos, o que me preocupa é o mau exemplo.
O que me preocupa é que, com tais exemplos, já não sei o que replicar àqueles alunos que se vangloriam de não lerem um único livro...

4.3.18

A gata

As persianas cerradas e já a gata perscruta o melro que chilreia alegremente no topo do poste de iluminação. Não diz nada mas espera que a rotina lhe abra o horizonte para que possa seguir o voo das aves ou com elas...
E se alguma se aproxima do parapeito do 12º andar, agita-se e corre num encalce ilusório pois a vidraça continua fechada...
E ainda bem porque esta gata não aprende, apesar da experiência, a antecipar as consequências do voo felino. 
A gata. Os gatos.
Só eu procuro não me agitar de cada vez que o sol irrompe, porém a antecipação de nada me serve.

3.3.18

Pobre Esopo!

A única coisa que entristece é a chuva quando saímos à rua porque, afinal, temos casa...
No resto, obedientes e contentes, de preferência com sol.
Nem os malfeitores nos atrapalham desde que possamos vestir a máscara risonha de ícones insanos...
Ontem, a certeza de que o futuro será sem defeito, pois coragem não falta para cortar a torto e a direito - a rã, ou será sapo?, vai fumando o cigarro do desprezo...
Pobre Esopo! Por onde anda a cor local?
Talvez, no canteiro da vizinha...

2.3.18

Triste sina!

«Mas é mesmo imperioso que se caminhe sustentadamente para se conseguir renovar a educação escolar. É o que está a acontecer por todo o mundo e é aquilo que os novos tempos e modos exigem de nós.» Joaquim Azevedo

Caminhar sustentadamente, só a quatro patas ou com o apoio de uma bengala... com direito a entrar nos centros comerciais e nos restaurantes, mas sem qualquer consideração pelo envelhecimento...
O que está acontecer por todo o mundo em matéria de educação é um desastre. Basta pensar em quem governa a maioria dos países e das organizações - o melhor seria apontar as exceções e a lista seria curta...
E o que está acontecer em matéria de ensino é o favorecimento da criação de elites, deixando à deriva milhões de jovens - deixá-los entretidos com um falso saber, inócuo e presunçoso; deixá-los à mercê de polvos editoriais que lhes servem panaceias coloridas...
O que os novos tempos exigem de nós é honestidade inteletual, embora pareça que anda o mundo trocado.
Ainda hoje comecei o dia a pensar se a vaidade seria uma virtude...
Creio que já um dia aqui referi que em tempos medievos houve quem considerasse a cobardia uma qualidade, sem esquecer o silêncio virtuoso... Triste sina! 

1.3.18

Nhympha ou Nympha do Mondego?

«Ricardo Reis levantou-se, foi ao lavatório refrescar a cara, pentear-se , pareceram-lhe hoje mais brancos os cabelos das fontes, deveria usar uma daquelas loções ou tinturas que restituem progressivamente os cabelos à cor natural, por exemplo, a Nhympha do Mondego...» José Saramago, O Ano da Morte de Ricardo Reis

Apesar da obra estar classificada como um romance, cada vez me convenço mais que, na verdade, José Saramago escreveu uma crónica, segundo o preceito de Fernão Lopes, isto é, foi pondo por ordem os dias e as horas com muito recurso à leitura dos jornais da época... o que nos permite fazer o caminho inverso, descobrindo a cada cavadela uma ou várias minhocas...

Neste caso, a Nympha do Mondego ganhou um /h/... Será gralha?

Na realidade, o meu problema é que já há cada menos interessados em cavar ... a não ser daqui para fora...