3.10.14

OS LUSÍADAS, um ou dois novelos...


De vez em quando, surge um aluno mais corajoso que me pergunta se no meu blogue haverá alguma coisa que ele possa aproveitar.
Como resposta, limito-me a sorrir e a encolher os ombros. Que outra resposta lhe poderia dar?

Hoje, contudo, vou explicitar o modo como decidi "salvar os náufragos" que se atreveram a colocar o pé nas estâncias 92 a 100 do Canto V de OS LUSÍADAS. (Uma boa parte dos alunos, só agrilhoando-os à nau é que começaram a copiar tópicos do quadro, sendo preciso ameaçá-los que ou liam os versos ou não havia registos para ninguém...)

Comecei pela ideia de que cada estância é composta por um ou dois novelos que é necessário deslindar, isto é, encontrar uma das pontas do fio e segui-la, de forma linear.  Para não destroçar os especialistas em análise literária, trouxe à rede a palavra-chave, a necessidade de encontrar a clave de cada novelo.
A estância 92 rapidamente virou mar de sargaços, mar em que o novelo se desfazia a cada tesourada, tal foi a dificuldade em descobrir o que o Poeta parecia ter escondido: «Qualquer nobre trabalha que em memória / Vença   ou iguale os grandes já passados.»  Por outro lado, o individualismo contemporâneo tornou-se num óbice à compreensão de que honrar a estirpe exige que o indivíduo procure a FAMA não para si mas para a linhagem, a família ... Outro escolho foi compreender que o herói, seja Alexandre Magno, Augusto ou Vasco da Gama, só atingirá a IMORTALIDADE se encontrar quem possa cantar - Homero, Virgílio, Camões... 
Encontrada a primeira chave, pareceria que o avanço na estância 93 seria fácil: Entre Aquiles, Alexandro, Milcíades, Temístocles, qual deles seria a ponta do segundo novelo? Não cito as hipóteses apresentadas para evitar equívocos de quem está disposto a não pensar! A resposta simples era Alexandro (Alexandre Magno) que, pela sua condição não precisava de igualar ou superar os outros heróis. Alexandre deleitava-se com a Poesia porque eram os poetas quem poderiam colocá-lo "em memória" - no caso, Homero.
Descobertas duas chaves, talvez pudesse deixar que os alunos encontrassem as restantes. O problema é que a estância 94 (atualmente, estrofe!!!) apresenta dois novelos que é preciso deslindar: 4 versos para o primeiro e quatro para o segundo.  
No primeiro novelo, o nobre ( ver chave da estância 92) Vasco Gama «trabalha por mostrar» que as navegações antigas não estavam à altura da «sua, que o céu e a terra espanta».
No segundo novelo, o Gama sai de cena, pois não esteve à altura de Augusto que soube recompensar «a lira Mantuana» - Virgílio - com «dões, mercês, favores e honra tanta».

Entretanto, os náufragos já começavam a pensar que a estirpe do Gama não igualou nem superou Alexandre ou Augusto no seu amor pelos Poetas que «os libertaram da lei da morte...»

Aberto o caminho, tudo é mais fácil! Será?    

2.10.14

Um novelo sem olhos

Um novelo sem olhos levanta-se a cambalear e, quando se esperava mutismo total, começa a desfiar os horrores do mundo, minuciosamente.
Razões e explicações, em nuvens, cruzam os ares, deixando-nos atónitos e com vontade de chorar. Entretanto, o choro suspenso dilata-nos as meninges anunciando eminências pardas e deixando os telhados sem pardais...
Os corvos estão a chegar!
O resto são notícias de breves vitórias e muitas derrotas. Já começa a cheirar a enxofre e o gás pimenta obriga-me, finalmente, a chorar.

1.10.14

O atleta e a cadeira - incidente crítico


Pensar-se-ia que hoje nada de significativo poderia acontecer na rotina escolar de uma turma do 12º ano de escolaridade: o atraso na chegada e a pressa de partir mantêm-se.
Convém clarificar que tal não acontece com todas as turmas. No entanto, as turmas de Línguas e Humanidades insistem em desprezar a pontualidade e o rigor, e em apostar na vulgarização e na boçalidade. Claro que há exceções! É em nome dos alunos pontuais, dispostos a aprender que, aqui, registo episódios que não deveriam ter lugar...

Hoje, o atleta, vindo da aula de Educação Física, apresentou-se, arrastando uma cadeira arrancada à galeria, sob o pretexto de que esta era mais confortável - ela permitia-lhe acomodar melhor a coluna que teria sido submetida a esforço doloroso durante um qualquer exercício não especificado...
A cadeira acabou devolvida à galeria...
Entretanto, umas horas mais tarde, descobri que a cadeira fora introduzida na sala sob o pretexto de que não haveria o número necessário de cadeiras na respetiva sala...


30.9.14

Estou farto de engraçadinhos que pedem desculpa


Estou farto de engraçadinhos que só sabem fazer associações espúrias. Vivem da piada boçal, do sorriso trocista, do desconhavo patético... Desprezam quem é zeloso e procura, a cada passo, aprender...
Chegam atrasados, interrompem descaradamente o trabalho em curso, e acreditam que "pedir desculpa" é quanto basta. Nunca ouvem nem registam uma instrução; deixam o manual fechado e fazem-se surpreendidos quando são chamados a modificar o comportamento...
O problema é que são os engraçadinhos que fazem carreira política e acabam por nos governar. E foi na escola, na minha escola, que aprenderam a "pedir desculpa"!
 
Um destes dias, bato com a porta!

29.9.14

O Estado Português contra o Estado Islâmico...


Portugal prepara-se para participar na coligação contra o Estado Islâmico. Quer dizer: o Estado Português decide participar na coligação "mundial" contra um "estado" que não existe...
E não existe porque, pelo menos, na primeira fase, o que está em causa é a ocupação de território, vitimando todos os que encontram pelo caminho.
O que significa que há um território "indefeso" porque os Estados que, supostamente, deveriam assegurar a sua defesa são fracos...
E é essa fragilidade dos Estados que é preocupante, porque ela é cada vez mais dependente da coligação mundial de interesses. 
 
A Nação Portuguesa é, hoje, dirigida por um estado fraco, que abandona grande parte do seu território, tornando-o indefeso, deixando-o ao alcance de uma qualquer horda que resolva ocupá-lo.
 
O que eu não compreendo: Como é possível aceitar falar de um "Estado Islâmico"? Será que este novo Estado é construído por uma Nação Islâmica?  Qual é verdadeira causa da ação de destruição levada a cabo no Oriente Médio? 
O que eu desconheço: Quais são os verdadeiros efeitos da ação de bombardeamento aéreo levada a cabo pela Coligação?
O que me deixa perplexo: Todos dias se fala do Estado Islâmico como um identidade, mas ninguém se preocupa em criar um Estado Arménio, um Estado Curdo? Será que o Estado Português tem alguma coisa a dizer sobre esta matéria ou, apenas, está interessado em obedecer às ordens da Coligação?
 

28.9.14

A desilusão do povo português

A maioria dos comentadores políticos repetem diariamente que o povo português está desiludido com a classe política.
Duvido! Se tal fosse verdade, o povo ter-se ia revoltado e teria deitado pela borda fora políticos e apaniguados.
O desfasamento entre a ação política e o interesse doméstico e pessoal é de tal ordem que até os anarquistas foram varridos das ruas e das páginas da imprensa escrita e do audiovisual...
A desilusão pressupõe um período de ilusão, de sonho, de utopia. Ora, as últimas gerações mais não têm feito que revindicar uma fatia do bolo...
E o dia de hoje não altera nada! A corrida continua a ser à partilha do orçamento! Quanto ao povo, este dorme, dorme, dorme... 
 
Quem está desiludido, sou eu!
 

27.9.14

Carlos Moedas e os brinquedos para porcos…

Vivo há anos preocupado, nem vou dizer com o quê, porque ninguém quer saber das minhas preocupações. Mas como não quero ser egoísta, estou aqui a pensar no azar do futuro  comissário europeu Moedas que vai ter de distribuir 80 mil milhões de euros, ele que se habituara a cortar, a torto e a direito na fazenda do vizinho.

Parece que na próxima 3ª feira, Moedas terá que responder a 40 perguntas para ficar a saber se é o homem adequado, não para cortar, mas para distribuir tantos milhões pela ciência, pela  investigação e pela inovação. Cavaco já disse sim – que era o melhor que nos poderia ter acontecido! Pelo que lhe disseram, porque, de verdade, há muito que não tem certezas…

Como acredito que a esta hora Moedas esteja a ser submetido a uma redentora sabatina jesuítica, apelo a que oiça atentamente a emissão desta tarde da TSF, transmitida do Montijo. Acabo de ouvir que uma parte desses milhões pode ser aplicada na produção de brinquedos para porcos…

Se não tiver tempo de ouvir a referida emissão, lembro-lhe que, em Bruxelas, estão reunidos 60 sábios porcinos a discutir o tipo  e a duração dos brinquedos que os porcos podem utilizar durante  os  tempos livres.

Caso uma das 40 perguntas incida na ocupação do tempo dos digníssimos suínos, recordo ao Doutor Moedas que um porco vive, em média, quatro meses. Se retirarmos o tempo que passa a dormir, a comer e (…), ainda sobra muito tempo para brincar. Há, no entanto, uma questão que algum arguto membro do júri lhe poderá colocar: – Será que um porco ficará feliz, melhorando a  qualidade do presunto, se o produtor lhe oferecer uma bola?

Cuidado Doutor Moedas, esta resposta obriga a conhecer os porcos, e não só os dos montados alentejanos. É uma das áreas de investigação mais prementes para a defesa do bem-estar do porco europeu, muito distinto do porco do Tio Sam e do Terceiro Mundo.

A TSF ensinou-me hoje que uma bola não é um brinquedo satisfatório para o porco europeu. Ao fim de 15 dias de brincar com a bola, mesmo se do CR, ele sente-se enfastiado…

Em conclusão, Doutor Moedas, se quer ganhar o lugar não se esqueça do bem-estar do porco europeu e, consequentemente, do nosso e, em primeiríssimo lugar, do seu.