31.3.17

O milagre de Costa

Assegura o chefe do Governo que está “afastado o espectro da liquidação” do banco e que a venda terá “impacto positivo na estabilidade do sistema financeiro”, e ainda que “não serão exigidas contribuições extraordinárias” para suportar a alienação do Novo Banco.

Como não sou crente, a declaração de António Costa vale zero. Há muito que o país está em liquidação e só quando se diluir numa outra qualquer realidade é que o problema deixará de existir. 
Nunca tivemos capacidade de autossustentação. Fomos e somos o produto de contingências que não controlamos...
Não é apenas o Poeta que é um fingidor, somos todos nós!
Bem sei que o Papa Francisco vem aí celebrar o milagre de Fátima, mas a verdade é que continuamos a fingir. Sempre ouvi dizer que a Senhora viera para que rezássemos para que o Comunismo não alastrasse à terra da cristandade...
Os tempos vão tão confusos que se a Senhora decidisse voltar, provavelmente limitar-se ia a solicitar que rezássemos contra os vendilhões...  

30.3.17

Mais poeira no Ministério da Educação

  • Defendemos uma orientação pedagógica estável e, por isso, estamos a tentar que a educação comece dos zero aos três anos.
  • Investir nos adultos é investir nas crianças.
  • Tentar agir aos primeiros sinais de insucesso, prevenindo o fracasso escolar;
  • Aulas de apoio são um caro insucesso. O aluno fica exausto da mesma forma de jornada de trabalho.
  • Queremos investir 19 milhões de euros em formação de Relevância, Qualidade e Impacto.
      João Costa, Secretário de Estado da Educação
- Dos zero aos três anos? Será que o Estado (espartano) quer substituir os pais?
- Afinal, o Programa Qualifica tem como objetivo formar os pais como educadores? Mas, para quê, se o Estado se quer ocupar da educação dos bebés?
- O insucesso é fruto da falta de enquadramento pedagógico e do modo como o Estado insiste em não promover, de forma diferenciada, a resolução das dificuldades de aprendizagem de cada jovem, integrando-os em grupos de nível...
- Quanto às "aulas de apoio", estas só beneficiam um número muito diminuto de alunos... E a questão da exaustão é um falso problema, pois trabalha-se pouco e mal, até porque os recursos, em muitas escolas, são obsoletos. 
- O investimento nos professores é, como sempre, um negócio, desta vez em torno de conceitos bélicos: "relevância", "qualidade" e "impacto". A verdade é que o Ministério da Educação abandonou a formação de docentes, deixando-a a cargo de personagens sem qualquer formação pedagógica, sejam eles do Ensino Superior ou mesmo das grandes editoras... Há muito tempo que o ME foi feito refém pelas editoras, como o senhor professor João Costa, bem sabe...

29.3.17

A perceção da realidade

O que dizer?
Se nada disser, parecerá desinteresse ou, no limite, desistência.
Se ensaiar uma resposta, ficará a sensação de que o emudecimento teria sido melhor.

Hoje, perguntaram-me de quanto tempo necessitara para escrever o post "A condição humana". Surpreendido, respondi 30 minutos. E de imediato hesitei, pois me pareceu que o tempo necessário seria muito mais extenso... 
Meti a viola no saco e segui caminho...
O resto do dia apenas serviu para mostrar que o silêncio ter-me-ia evitado a inopinada subida de tensão. O problema é que replico sempre que a perceção da realidade entra em conflito com o estado do mundo.
Entretanto, regressei à pergunta matinal, para concluir que mais valia ter respondido que os 30 minutos de escrita eram, afinal, a expressão de uma vida...  

28.3.17

Ai, a culpa!

Tem que haver sempre um culpado! Alguém que sacode a água do capote, que passa a bola, que alija a carga...
Um vestígio romântico de pária atirado para a margem, abandonado à sorte madrasta...
Apenas um rumor inconfessado de castigar o Outro por tudo o que vai acontecendo. Uma vontade súbita de adormecer e de acordar como se nada se passasse...
Porém, as horas cruéis são de crime!

27.3.17

Um tempo imperfeito

Repete incansavelmente um tempo imperfeito, que correra bem e descambasse a cada momento, mesmo se cada dia mais não fosse do que uma réplica de múltiplos episódios, consequência de ter nascido em dia aziago...
Para lá desse dia, existiria a abundância, embora saiba que o tempo já era de desarmonia.
Só que o saber de nada serve, quando se regressa ao abismo. 

26.3.17

Zona de contacto

Há conceitos que se banalizaram de tal modo que deixaram de ter utilidade. Hoje, não passam de etiquetas que se colocam sobre certas formas de lidar com o Outro. Estou a referir-me aos conceitos de multiculturalidade e de interculturalidade que determinam espaços de acantonamento e de integração, embora diferenciada.
Mary Louise Pratt (1992) propôs que a investigação passasse a centrar-se na «zona de contacto», porque este conceito obriga a equacionar a distância e a proximidade a que nos situamos do Outro.
O problema é que quanto mais nos aproximamos, mais sentimos necessidade de traçar limites. 
Na verdade, quando distantes, não vemos obstáculos à diluição de fronteiras; só que, quando o Outro entre no nosso espaço, surge o medo, o desassossego, a fobia, o ódio... 
Como alternativa, os políticos de esquerda preferem a abordagem exótica, desde que ela traga dividendos.
Quanto aos políticos de direita, preferem levantar muros. Preferem o apartheid, em nome de uma pureza fantasiosa.

25.3.17

Os media e os rituais de morte.

... de tal modo que a imortalidade se tornou alcançável pelos caminhos do ódio e da destruição... in "A condição humana", 24/3/2017.

A ideia é minha, mas peca por excessiva. A imortalidade já não interessa a ninguém! O que conta é o fulgor do momento, o raio que se liberta do trovão e que se precipita fulminante sobre a vítima... E a glória da mediatização é a droga que acelera o coração e entorpece a razão.
Não é islâmica, a faca que degola, é a que mata o suíno num ato de superação da impotência de quem só recobra a honra através do sangradura pública.
Infelizmente, a comunicação social vive e alimenta cada vez mais os rituais de morte.