30.11.14

Como uma abelha

«Nascemos sem saber fallar e morremos sem ter sabido dizer. Passa-se nossa vida entre o silencio de quem está calado e o silencio de quem não foi entendido, como uma abelha em torno de onde não ha flores, paira incognito um inutil destino.» Pessoa Inédito, No Jardim de Epitecto

Lembro agora que Fernando Pessoa nos deixou a 30 de novembro de 1935. O Tejo continua o mesmo do amanhecer e do entardecer do Livro das Horas. Embora o Poeta tenha dito que do Tejo se vai para o mundo, a verdade é que o Tejo no-lo devolveu inteiro para que nele pudéssemos descansar nas boas e nas más horas...
Com ou sem flores, continuamos à espera que o gládio se ilumine e nos faça descortinar a praia da Verdade. De tempos a tempos, o sino tange, e nós apressamos os passos inúteis...
Queremos falar, mas não sabemos o que dizer. Esvoaçamos apenas!

Lembro agora o tempo em que, juntos, encetámos um caminho sem lhe conhecer o rumo. Deu os frutos esperados da «besta sadia». Já decorreram 40 anos em que fomos falando mas, na verdade, ainda não sabemos o que dizer... e provavelmente nunca saberemos. A vida não passa de um INTERVALO!

29.11.14

Vergonhoso



Moins d’étrangers c’est plus écologique

Na Suiça, tal como no Reino Unido e em França, cresce o sentimento de rejeição do emigrante ... 

Paradoxalmente, na Suiça, não há nenhum movimento que incite os suíços a rejeitarem os depósitos bancários estrangeiros: 


Menos capitais estrangeiros é mais ecológico!

28.11.14

Apologia da indigência

O indigente é, por definição minha, alguém que vive em estado de penúria voluntária.
O indigente pode ser inteligente, loquaz, visionário, sedutor. Só não pode Ter!
O indigente não tem casa nem tem conta bancária, abdica de qualquer pensão, embora não despreze viver numa bela mansão...
Despojado de bens materiais, o indigente cultiva a amizade de Platão e senta-se à mesa de seus iguais. Por isso não espanta que seja acusado de viver do que não é seu e de ser misógino, apesar de venerado pelas mulheres...

O indigente detesta ser esquecido e por isso ama a praça pública, o palco e o poder. Qual Cristo está pronto para beber o fel até à última gota desde que possa regressar, não interessa o dia nem a hora...
O indigente é inteligente e misógino. Só não paga impostos porque, por definição minha, não pode TER.
O indigente estuda Filosofia e Ciência Politica porque só pode SER.

26.11.14

O amigo do amigo "amordaçado"

De certo modo, os amigos mudaram-se para a vida virtual. Basta contar os amigos que cada um de nós tem nas redes sociais! Deles pode esperar-se tudo, até o silêncio absoluto. Seguem-nos ou ignoram-nos de acordo com as conveniências... E não se pode censurá-los por tal. É um novo direito que, pela sua natureza, não impõe qualquer dever.
Ora, hoje, um daqueles amigos, que continua bem agarrado à vida real, decidiu visitar outro amigo colocado atrás das grades por tempo indeterminado. E claro, o inevitável aconteceu: o amigo de seu amigo aborreceu-se com as perguntas da comunicação, dita social.
O amigo levantara-se cedo, porque tinha um dever a cumprir: dar um abraço ao amigo "amordaçado". Na verdade, Mário Soares vê José Sócrates como outrora via Portugal. 

E não se pode levar a mal! Mário Soares continua a viver no mundo real, enquanto que a comunicação social vive no mundo virtual. Ele tem o dever de visitar o amigo. Por seu turno, a comunicação social age de acordo com as suas conveniências...

Nota de rodapé: Já alguém verificou a hipótese da comunicação social colocar escutas por conta própria?

25.11.14

A pensar no ...

44 = equilíbrio, sensatez, espírito filosófico. Disponibilidade para ler livros cartesianos, em francês! Esta tendência revela, no entanto, um espírito um tanto fin-de-siècle ou, talvez, 68, que, se fizermos as contas, nos traz... a 2014.
Bem vistas as coisas, foi no dia 24 que o suspeito ficou a saber o que o Céu Sereno lhe destinou! Assegurado o ócio, espero que José Sócrates o saiba desfrutar, (re) lendo, por exemplo, as estâncias 96 a 99 do Canto VIII de Os Lusíadas, e tendo presente a seguinte passagem da APOLOGIA DE SÓCRATES, de Platão:

 «Atenienses, se me tivesse dedicado à política, já estaria morto há muito tempo, sem ter sido bom, nem para vós, nem para mim próprio.
Não vos amofineis, por favor, por me ouvirdes falar a verdade: nenhum homem pode evitar a condenação à morte se, com franqueza, se opuser, ou a vós, ou à populaça, se procurar impedir que, no Estado, se cometam atos injustos e ilegais. Quem combate de verdade pela justiça, se desejar viver algum tempo, tem de se remeter à vida privada, e evitar a participação na vida pública.»
  

24.11.14

Dentro de momentos...


O filme segue «dentro de momentos». São 20 horas e 45 minutos e há mais de duas horas que o País espera por uma decisão... 
Provavelmente, a culpa é da mediatização!
No entanto, resta saber se são os media os culpados desta espera inclassificável ou se é o Ministério Público o verdadeiro responsável por este atraso 'colossal'.

Enquanto espero, vou ler a peça de Samuel Beckett, En attendand Godot. Esta peça foi criada no dia 5 de Janeiro de 1953 no Teatro Babilónia...


VLADIMIR. - Que faire pour fêter cette réunion? (Il réfléchit.) Lève-toi que je t'embrasse. (Il tend la main à Estragon.)
ESTRAGON ( avec irritation). - Tout à l'heure, toute à l'heure.
                                                                                                       Silence.
VLADIMIR (froissé, froidement). Peut-on savoir où monsieur a passé la nuit?
ESTRAGON. - Dans un fossé.
VLADIMIR (épaté). - Un fossé! Où ça?
ESTRAGON (sans geste). - Par là.
VLADIMIR. - Et on ne t'a pas battu?
ESTRAGON. - Si... Pas trop.
VLADIMIR. - Toujours les mêmes?
ESTRAGON. - Les mêmes? Je ne sais pas.

                                                                                                      Silence. 

Dentro de momentos!
Já são 21 horas e cinquenta e cinco minutos.

Decisão: José Sócrates em prisão preventiva! - A medida de coação mais gravosa.

                                                                                                      SILÊNCIO.

23.11.14

É todo um país que espera!


Não sei se Sócrates é culpado ou não!
Sei, no entanto, que os indícios devem ser fracos, caso contrário já todos teríamos conhecimento da decisão judicial...
Nesta situação, não são apenas quatro detidos que esperam. É todo o país que espera.

E, amanhã, o país merecia regressar ao trabalho, tranquilo, convencido de que a Justiça é nobre, não cedendo à tentação de humilhar o suspeito, seja ele quem for. No caso, José Sócrates, ex-primeiro-ministro de Portugal.