7.12.15

Os Subterrâneos, de Jack Kerouac

Conclui, hoje, a leitura do romance "Os Subterrâneos", de Jack Kerouac. O que dizer desta obra publicada em 1958?
Em primeiro lugar, que o autor prefere a espontaneidade discursiva a qualquer plano devidamente estruturado.
Em segundo lugar, que, na linha dos surrealistas, a escrita se automatiza de tal modo que a censura lexical, sintática e moral é destruída linha a linha, página a página - assim se compreendendo a aversão de Kerouac a qualquer tentativa de revisão.
Em terceiro lugar, que os intelectuais e os artistas americanos dos anos 40 a 60, ao procurarem eliminar as fronteiras sexuais, étnicas e mentais, o fizeram de tal modo que acabaram por mergulhar no absurdo e no niilismo... A promiscuidade, o alcoolismo, a droga, o narcisismo, a discriminação, a violência, a megalomania tornaram-se nos novos valores do Ocidente...
Finalmente, pelas referências literárias, artísticas e filosóficas, este romance é a prova de que os Estados Unidos não quiseram ficar atrás da Europa, que dificilmente se ergueria dos escombros a que a sua elite a condenara...

Consultar: A geração beat

( Este ponto de vista é necessariamente tendencioso e, como tal, não espero que seja partilhado.)  

6.12.15

Afinal, os gatos não são todos iguais

Nenhuma das fotos revela o que me passou pela mente.
A primeira esconde que os gatos avistados são sete, só que, inicialmente, pensei que seriam os mesmos sete de ontem, que teriam mudado de sítio. Desta vez, estariam separados, talvez, porque a disciplina de um dia se tivesse transformado em desordem... Esquivos, pareciam temer-me.
Enquanto pensava na indisciplina felina, fui avançando, atento à cor amarelada e avermelhada das árvores exóticas que ladeavam apressadamente os prédios, três ainda em construção - tempo previsto: 24 meses - mas em fases diferenciadas, apesar da simetria do projeto...

Até que a hipótese de me ter cruzado com sete gatos nómadas (há quem pense que são vadios, curiosa associação!) se esfumou nas palavras, que não na mente, pois no lugar de ontem avistei a jovem benfeitora, e logo suspeitei que não estaria sozinha naquele recanto. Esperei, pouco discreto, que ela se afastasse, o que acabou por acontecer - ela regressou ao prédio a que pertenceria, de acordo com o conveniente sedentarismo que nos separa dos vadios...
Dei sete passos, e lá estavam eles, não sete, mas nove gatos.
Afinal, os gatos não são todos iguais e nem sempre são os mesmos, o mesmo acontecendo com os benfeitores.  

5.12.15

São cinco as gamelas e sete os gatos

O essencial é o que Ser pensa e não o que ele diz.
São cinco as gamelas e sete os gatos que, alinhados, matam a fome. No entanto, o pensamento diz-me que são cinco os comedouros e sete os comedores e arrasta-me para a interrogação de possíveis cacofonias: - são sete os comedores que comem nos comedouros.
A questão essential, todavia, é diferente. Pouco interessa se os gatos disputam comedouros, gamelas ou tijelas. O que, sem ser dito, emerge é que, na verdade, os felinos não disputam, porque a alternância de ritmos lhes permite comer sem qualquer conflito...
Deste modo, raramente as palavras dizem o que é pensado, porque, trapalhonas, procuram o seu ritmo, o seu interesse - o poder que as individualize, que deixe pelo menos dois gatos de fora. E na liça, sobram os arranhões, o pelo eriçado...
(...)
Em conclusão, o que as palavras dizem pouco tem de "essencial", excetuando, talvez, as de alguns poetas...
Ainda puxei da máquina fotográfica, mas logo a mente disse: - estás a perder o pouco tempo que tens para pensar.

4.12.15

O Niilismo é o melhor aliado dos teólogos

«Sabe-se que se sabe, mas sabe-se que aquilo que se sabe pode ser posto em dúvida, e pode sobretudo engendrar uma nova maneira de saber.» Alfredo Margarido, O Islamismo face ao Oriente, in revista Finisterra, nº 6 Outono 1990.

Por maior compreensão que possamos ter com as culturas divergentes, há um limiar que não deve ser ultrapassado -  ser tolerantes com a ditadura das religiões e dos teólogos.

E por mais paradoxal que possa parecer, a incapacidade de enfrentar o fenómeno integrista resulta do modo como a laicização ocidental, inspirada em Nietzche e Marx, descurou o estudo da História e, em particular, o estudo História das Religiões.
Por um lado, a Ciência e, por outro lado, a Filosofia existencialista encarregaram-se de progressivamente matar a Transcendência, como se o Ser pudesse bastar-se a si próprio...

O Niilismo é o melhor aliado dos teólogos... os jovens que o digam, embora possam não o saber... 

3.12.15

Atentados por 30.000 euros

O ministro das Finanças francês, Michel Sapin, afirmou hoje que quem organizou os atentados de 13 de novembro em Paris "não terá gasto mais do que 30 mil euros".

Fica barato organizar e executar um atentado. Não um, mas vários, e quem o diz é senhor Michel Sapin, ministro das Finanças francês, que já deve ter orçamentado vários atentados de retaliação muitíssimo mais caros; isso, porém, não diz.

Não consigo perceber donde é que saíram estes seres que nos governam que, em vez de procurarem soluções que permitam acabar com as causas do terrorismo teológico, geram notícias facilitadoras da violência armada. Afinal, ela fica barata!

Só nos faltava o racionalismo contabilístico vir dar a mão ao obscurantismo do integrismo religioso...

2.12.15

O capitalismo atual explora o tempo individual

«Contrariamente ao que nos diz Marx, o homem não vende apenas nem talvez sobretudo a sua força de trabalho. O que ele vende antes de mais é o seu tempo.» Alfredo Margarido, O Islamismo face ao Ocidente..., in revista Finisterra, nº 6, Outono 1990.

O capitalismo atual, mais do a força de trabalho, explora o tempo individual.
Aos jovens dá-lhes todo o tempo e rouba-lhes o trabalho; aos mais velhos aumenta-lhes o tempo de trabalho, e rouba-lhes o tempo de vida.
Como a experiência ensina, os jovens ociosos acabam por se perder na rotina dos dias e, ao desperdiçarem a iniciativa e a capacidade de transformação da sociedade, tornam-se abúlicos ou, então, rebeldes capazes de sacrificar a vida por uma ideia por mais abstrusa que possa ser...
Quanto aos mais velhos, obrigados a adaptarem-se às novas tecnologias,  a acelerarem os ritmos de trabalho e a submeterem-se aos ditames de um poder que os responsabiliza a todo momento pelo fracasso da sociedade, não chegam a ter o tempo a que teriam direito para fruir o resto dos seus dias.

(As noticias deste dia sobre as regras de aposentação e de reforma só confirmam a perversão a que chegou capitalismo atual.)  

1.12.15

Estou contra...

Estou contra a restauração do feriado de 1 de dezembro por um simples motivo: há muito que Portugal deixou de ser um país independente.
A não ser que o dia feriado seja aproveitado para decidir as estratégias que nos permitam sair da pasmaceira em que nos arrastamos, estou contra a restauração do feriado de 1 de dezembro.

ESTOU CONTRA e não SOU CONTRA! A diferença está na atitude de quem, sendo preguiçoso por natureza, rejeita os estados de alienação...