7.3.15

O estoicismo

Apesar de valorizar o estoicismo, hoje sinto-me como aquele homem que foi submetido a tratos de polé sem saber porquê.
Gastou o dia preso a uma cadeira, às voltas com uma sintaxe de trapos... e, ao mesmo tempo, ainda foi abençoado com umas tantas acusações de fazer um ladrão corar de vergonha.
O estoicismo é uma filosofia recomendada para estas situações, isto se o coração ainda tiver músculo suficiente para não se apagar, que as pernas, essas já deixam muito a desejar... 

A expectativa do estóico é que ainda possa viver um novo dia! Sejamos estóicos!

6.3.15

A culpa é do carteiro!

Infelizmente, o carteiro nunca se esquece de me entregar as missivas da Segurança Social e das Finanças. Além disso, como sou um cidadão em linha, estes serviços também não se esquecem de me enviar uns tantos emails a recordar-me as minhas obrigações, sem esquecer os meus familiares...

Quanto ao primeiro ministro, nunca me passou pela cabeça que o carteiro se esquecesse dele e, sobretudo, que ele tenha levado uma vida tão fora de linha...

Só não entendo como é que paisano tão anónimo e despojado conseguiu chegar a primeiro ministro!

5.3.15

Não está fácil!

Marco Aurélio (Livro VIII, 5) recomenda: «Primeiro não te deixes perturbar, porque tudo se passa de acordo com a natureza universal e em breve não existirás, como já não existem Adriano e Augusto.»  
Não fossem as grilhetas que nos prendem por fraqueza antiga, a recomendação seria apaziguadora. Mais do que o futuro é a engrenagem que nos perturba, são os elos e os laços que nos martirizam. 
Por outro lado, «fixos os olhos na tarefa» que nos resta, nem sempre é fácil observá-la bem, e executá-la «da maneira que nos pareça mais conforme à justiça», porque, na verdade, nunca sabemos o que é a justiça - em certos dias, parece uma enguia que nem com uma folha de figueira é possível agarrar.
Por fim, Marco Aurélio recomenda que façamos tudo «de bom humor, com modéstia e sem astúcia». Marco Aurélio deve ter sido um santo homem, nós é que não. Com tanta víbora nos matos, como é que podemos encarar estes dias «de bom humor, com modéstia e sem astúcia»? 

4.3.15

Pobres estrelas cadentes!

Muita diligência e pouca aprendizagem!
Em resumo, o cansaço não tem justificação, porque mais vale um prato de lentilhas do que uma página de José Saramago.
A expectativa da viagem esgota-se na preocupação de a encurtar e, sobretudo, na vontade de nada saber... as palavras vivem assombradas pela vacuidade, mas não incomodam, são satélites à deriva em torno de pequenas estrelas fátuas que cruzam o firmamento em bebedeiras de amuos e de responsos...

Por comodismo, as estrelas andam há anos a aprender a escrever textos de 200 a 300 palavras e, como castigo, são ritualmente obrigadas a encontrar argumentos e respetivos exemplos, enquanto «o diabo esfrega um olho», sem qualquer proveito e relevância... Na verdade, há muito que as estrelas deixaram de pensar!

Sabe-se que nas madraças, o pensamento é blasfémia, filha da proscrita Agar, e que Ismael só sabe recitar; e esconde-se que nas nossas escolas, as estrelas nem recitar sabem quanto mais blasfemar... E tudo porque ninguém as ensina a pensar... Pobres estrelas cadentes!    

3.3.15

Passos previsto por Marco Aurélio

« Os factos consequentes têm sempre com os precedentes um laço de afinidade. E não é como uma série de membros isolados, que teriam somente um carácter de necessidade; é um encadeamento lógico e, tal como os seres estão ordenados harmoniosamente, assim os acontecimentos manifestam não uma simples sucessão, mas ainda uma admirável afinidade.» Marco Aurélio, Pensamentos Para Mim Próprio, Livro IV, 45.

Passos não leu Marco Aurélio, mas é um homem sério que age sempre de acordo com o grau de conhecimento que tem em cada momento. Paga o que deve, mesmo se a dívida tiver prescrito, e por isso somos governados por um homem que não é perfeito, mas dorme como um justo.
A Igreja de Passos sabe que até Jesus Cristo hesitou antes de cumprir a vontade do Senhor e, como tal, mantém-se fiel à espera da ressurreição.
Aleluia!  

2.3.15

Pierrot que nunca ninguém soube que houve

1893-1970
Ontem, fui visitar a exposição ALMADA NEGREIROS - Pierrot que nunca ninguém soube que houve -, no Museu de Eletricidade. 
Apesar de os quadros mais importantes se encontrarem no Museu de Arte Moderna (FCG), a exposição dá conta de um percurso nem sempre conhecido e, sobretudo, do falso lado ingénuo do autor multifacetado, cujo saber crítico e pluridisciplinar é posto em relevo no acervo apresentado. Um estudioso incontornável do "fazer" do outro e, ao mesmo tempo, criador de uma obra singular que, apesar de modernista, não descurava a tradição portuguesa e europeia.
Pena é que, em nome de um cânone reducionista, a sua obra esteja cada vez mais esquecida, nomeadamente nas nossas escolas!

A exposição está aberta ao público até 29 de Março de 2015. A não perder! A entrada é gratuita.

1.3.15

De que tem mais medo?

«Tornou Blimunda a perguntar, De que tem mais medo, padre Bartolomeu Lourenço, do que poderá vir a acontecer, ou do que está acontecendo...» José Saramago, Memorial do Convento, 16ª edição, pág.192

Na verdade, o futuro não me pode amedrontar. Só o presente, receio, pois subo e desço e mais não sinto do que mediocridade, do que perversidade...
Se fosse à pesca, talvez pudesse sentar-me, em equilíbrio instável, e esperar que a tainha mordesse o isco...