31.12.13

De Negro Vestida _ leitura ingénua

"Não cristalize o leitor esta imagem que tem agora da nobre e lutadora Maria de Lurdes." De Negro Vestida, pág. 104.
Meu Caro João Paulo Videira, espero não cristalizar, pois o autor mostra saber criar pontas que, mais cedo ou mais tarde, se vão revelar significativas para a construção da narrativa, para o desenho da intriga de suspense. Por outro lado, o romance começa assumir um ponto de vista que nem sequer a mulher-autor costuma defender com tanta galhardia... Até ao momento, o narrador privilegia o conhecimento do feminino, bestializando o homem, deixando-o às voltas com a sua inconstância e falta de rigor...
Entretanto, como leitor sem diploma que o certifique, se tivesse que reescrever o romance como aconteceu com  Eça de Queiroz, por exemplo, no caso do Crime do Padre Amaro, não sei se não eliminaria algumas considerações de ordem estilística e, sobretudo, algumas passagens que põem a nu a dificuldade em "recriar" cenas de sexo... São pequenos capítulos que me parecem desnecessários ou, pelo menos, que exigem uma subtileza estilística difícil de alcançar... 
Bem sei que o erotismo é coisa antiga, exige outros sabores e perfumes, mas à medida que ia lendo, e sabendo que o autor procura um leitor, comecei a interrogar-me: - Quem é que o autor idealiza como seu leitor?
Meu caro João Paulo Videira, estarei certamente a ser injusto! Mas como o autor exige que o  leitor seja autêntico, aí ficam algumas considerações que se me vão colocando neste atribulado final de 2013.

P.S. Com tanta viagem ao Hospital de S. José, dei conta que nas "rotinas" da família de Maria de Lurdes não há doença do corpo que a ataque!

30.12.13

De Negro Vestida

Meu caro João Paulo Videira, como facilmente compreenderás, a minha odisseia no hospital de S. José não me permite ainda decifrar o título. Na verdade só li 34 páginas! Como neste tipo de narrativas, eu costumo aconselhar os alunos a ler atentamente o primeiro capítulo e, no caso de fadiga intelectual, a ler de imediato o último, fica desde já registado que o texto flui como o Almonda natal do outro José, o Saramago, e por isso não sinto qualquer vontade de ir ler os últimos parágrafos... (com a vantagem de não obrigar a exercícios de retroação por causa da maligna pontuação!)
Repara tu na coincidência, o Saramago da Azinhaga, tão perto de Alcanena e longe da Selva, parece que trabalhou neste hospital, de S. José, que me vai impedindo de continuar a leitura..., mas não posso esconder que a narrativa da doméstica Maria de Lurdes, entre-cruzada com a narrativa da Criação do Mundo, ambas sobrevoadas por um narrador guloso e travesso, me trouxeram de imediato um outro memorial distante da Serra de Aires...
Meu caro João Paulo Videira, vais ter paciência, mas este "esgaravunha" vai necessitar de mais leitura para poder continuar este cavaco, embora comece a ter pena da Maria de Lurdes, pois nos tempos que correm ou ela muda de vida, de carlos manuel, de família... ou acabará por morrer na miséria, pois os passos que nos governam nem uma maria de lurdes tiveram na vida. Ou será que têm?

29.12.13

Nas urgências do Hospital de S. José

Apesar das loas ao Serviço Nacional de Saúde e ao atual ministro, Paulo Macedo, o que pude observar hoje no Hospital de S. José confirma que as pessoas idosas neste país não passam de "objetos" sem qualquer valor. 
Em termos organizativos, apercebi-me que os idosos não beneficiam de qualquer prioridade, ficando mais de uma dúzia de horas à espera dos exames clínicos, mais quatro ou cinco horas à espera dos resultados e sabe-se-lá quantas à espera da decisão clínica... que tanto pode ser o internamento como o reenvio para casa...
E não estou a especular: a esta hora, um familiar com mais de 91 anos está entregue à rotina, à morosidade de um sistema burocrático e desumano. E este familiar não está só; muitos outros idosos esperam anestesiados, uns, revoltados, outros....
Quanto aos restantes, às 21 horas havia pacientes que esperavam desde as 11 horas pela primeira consulta!

A desculpa para a concentração das urgências num único hospital é sempre a mesma: a crise financeira e a  inevitável austeridade! Parece-me, no entanto, que não há desculpa para o desrespeito pelas pessoas...

28.12.13

A proósito de João Paulo Videira



Parece fantasia de criança, mas são pedras! Cercam o marco que assinala o início ou o fim de uma propriedade ao abandono e com uma bela vista para a Serra… Tudo aqui é referencial e, talvez, por isso não seja escrita, a acreditar nas palavras do João Paulo Videira que, hoje, lançou ao público o seu romance Vestida de Negro, Chiado Editora. Diz João Paulo Videira: «Não há nada na escrita que seja referencial!»

De regresso a Lisboa – o lançamento muito concorrido foi em Torres Novas – vim pensando na sentença do novel autor, para concluir que a ambição do grande escritor é apagar toda a referência, erguendo-se como marco ou como o farol da Barra – alusão só entendida para quem compreenda a geografia do prefaciador: Alexandre Ventura.
Entretanto, irei ler o romance para lhe apreciar a estrutura, a coabitação da linguagem crua com a poética, o dizer simples e avesso à critica…

27.12.13

Em três tempos

Esta noite sonhei com a cerimónia de posse de um novo governo! Estranhei que, entre os novos governantes, não houvesse qualquer político português... Eram todos funcionários europeus, altos, esgrouviados, cinquentões... Ainda fixei a vista, mas  nem uma cara conhecida. Perturbado, acordei...

Esta tarde, soube que, em Ancara, é mais difícil obter uma autorização de residência do que perder o emprego em Portugal. Há lá uma embaixada portuguesa que, de momento, nada pode fazer. Talvez à última hora escreva uma carta a explicar à autoridade policial local a situação do súbdito português. Por outro lado, parece haver uma solução para permanecer em solo turco: pagar uma multa de 6 euros diários. E para quem pensa que o inglês é uma língua universal, esqueça! O melhor é começar a aprender turco... lá tudo é turco e em turco... também há curdos turcos...

Agora que escrevo este apontamento, recordo que alguém me disse que há por aí muitos fura-vidas capazes das maiores tropelias para conseguir um minuto de glória. Quanto a mim, continuo encalhado na mesma linha em que me encontrava ontem.
Há, no entanto, uma pequena diferença! Tenho avançado na leitura de um estranho livro de Manuel Tavares Teles, Os Manuscritos de Gertrudes ... diário íntimo e cartas de amor de Gertrudes da Costa Lobo a Camilo Castelo Branco.
Interessante livro sobre o pedantismo, sobre a mulher e a literatura, sobre os preconceitos da sociedade portuense de meados do século XIX, sobre a capacidade de Camilo de fazer pastiche de qualquer registo escrito, sobre o  seu conservadorismo: «Quem é o parvo que esposar-se queira / com literata alambicada e chocha?»


   

26.12.13

Encalhado, em tempo de folga

O Governo deverá cumprir a meta do défice orçamental para este ano e conseguir uma 'folga' até 500 milhões de euros, que poderá ajudar a compensar eventuais chumbos do Tribunal Constitucional (TC) ou deslizes nas contas do Estado em 2014.

Ao contrário do Governo não consigo qualquer folga! Há uma série de questões que tento resolver, mas acabo sempre encalhado! Ando às voltas com um balanço e não avanço porque, procurando o rigor, perco-me na repetição e multiplicidade de ficheiros, mas, sobretudo, perco-me no tempo, na incapacidade de a memória lidar com o excesso de informação. No fundo, é a dispersão que me encalha! 

Bem sei que eu pouco conto e que deveria aplaudir o Governo, pois, de manhã cedo, fui a uma USF - Unidade de Saúde Familiar - e ainda não tinha terminado o pagamento da taxa, e já a médica de família por mim chamava. A consulta decorria cordialmente, não fosse o nível elevado de colesterol, até que solicitei que, nas análises que certamente me iria prescrever, me incluísse a verificação da tiróide... Aí a simpática doutora disse-me que análises só para o ano! Marcou-me consulta para março de 2014, e nessa data prescrever-me-á as necessárias análises. - Porquê? - Até 31 de dezembro, pelo menos, há congelamento da despesa!

Se olhar à minha volta, vejo muita gente com o emprego congelado, com o salário congelado, com a pensão congelada... tudo por causa da FOLGA na meta do déficit!

25.12.13

Para lá do Natal!

Veio o lenhador e cortou o pinheiro!

Veio o paisagista e plantou uma árvore exótica de súbito crescimento!

Veio o vento e deitou ao chão a árvore exótica!

No lugar da caruma, costuma estar um automóvel que, desta vez, rumara à província…

Por perto, dois moldavos olham os beirais…

Um pouco mais longe, cinco chineses seguem indiferentes à palmeira prestes a cair…

E eu sinto-me vítima do Deus que misturou as línguas, tornando-nos inexoravelmente estranhos…

/MCG