27.10.17

Equânime / assossec

«Aguardo, equânime, o que não conheço -
Meu futuro e o de tudo.
No fim tudo será silêncio, salvo
Onde o mar banhar nada
Ricardo Reis

Uns estão eufóricos com a nova República da Catalunha, outros, tristes... Quantos? Não sei.
Uns estão eufóricos com o novo Estado Catalão, outros, tristes... Quantos? Não sei.

Só sei que a República proclama-se, e simbolicamente é expressão de atualidade.
Quanto ao novo Estado, será mais difícil construí-lo... e há por aí tantos Estados falhados, a começar pelo Português.
Afinal, no momento, o Estado Catalão é expressão de virtualidade...

Entretanto, surgiram dezenas de comentadores a apelar ao respeito pela Lei. Qual?
- No fim tudo será silêncio, salvo / Onde o mar banhar nada. 

26.10.17

Presentismo e absentismo

La expresión presentismo laboral, que define el hecho de pasar más horas en el lugar de trabajo de las exigidas por la jornada laboral, en muchos casos por temor a perder el empleo...


O número de baixas em Portugal é assustador, embora ninguém conheça a sua verdadeira dimensão... Porquê? 
Consta até que o Estado quer poupar 60 milhões de euros, em 2018, reduzindo significativamente o número de baixas fraudulentas. Mas como?
Por outro lado, há quem permaneça mais horas no local de trabalho do que as contratualizadas, mas  pouco ou nada fazendo. Não sei se por moto próprio se por decisão das chefias... Ou será por medo de perder o emprego?

De qualquer modo, gostaria de conhecer a verdadeira motivação de Jean P.

Um funcionário de um supermercado Lidl em Barcelona foi despedido por trabalhar horas... a mais. Jean P. foi dispensado por que entrava mais cedo ao serviço, para preparar a loja para a abertura, e violou as normas da companhia.
Segundo a investigação da empresa alemã, às vezes Jean chegava ao local uma hora antes do relógio de ponto acordar. "Fazia encomendas, mudavas preços, repunha prateleiras inteiras de artigos", lê-se na carta de despedimento a que o jornal "El País" faz referência.
Durante uns dias em abril deste ano, a empresa observou o comportamento de Jean. Através das imagens de videovigilância, concluiu que chegava à loja entre "49 a 87 minutos" antes da hora para trabalhar, sem registar o tempo de trabalho fora de horas.
Este comportamento é contrário à norma "cada minuto que se trabalha, paga-se e cada minuto trabalhado deve ser registado", argumenta a empresa na carta de despedimento, fundamentada em "incumprimentos laborais graves". Despedimento

Pelo que me diz respeito, vou passar estar mais atento à minha tendência para passar mais tempo no local de trabalho do que aquele a que legalmente estou obrigado e, sobretudo, vou começar a cronometrar o tempo que gasto em casa com a atividade profissional...

25.10.17

O piolho

Antigamente, havia quem procurasse deliberadamente o piolho, não porque não houvesse mais lugares na sala de cinema, mas porque lá certas liberdades eram toleradas...
Hoje, voltei a lembrar-me do piolho ao verificar que certos jovens avançam decididamente para a última fila da sala de aula...
Do que lá se passa, o melhor é não averiguar. 
Tal como outrora, estes jovens não gostam de ser incomodados e não sentem qualquer remorso se incomodarem os restantes...

24.10.17

Quão diferente seria...

O que me surpreende não é que o CDS apresente uma moção de censura ao Governo ou que Costa ande a dar emprego aos amigos, a mim, o que me surpreende é que, ao abrir a porta de um prédio na Rua Tomás Ribeiro, Lisboa, esperando que entrem três pessoas, uma delas tenha parado diante de mim e me tenha perguntado se eu habito naquele prédio e se não me chamo Manuel Cabeleira Gomes - assim, de súbito, exclamando para a filha: - Olha, este senhor foi meu professor há 40 anos, em Mafra! Foi meu professor de Literatura Portuguesa!
Olhei-a e procurei, no seu rosto de senhora de mais de 50 anos, traços da adolescente de antanho e fiquei com a sensação que conseguia recordá-la, jovem adolescente, atenta e, sobretudo, com uma enorme vontade de aprender...
E fiquei a pensar naqueles jovens de hoje que, desatentos e desinteressados, não chegam a saber o nome dos professores, quanto mais o meu!
Quão diferente seria, profissionalmente falando, para deixar impressão tão duradoira nos jovens daquele tempo! Que pena que eu tenho que a minha memória não guarde, pelo menos, os rostos de todos aqueles que sempre manifestaram vontade de ir mais além!

23.10.17

A caminhada sem girassol

Sem girassol, o meu olhar é turvo. Só vislumbro, nos rasgões que abrem para o longe, formas imperfeitas; só oiço acusações de falta de amizade, de falta de educação - na rua, o que ganham em intensidade perdem na distância dos interlocutores...
E eu caminho, caminho para distender os músculos e aliviar a tensão ou talvez o esforço por compreender não o outro, mas o modo de lidar com a depressão... Essa depressão sazonal que só quer adormecer, mas que, lá no fundo, é uma nova forma de poder... que imobiliza, que asfixia até a um ponto que só a caminhada pode combater...

22.10.17

Refrear e enganar

Numa manifestação realizada ontem, no Terreiro do Paço, os manifestantes aproveitaram para desatar à pancada. Pelo que vi, as forças da ordem, esforçadamente, lá os separaram... Bem sei que estas forças foram criadas para assegurar a ordem! De qualquer modo, quero crer que, nestas circunstâncias, o melhor seria deixá-los esgotar as energias, pois,  um destes dias, vamos vê-los a acolitar gente manhosa que aspira a ser poder, a ser governo. E para quê?
Bernardo Soares (Fernando Pessoa) é esclarecedor:

«O governo assenta em duas coisas: refrear e enganar. O mal desses termos lantejoulados é que nem refreiam nem enganam. Embebedam, quando muito, e isso é outra coisa

Parece-me claro que alguém anda a desenhar um frente-a-frente entre a direita e a esquerda, em nome da chamada alternativa democrática, mas em breve será a extrema-direita a sorrir, como já está a acontecer um pouco por toda a parte... 
E como bem sabemos, a bebedeira é inimiga da memória!

21.10.17

Quem não sabe é que decide!

Milhões e mais milhões para compensar perdas humanas, de animais e haveres; para compensar empresas e empregados... para tudo o que estava, quase sempre, mal. E para reorganização do território, pouco se sabe...
Há por aí quem pense que basta dar uns milhares de euros às vítimas, reconstruir as casas e as fábricas, plantar uns milhares de árvores, restabelecer a luz elétrica e as comunicações, mas, infelizmente, isso é o mais fácil...
Reorganizar leva tempo, exige projetos e, sobretudo, o envolvimento de quem tem capacidade para executar. Em Portugal, há conhecimento e há empresas internacionalizadas que poderiam dispor de 15 ou 20% dos seus recursos para tal efeito... Mas não vejo que o poder político tenha lucidez suficiente para entregar tal programa de reorganização a quem sabe...
Quem não sabe é que decide!
E ainda há os abraços, os minutos de silêncio, as manifestações ora silenciosas ora espalhafatosas...