31.3.15

Os homens sentados


 (Região de Saúde Lisboa e Vale do Tejo)

O novo Centro de Saúde de Sacavém está situado em Moscavide, quase escondido... Sobretudo para quem mora na Portela... Os acessos estão prontos, mas encerrados! Provavelmente, serão abertos numa futura ação de campanha eleitoral, lá mais para o verão... Resta saber quem é que irá cortar a fita. 

Não quero crer que seja o presidente do município de Loures, Bernardino Soares*, que acabo de ver referido no livro Estes Políticos devem estar Loucos, pág. 145, de Catarina Madeira e Márcia Galrão. 
Um livro que mostra à evidência a boçalidade de muitos daqueles que, ao longo dos tempos, se foram sentando na bancada do governo e nas cadeiras parlamentares, apesar de, no prefácio, João Mota Amaral, ter esperança que esta obra ajude, não os leitores, mas os eleitores:
«E assim recolhem os eleitores uma imagem dos seus deputados mais humana e próxima, que espero contribua para melhorar a simpatia dos Portugueses para com o Parlamento, que os representa no exercício supremo da soberania de Portugal.»

* Mas era Bernardino Soares quem fumegava cada vez que Gama concedia a Nuno Melo o direito de «defesa da honra», pois ele, fiel cumpridor das regras parlamentares, jamais fintaria o árbitro para levar o jogo ao prolongamento.    Esclareça-se «defesa da honra da bancada.»

Pessoalmente, compreendo que o parlamentar possa ter necessidade de «defender a honra», sobretudo quando maltratado pela sua bancada. Mas, quanto à «honra da bancada», tenho dificuldade em reconhecê-la, até porque ela, em regra, asfixia a liberdade do deputado.

A estrada da liberdade existe, mas o acesso está encerrado...      

30.3.15

Lisboa degradada e doente...

No centro da capital, a irregularidade do piso já tem barbas. Nem os milhares de turistas que por ali circulam comovem os dirigentes do município!
As duas fotos que aqui deixo são de um hospital da capital. Numa, à vista e à mão de todos, o contador do gás da instalação hospitalar. Na outra, o pavilhão que acolhe os utentes que ali se veem obrigados, amontoados, a esperar longamente pelas análises ao sangue... Se, para infelicidade sua, precisarem de fazer no mesmo dia um raio X e um eletrocardiograma, então os utentes devem levar bússola ou gps...



Em síntese, os sinais de degradação urbanística proliferam por toda a parte... E a população cada vez mais doente, mais conformada, senão mesmo anestesiada...
Infelizmente, o presidente do câmara, que quer governar o país, não foi capaz nestes últimos anos de pôr termo à derrocada, embora se ufane de, ao contrário do governo, ter diminuído significativamente a dívida do município...
Bem sei que o senhor presidente sempre poderá responder que a culpa da irregularidade do piso é das colinas, e que a culpa da degradação dos hospitais é do governo pois não avançou com a construção do grande hospital central de Lisboa. Até porque os atuais terrenos hospitalares poderão vir a ser o novo "ouro" do município... 

29.3.15

Dúvida metódica

Quais são os objetivos de uma dissertação de mestrado nos tempos que correm?
O que é que distingue uma dissertação de mestrado de uma dissertação de doutoramento?
No passado, o candidato para poder concluir uma licenciatura (agora, segundo ciclo de Bolonha) ou progredir na carreira académica tinha de ser capaz de investigar, apresentar por escrito e defender oral e publicamente a sua pesquisa...
E hoje, será que tal acontece?
No atual sistema de ensino superior, quem é que garante que os mestrandos e os doutorandos são devidamente orientados?

Estas perguntas são obviamente de natureza retórica, só não compreendo por que motivo as coloco, aqui, por escrito...

28.3.15

Se houvesse mais rigor...

Como referi ontem, cheguei atrasado ao teatro, e acabei por regressar a casa com a sensação de que a pontualidade é essencial, mas que esta pode não passar de um gesto disciplinador menos importante do que, por vezes, se pensa...
Na verdade, nos últimos anos, tenho-me esforçado por ser pontual, porém deixei de cobrar os atrasos com que me confronto diariamente, em termos familiares, profissionais...
Gostaria, sim, que houvesse mais rigor no tratamento dos assuntos, na realização das tarefas e na satisfação dos compromissos...
Se tal acontecesse os dias seriam menos penosos!
Mais do que ser pontual, há que ser rigoroso e não desistir da perfeição. Mas nada disso acontece... a imperfeição tornou-se uma marca de água... e pelo caminho vão ficando as vítimas.
Creio até que o meu próprio coração já começa a dar sinais de impaciência, e eu finjo que não o oiço nestes dias penosos que atravesso...

27.3.15

Atrasos...

Quem me conhece, sabe que detesto atrasos. No entanto, hoje, sexta-feira, saí demasiado tarde de casa para assistir a um espetáculo no número 99 da Calçada Marquês de Abrantes, Lisboa. Além do mais, o excesso de trânsito, a falta de estacionamento e a minha inexistente vida noturna dificultaram-me a tarefa de dar com o lugar...
De qualquer modo, cheguei às 21 horas e cinquenta e cinco minutos. A porta encontrava-se fechada, e sob a campainha uma pequena nota: SILÊNCIO POR FAVOR. O ESPETÁCULO ESTÁ A DECORRER. 

Compreendo que não se deve perturbar os artistas, mas...

26.3.15

A lógica das hipóteses sem regresso

Os OUTROS apagam-se enquanto o EGO CRESCE... Se nada existe para além da vida breve, de que serve respeitar o que está para além do EGO?
O plural NÓS esfuma-se a cada dia que passa, apesar da multiplicação das redes sociais... A partilha é virtual e, como tal, o EGO não vai além da simulação... A imaginação deixa-se subordinar à lógica das hipóteses sem regresso...
Partimos, podemos até ser sorteados para partir, como aconteceu com os jovens alemães, estudantes de espanhol, só que, ao lado, há quem determine que aquela é uma viagem sem retorno...
Infelizmente, quando o EGO CRESCE, os OUTROS apagam-se... 
E o pior é que esta situação acontece todos os dias e por toda a parte. 

25.3.15

O Angolano que Comprou Lisboa, de Kalaf Epalanga

Este rabisco é dedicado ao Rafael Marques (nesta hora de provação) e ao Kamba Reis...

Tenho estado a ler com bastante interesse o livro de crónicas de Kalaf Epalanga, O ANGOLANO QUE COMPROU LISBOA (POR METADE DO PREÇO) e, por coincidência, deparei com uma extensa entrevista publicada na revista Tabu... Pode dizer-se que Kalaf, na entrevista, não desmente o ar desempoeirado e atrevido que podemos respirar em cada uma das suas 55 crónicas...
Aprecio na escrita de Kalaf a concisão e, sobretudo, a regeneração da língua portuguesa ao introduzir, de forma plástica, termos oriundos de diferentes quadrantes geográficos e artísticos, designadamente das áreas da moda e da música de inspiração angolana... 
Em termos temáticos, estas crónicas bem poderiam ser objeto de apreciação dos nossos estudantes pela desenvoltura com que Kalaf aborda as questões da identidade angolana, da migração, da discriminação, do provincianismo e do cosmopolitismo, sem esquecer o olhar apaixonado pela cidade de Lisboa... 
Kalaf Epalanga Alfredo Ângelo, aos 37 anos,  revela em cada uma das suas crónicas uma atitude crítica fundamentada, avessa ao racismo, à ignorância e ao mujimbo...
Das muitas passagens que aqui poderia citar, registo aquela que me parece mais adequada, nos dias em que Herberto Helder se tornou notícia:

«E está provado, o belo é aquilo que ninguém percebe, como filmes da Nouvelle Vague, jazz, arquitetura, arte contemporânea... Só os jovens acham feio aquilo que não entendem; os que têm juízo ou vergonha na cara preferem esconder a sua ignorância com expressões do tipo "sim, muito interessante", "profundo", genial" ou ainda o jargão "bué da fixe". Raras são as vezes que admitimos não entender patavina sobre determinado assunto e pedimos para que nos elucidem.» op.cit. pág. 173-174.