9.12.14

Os telómeros vistos por Miguel Godinho Ferreira

O cientista Miguel Godinho Ferreira obrigou-me, hoje, a pensar no meu próprio envelhecimento. Para tanto bastou que ele, em pleno Auditório da Escola Secundária de Camões, tivesse abordado a questão do «envelhecimento e o relógio dos cromossomas».
Inicialmente, a minha curiosidade (palavra-chave para o cientista) centrava-se na compreensão do termo 'telómeros', só que com o desenrolar do colóquio ( de facto, M.G.F. procurou dialogar com a adolescente assistência), comecei a perceber que poderia contrariar uma decisão por mim tomada dias antes. Certamente por ignorância, decidira não tomar umas enzimas que me tinham sido prescritas...
Embora o cientista não tenha tido a preocupação de definir o termo 'telómeros', acabei por deduzir que a telomerase designa uma enzima (ou várias?) que controla a divisão celular, limitando a capacidade de regeneração dos tecidos, o que causa o envelhecimento do indivíduo.
(...)
Paradoxalmente, houve alunos de Biologia que não apreciaram o colóquio. Viram-no como um exercício especulativo e não como um tempo em que o cientista dá conta das suas hipóteses, do diálogo com a comunidade científica internacional,  das experiências em curso, dos resultados obtidos, e do regresso à formulação de novas hipóteses. A estes jovens falta-lhes a curiosidade ou, pelo menos, o motivo, como aconteceu comigo.
Mesmo em termos especulativos, estes alunos não registaram algumas proposições que merecem ser objeto de reflexão:
- Em ciência, a correlação não vale muito.
- A correlação não implica causalidade.
- A causa é algo muito mais complicado.
- A correlação é apenas um princípio.

Subjetivamente, registei a ideia de que já perdi a capacidade de manter os meus telómoros... a não ser que ele ( e a sua equipa de investigadores da F.C.Gulbenkian) produza a enzima necessária à recuperação dos meus cada vez mais reduzidos telómeros... 
  


8.12.14

As analogias são tramadas e fraudulentas

Somos tentados a pensar que existe um estado ou um acontecimento psíquico particular, conhecimento do lugar, que deve preceder todo o ato deliberado de apontar, todo o movimento em direção a algo. Pensem no caso análogo: "Apenas se pode obedecer a  uma ordem depois de a ter compreendido." Ludwig Wittgenstein, O Livro Azul.

As analogias são tramadas e fraudulentas! No caso em questão, apontar-se-ia o lugar referido, porque se estava a vê-lo.

Esta ideia de que existe um estado ou um acontecimento psíquico que deve preceder todo o ato deliberado sempre me atormentou. Nunca compreendi por que motivo quiseram que eu acreditasse na existência de Deus, sem que eu o tivesse visto previamente. Por outro lado, em particular para os céticos como eu, Deus ter-se-á feito substituir pelo filho, Jesus Cristo, para que nós o pudéssemos assassinar. E aí, sim! Tudo seria inteligível, só que os Judeus recusaram-se a ver no «ladrão crucificado» o Messias que, pela calada da noite, se evadiu da cova, ressuscitando...

(Esta ideia da ressurreição, que eu tomara como um poderoso mito, tal como o da virgindade de sua mãe, começa a preocupar-me. Parece que já há 4 portugueses mergulhados em hidrogénio,  de cabeça para baixo, e que terão gasto 150 mil euros cada um para assegurar o regresso à vida, logo que a ciência resolva o problema da morte. Cheira-me a intermitências da morte!)

Este parêntese tem a virtude de, por instantes, me fazer acreditar no Quinto Império e no seu imperador, Sebastião de Alcácer..., oficialmente desaparecido no areal Quibir, embora desconfie que tenha pago uma bela maquia para que o submetessem a congelamento criogénico. ( maquia: reminiscência árabe)

Quanto à obediência a uma ordem também tenho dificuldade em aceitar que haja uma qualquer relação com a compreensão prévia...
Em termos gramaticais, estamos a viver num tempo em que as correlações são desprovidas de sentido.

A talho de foice, termino com uma nova acusação a José Sócrates. Se ontem, uma casa ardeu perto do Estabelecimento Prisional de Évora, a culpa só pode ser dele. Afinal, já todos o conhecíamos como incendiário... E se ele se encontra detido perto da casa ardida, quem é que lhe poderia ter ateado o fogo?

PS. Não sei se reencaminhe este "post" para o Facebook! Estou a lembrar-me do conselho do Sócio da Área de Trabalho e Contencioso Penal de PLMJ, José Ricardo Gonçalves, no jornal i:  O Facebook - quem avisa amigo é!


7.12.14

A Ilha dos Panças


Sancho. Que quereis ao Senhor Governador?
Homem. Senhor Governador, peço justiça.
Sancho. Pois de que quereis que vos faça justiça?
Homem. Quero justiça.
Sancho. É boa teima! Homem do diabo, que justiça quereis? Não sabeis que há muitas castas de justiça? Porque há justiça direita, há justiça torta, há justiça vesga, há justiça cega e finalmente há justiça com velidas e cataratas nos olhos. 

                        António José da Silva, Vida do Grande D. Quixote de La Mancha e do Gordo Sancho Pança

Mário Soares celebra 90 anos. Talvez bastasse dizer que Mário Soares faz 90 anos, mas não, é necessário assinalar a data, porque, entre outros feitos mais ou menos verosímeis, é lhe atribuída a paternidade desta democracia que levou preventivamente Sócrates à cadeia, que leva preventivamente milhares de outros cidadãos a esperar que a Justiça apure a respetiva acusação...
A diferença entre os políticos e a generalidade dos cidadãos é que compete aos primeiros zelar para que a igualdade não seja apenas uma figura de retórica.

Neste dia 7 de Dezembro de 2014, há quem celebre a democracia em lautos banquetes enquanto que muitos portugueses esperam pelo final do repasto para colherem as migalhas...

   

5.12.14

Num beco sem saída?

Hoje vi parte do filme O Passado, do iraniano Asghar Farhadi, e fiquei perplexo: não se enxerga qualquer futuro e o próprio presente é insuportável, porque incapaz de se libertar do passado. Neste caso, dos passados, porque cada personagem tem o seu e nenhum coincide verdadeiramente. Daí a suspensão e a suspeita que vai arrastando todos, ia a dizer para um beco sem saída, mas tal não acontece porque cada ser tem o seu beco...
Ontem assisti a uma apresentação de um livro de poemas, e a apresentadora deixou-me suspenso, porque não viu o futuro nos versos do poeta-amigo. Talvez um brilhozinho e nada mais! E a divina leitora acabou por concluir que a poesia  nada nos oferece que tenha futuro, a não ser a própria, a poesia, em casos excecionais... Naquele momento, pensei, de imediato, nos profetas, nos poetas -profetas! E lembrei-me dos épicos e daqueles prosadores-poetas que  iam ao ponto de escrever a História do Futuro. Entre todos, o «imperador da língua portuguesa, o António Vieira! Fiquei um pouco triste, talvez seja mais correto dizer, melancólico, porque o amigo António Souto não teria esse dom da profecia. Afinal, este António parece ser mais um poeta lírico!
Entretanto, no meio de diversos afazeres escolásticos, decidi fazer uma daquelas leituras que a poucos lembram. Pus-me a ler O LIVRO AZUL, de Ludwig Wittgenstein. Por isso, desde ontem que não deixo de pensar na seguintes proposições inspiradas nas preocupações de Santo Agostinho que, noutro tempo, se terá interrogado se é possível medir o tempo:
  
« O passado não pode ser medido porque passou, e o futuro não pode ser medido porque ainda não existe. E o presente não pode ser medido porque não tem extensão.»

Quem, com tudo isto, se encontra num beco sem saída sou eu. Ou será que, afinal, o passado pode ser dito porque passou e, na verdade nada pode ser dito do que não tem extensão e do que ainda não existe?  
    

4.12.14

Não posso deixar de pensar


«Digamo-lo sem rodeios: o "sistema" vive da cobardia dos políticos, da cumplicidade de alguns jornalistas; do cinismo das faculdades e dos professores de Direito e do desprezo que as pessoas decentes têm por tudo isto. De resto, basta-lhes dizer: "Deixem a justiça funcionar". »

Embora não saiba quem tem razão, se a acusação se o arguido, não posso deixar de pensar que José Sócrates acusa os jornalistas de cumplicidade e utiliza a comunicação social como suporte para a sua defesa...
Não posso deixar de pensar que José Sócrates acusa as faculdades e os professores de Direito de cinismo, e procura nas faculdades estrangeiros o prestígio académico que desde sempre lhe faltou...
Não posso deixar de pensar que José Sócrates censura a cobardia dos políticos, e que os seus melhores amigos fazem quase todos parte dessa classe política que, hoje, se desloca em peregrinação ao estabelecimento prisional pressionando a decisão judicial e alimentando um folhetim comunicacional  inócuo...
Não posso deixar de pensar que José Sócrates, ao referir-se ao desprezo das pessoas decentes, esquece o tempo em que a indecência grassou no país que nem cogumelos...
A pobreza da maioria dos portugueses resulta da ação política de governantes que sempre desprezaram as pessoas decentes. E como José Sócrates bem sabe, ele foi primeiro-ministro de um país em que os recursos financeiros e económicos  foram esbanjados ou capturados por grupos que cresceram à sombra do poder.
Com razão ou sem razão, José Sócrates bem poderia aproveitar o tempo para escrever um livro sobre o modo como os tentáculos se foram preparando para asfixiar a cabeça do polvo.

3.12.14

Fazer pensar

«Se a leitura não fizesse pensar, não seria um prazer nem seria um meio de cultura.» Álvaro Ribeiro, in Sorer Kierkegaard, O Banquete.

Há quem leia pouco e chegue a confessar que nada lê. Por outro lado, do pouco que se lê, a preferência vai para o entretenimento gratuito ou para a boçalidade bestial - quanto mais calão, melhor!
O enunciado diário vai ficando reduzido ao bocejo e à latrina! 
Incapaz de argumentar, por ignorância da matéria e por ausência de objetivos, o  português  simula argumentos que, na verdade, confunde com exemplos, quase sempre selecionados no que de pior existe em cada um de nós...
(...)
É verdadeiramente desesperante observar o discurso dominante, mesmo entre as chamadas elites. Ainda há poucos minutos, ouvi um distinto comentador exclamar alto e bom som que o país está condenado porque os governantes, nos últimos anos, destruíram a classe média. Pacheco Pereira apregoava do púlpito ao país que, sem classe média, não é possível a recuperação da economia...
Esta ideia da classe média é tão retrógrada!
(...) 
Já um outro pensador lusitano, alter ego do Presidente da República, ao refletir sobre o fenómeno da emigração, não tanto sobre as causas mas, sim, sobre a diminuição das remessas e sobre o perigo dos jovens não quererem voltar, assegurava que a Presidência irá promover um congresso primaveril, em 2015, que apele ao retorno, de preferência, com mais saber e experiência e, sobretudo, com as malas cheias de libras, dólares e euros... No essencial, este ilustre pensador até defende que partir faz bem à alma lusitana.  

1.12.14

Já vos disse? Os valores e os heróis

Já vos disse? É assim que o Pai / Presidente Barack Obama se dirige às filhas, apresentando-lhes, em tom litúrgico, os valores e os heróis que melhor os consubstanciam: a criação ( Georgia O'Keiffe); a inteligência (Albert Einstein); a coragem ( Jackie Robinson); a cura ( Touro Sentado); a música (Billie Holiday); a valentia (Hellen Keller); o sacrifício ( Maya Lin); a bondade ( Jane Addams); a resistência ( Martin Luther King Jr.); a aventura (Neil Armstrong); a fonte inspiradora (Cesar Chavez); a família (Abraham Lincoln); o orgulho de ser americano (George Washington)...
E Barack Obama, em DE TI EU CANTO - Carta às minhas filhas, termina: 

             Já vos disse que todos são uma parte da vossa identidade?

Uma bela mensagem. muito bem ilustrada por Loren Long, que, infelizmente não inspira, neste tempo de provação, o nosso Presidente. Hoje, dia dos Restauradores, poderia ter aproveitado para escrever uma Carta aos netos...
Todos sabemos que o nosso Presidente prefere um enunciado ligeiramente diferente: BEM VOS AVISEI!