7.4.16

Idalécio ou 'aquele que tem o espírito forte'

Passei anos a guardar papéis e eles são tantos e já amarelecidos que já não tenho paciência para os recuperar. Talvez pudesse digitalizá-los ou até copiá-los para o computador, mas falta-me o tempo e, sobretudo, sobra-me a ideia de que estes não iriam interessar a ninguém.
Apetece-me rasgá-los, de vez! De tempos a tempos, inicio a tarefa, mas acabo por suspendê-la. Vá lá saber-se porquê!
Nos últimos dias, tenho vindo a pensar que, definitivamente, perdi a hipótese de enviar os meus papéis para o Panamá.
Triste sina! Chego sempre tarde! Eu que prezo a pontualidade... a culpa é dos meus pais que não quiseram dar-me o nome de  Idalécio

6.4.16

De passagem...

Há tanta gente a necessitar de ajuda!Tanta gente em movimento!
Com maior ou menor diligência, desenvolvem-se estratégias de acolhimento e de integração. No entanto, quando se pensa na aprendizagem da língua portuguesa como forma de integração, há um momento em que todos desaparecem, como se o inglês bastasse para eliminar as fronteiras.
Afinal, o que se desenvolve através do ensino em inglês é uma nova forma de assimilação, em que as escolas em geral e, em particular, as universidades não passam de barrigas de aluguer.
A integração pressupõe o conhecimento da cultura do lugar, da sua especificidade linguística e histórica. Sem esse conhecimento, o imigrante e o refugiado (categorias, por vezes, indistintas) estarão só de passagem, mesmo que a linha que separa a vida da morte possa ser muito ténue... 

5.4.16

O mal-estar destes dias

Há sempre um dia em que a intimidade acaba exposta, mesmo se por prevenção ou para despistar sintomas recorrentes.
Há sempre um dia em que um amigo se prepara para regressar às mãos do neurocirurgião, mesmo se para por cobro ao crescimento de um cisto indesejado.
Há sempre um dia em que um filho decide regressar a Ancara, capital de um país, onde a repressão das oposições é cada vez mais frequente e violenta.
Há sempre um dia em que um colega nos parece ter subitamente envelhecido... 
Este é um desses dias!

(...)
Para a semana, esperemos que o vento frio se tenha afastado e que o pólen dos plátanos tenha cumprido a sua função.
Para a semana, esperemos que o mal-estar destes dias tenha cessado! 

4.4.16

Olho vê, mão pilha

«Mas os ‘Panama Papers’ batem o recorde em volume de dados, sendo a maior fuga de informação sobre offshores de que há registo: envolvem mais de 214 mil companhias. Os ficheiros incluem emails, fotografias, ‘powerpoints’ e partes da base de dados da Mossack Fonseca, a sociedade de advogados panamiana que está na origem da informação aparentemente mais relevante, num período entre a década de 1970 e 2016.» Imprensa, 4 de abril 2016 

Como escreveu Saramago em Memorial do Convento, «mas isto, confessemo-lo sem vergonha, é uma terra de ladrões, olho vê, mão pilha...» Só que Saramago, na circunstância, referia-se à arte de furtar portuguesa. Afinal, o furto é global, e como o polvo, sabe esconder-se nos lugares mais improváveis. No caso, no Panamá.
Paga-se o trabalho miseravelmente, corta-se nas pensões, condenam-se empresas à falência, colocam-se os povos no pelourinho, e para quê? Para que os abutres vivam à grande pelo menos desde os anos 70!

3.4.16

Pela integração

«Há duas maneiras de organizar a recepção de imigrantes. Uma tem a designação genérica de integração. A outra de multiculturalismo.»  António Barreto, DN, 3 de abril de 2016.
Vale a pena ler o artigo de António Barreto!
No que me diz que respeito, desde de meados dos anos 90 que pugno pela interculturalidade, uma das estratégias possíveis de integração. Nunca percebi como é que politicamente se pode defender a divisão do território em ilhas de cultura (religiosa ou outra...)
A maioria dos conflitos dos últimos 100 anos encontrou nessas ilhas terreno propício ao avanço de projetos de alargamento do chamado "espaço vital". Basta lembrar como Hitler anexou a Áustria, a Renânia, a República Checa, sempre em nome das minorias alemãs...
O que, afinal, em nada se distingue, por exemplo, da estratégia de Putin, mais recentemente...

2.4.16

Leituras várias

Desde as cinco horas que chuvisca e eu fui um dos tolos, embora não me possa queixar, pois o edredão secou enquanto o sol durou. 
Por entre os afazeres domésticos, o dia foi consumido numa caminhada e, sobretudo, em leituras várias: "O dia em que a jararaca voltou"; "Relations Internationales de 1930 à 1939"; "Les agressions allemandes et la marche à la guerre (1938-1939)"; capítulos primeiro e derradeiro de "Memorial do Convento"...  (Talvez, Santo Aleixo nos possa valer!)
Estas leituras podem parecer incongruentes, no entanto dão-nos a compreender a mecânica humana: por um lado a ambição desmedida; por outro, a inconsequência e a cobardia. 
O cruzamento de leituras de índole jornalística (Brasil atual), histórica (conflito entre ditaduras e democracias no séc. XX ) e ficcional, dá ao leitor o distanciamento necessário à compreensão do descalabro civilizacional em que estamos mergulhados.
Infelizmente, esta experiência é cada vez menos partilhada.
 

1.4.16

Para que serve a escola?

Quando não há uma relação direta entre o sucesso na vida e o sucesso escolar, qual é o lugar da escola no mundo atual? 
Tradicionalmente, a pergunta seria "qual é o papel da escola na sociedade atual?"
Na verdade, já não há sociedade e muito menos uma 'sociedade portuguesa' ou até uma 'sociedade europeia'. O que há são corredores que uns tantos percorrem, alheios ao interesse comum, e que, no final, se revelam portas de entrada para a riqueza e para a fama, independentemente dos meios para as atingir...
O sucesso na vida não obedece a qualquer critério ético, apesar de uns tantos continuarem a defender valores verdadeiramente anacrónicos, pois os media e as redes, ditas, sociais veiculam, ao segundo, atitudes e saberes despojados de qualquer criticismo.
A escola mais não é hoje do que um cais para onde são atirados os filhos daqueles que procuram o sucesso na vida a todo o custo nos corredores da desumanização e da alienação...
Nestas condições, para que serve a escola? Para que serve a escolaridade obrigatória de 12 anos?
Do ponto de vista relacional, qualquer observação revela que os laços desenvolvidos são fúteis e, por vezes, antissociais. Do ponto de vista da aprendizagem, não é difícil concluir que a matriz conteudística é desfasada da realidade e, como tal, desinteressante e aborrecida...