7.12.13

Eles falam de cátedra

Ultimamente, o Governo tudo tem feito para desqualificar a Universidade. Redução dos orçamentos, ostracização dos diplomados  e, sobretudo, menorização da formação científica e pedagógica ministrada nas diversas Faculdades...
Hoje, o exemplo vem de cima! O Presidente da República decidiu avançar nova lição, a modo de ajuste de contas: - "Eles falam de cátedra", mas quem tem o conhecimento sou eu...
(A História das relações entre os povos e do papel dos seus governantes passou a ser escrita na rua...)

E nem vale a pena referir os relvas para quem é perfeitamente normal concluir cadeiras sem que elas tenham funcionado... 

6.12.13

Rolihlahla e a gravilha

Durante todo o dia, os presos de Robben Island sentavam-se em filas no pátio e partiam pedras, para as transformarem em gravilha. Entre eles, Nelson Mandela: de 1964 a 1990.

Este Homem partiu a pedra e com a gravilha foi construindo uma nação, uniu os homens que outros homens tinham separado...
Nestes dias em que a rocha se transforma novamente em gravilha, bom seria que os colaboracionistas reconhecessem, finalmente, que estavam do lado errado ou, pelo menos, que ficassem em casa à lareira...
            pois o que possam dizer em louvor do Homem não apaga o que ficou por fazer nem exorciza os crimes que continuam a cometer!

Rolihlahla (18.07.1918-05.12.2013) Que a árvore de onde se soltou o possa acolher enquanto os homens a não desenraizarem!

5.12.13

Desabilitados para a docência


Segundo o aviso do Ministério da Educação e Ciência, os candidatos inscritos para a prova de avaliação de conhecimentos e capacidades, com "cinco ou mais anos de serviço docente" que não a queiram realizar, devem manifestar essa pretensão no portal http://pacc.gave.min-edu.pt, a partir de sexta-feira e até às 18:00 de segunda-feira.

Depois de um secretário de estado da educação ter afirmado que o Governo conta com os professores e que tudo faz para os dignificar, depois de ter ouvido uma vice-presidente pedir às autoridades que auxiliassem os cidadãos a evacuar a galeria, isto sem falar da advertência da senhora presidente de que a manifestação no interior da Assembleia da República é CRIME... fico-me pelo registo de uma anedota que qualquer um pode ler no MUNDO DO FIM DO MUNDO, de Luis Sepúlveda.

«Um bom amigo meu, um marítimo chilote que merece o título de lobo do mar, trabalhou durante muitos anos como patrão de alto mar no Estreito de Magalhães. O homem pegava no leme de qualquer barco e conduzia-o sem problemas para o Pacífico ou para o Atlântico. Mas o meu amigo tinha o pecado de nunca ter estudado numa escola naval e, para cúmulo dos seus males, era socialista. Quando veio o golpe militar de 73 e os tropas se apoderaram de tudo, a governação marítima de Punta Arenas notificou-o para fazer um exame antes de lhe renovar a licença de patrão de alto mar. Pois muito bem, o meu amigo César Acosta e os seus quarenta anos de experiência sentaram-se diante de um imbecil com o posto de tenente da Marinha. O oficialzito estendeu uma carta marítima do estreito e disse-lhe: «Indique-me onde estão os bancos de areia mais perigosos.» O meu amigo coçou a barba e respondeu-lhe: « Se o senhor sabe onde estão, felicito-o. A mim, para navegar, basta-me saber onde não estão.» ( Traduzido do espanhol - Chile - por Pedro Tamen)

PS. E depois das provas ou do perdão das provas, segue-se o período probatório, em que se pode ser novamente desabilitado...

4.12.13

Determinado o cluster educativo

Por tudo e por nada avalia-se! Houve um tempo em que nada era avaliado. Como diria o paspalho: - Não há fome que não dê em fartura!
A moda está em enviar uma brigada, vulgo troika, "junto de uma unidade orgânica" e submetê-la ao teste da eficácia educativa, isto é, à avaliação dos resultados académicos...
Determinado o cluster educativo, três dias é quanto basta para que três avaliadores oiçam em múltiplos de três os agentes e os pacientes da ação educativa... Aos últimos compete fornecer os dados que legitimem a bandeirinha colocada em montes de reduzido, fácil, médio e elevado acesso. ( Espero que não deixem de fora o Monte da Lua!)
No final, a brigada voltará com um plano de melhoria para que os resultados académicos possam superar os anteriores e, assim, colocar a unidade orgânica na Montanha da Água Lilás...

« A montanha tinha dois cumes principais:o cume Lupi, o mais alto, onde nascia o rio do mesmo nome, e o cume do Sol, no extremo oposto. No meio dos dois cumes, havia um morrozito com pedras, sem plantas nem árvores, apenas capim baixo. Era o sítio mais calmo e perfumado da montanha e dali se podia ver melhor o luar de Lua cheia; por isso era o Morro da Poesia.» Pepetela

Para o caso de a brigada me querer ouvir, aviso que estarei à espera no morrozito com pedras, aquele em que os resultados cedem o lugar às pessoas, mesmo que sejam os espinhos do caminho...


3.12.13

Ao sétimo dia, eles folgam...

Um destes dias, dei conta que há verbos pouco afortunados. Por exemplo: tributar, endividar-se, falir. E quando tal acontece, preferimos abrir falência ou, melhor ainda, decretar falência, pois a responsabilidade deixa de ser nossa, tal como preferimos atribuir a dívida a outrem, em vez de reconhecer que passamos as horas a endividarmo-nos e sempre com a desculpa da tributação, outrora da corte, atualmente dos credores...
Não sei se chegámos ao sétimo dia da criação da dívida, mas consta que hoje é dia folgar: o governo conseguir negociar o adiamento do pagamento da dívida, aumentando o endividamento do país. Neste cenário, seria de esperar que o povo também pudesse viver  com maior desafogo em 2014 e 2015... Mas não! Os cortes já estão inscritos no OGE... e a folga vai servir para alimentar o foguetório eleitoral que se aproxima.
Depois, em 2016, ergue-se a forca. Só resta saber quem será o enforcado! Pode ser que, não tendo o povo folgado, o feitiço acabe por se voltar contra o feiticeiro.
E como não gosto de surpresas, proponho, desde já ao ministro crato, a abertura de um curso profissionalizante de carrasco cujas habilidades tanto podem ser colocadas ao serviço do ministério da justiça como do ministério da agricultura (exemplo de ensino dual, em que eu me encarregarei de explicar a riqueza semântica do carrasco e seus derivados...)

2.12.13

Já não se trata da opus dei, mas da obra de crato

Nuno Crato: - "É nossa intenção que cerca de 50% por jovens do ensino secundário possam estar numa formação profissionalizante e temos aqui um bom exemplo de como os jovens podem sair com boas aptidões para entrarem no mercado profissional de trabalho ou prosseguirem com os seus estudos." (SOL)

Crato quer, o empreendedor sonha, a obra nasce.
Que o ministro queira, eu ainda entendo. Agora que o empreendedor sonhe, duvido. Talvez haja uns tantos a esfregar as mãos de contentamento: a mão-de-obra barata sempre dá jeito... 
Quanto à obra, teremos de esperar, pois já não se trata da opus dei, mas da obra de crato.

Felizmente que temos um ministro que leva o nome a sério. Não lhe faltem o querer, a espada e a auréola!
E talvez valha a pena lembrar ao senhor ministro que para que Portugal se cumpra, não é necessário importar o modelo chinês, alemão ou, mesmo, indiano. 

PS. Com os meus agradecimentos ao senhor Fernando Pessoa...


1.12.13

Programa de Português do ensino secundário em discussão pública

Acordei e fui ler uma segunda vez a Introdução do Programa e Metas Curriculares de Português - um pouco à maneira de Aquilino Ribeiro: ALCANÇA QUEM NÃO CANSA!
Ora na página 6, em tradução livre, os autores do documento citam Shanahan, 2012 - "A recompensa resulta da capacidade de perseverar".
Estou completamente de acordo, só tenho pena que o Aquilino Ribeiro fique de fora. Também ele condenava o facilitismo e, sobretudo, porque mostrou ser capaz de estabelecer conexões que fazem das suas obras exemplo de TEXTO COMPLEXO.
(Por outro lado, estou em desacordo porque não creio que sob a citação deva aproveitar-se para criticar o Programa anterior e os seus gestores - os professores.)
Retomando a noção de texto complexo e a defesa da sua centralidade no novo Programa, registo que os autores reconhecem que ele exige: «vontade de experimentar e compreender»; «existência de poucas interrupções»; receptividade para aprofundar o pensamento». Qual é a novidade? A ideia de que o texto literário se situa no leque dos textos complexos? 
No essencial, estou de acordo, mas será que o MEC tenciona disponibilizar as horas letivas suficientes para compensar «a falta de experiência de leitura», para proporcionar o «trabalho mais lento» necessário à chamada «compreensão inferencial»?
Há ainda um outro detalhe em que vale a pena refletir. A complexidade do texto resulta apenas da sua especificidade ou depende em muito da maturidade do aluno? Para um aluno do 10º ano, a leitura de uma cantiga de amor será menos complexa do que a de um poema de Fernando Pessoa?
No atual contexto ideológico, a disciplina de Português não deveria envolver-se em qualquer projeto de educação literária. A educação é um problema dos pais ou, pelo menos, parece ser.Os pais é que a escolhem a escola! Há que combater o eduquês! Isto é, o professor só deve preocupar-se em estimular a concentração e a lentidão da aprendizagem. 
Eu, no lugar dos pais, exigia educação artística, científica e humanística!
E mais não quero dizer porque ao fazê-lo num blogue, pratico um mau exemplo de texto complexo! Falta-me a visão global... em pedaços me dissolvo ou, talvez, em fragmentos....
(À parte) O último parágrafo da página 9 faz-me lembrar outros tempos: «Em suma, defende-se uma perspetiva integradora do ensino do Português, que valoriza as suas dimensões cultural, literária e linguística...» Só falta a dimensão discursiva!
Finalmente que Projeto de leitura é este que se limita à escolha anual de uma ou duas obras em que os autores portugueses ficam excluídos, em particular os VIVOS?

PS. Já me esquecia de aplicar a minha capacidade (ou será competência?) inferencial: «Como lembra Bauerlein (2011, 29), os textos complexos podem ir desde "uma decisão do Supremo Tribunal a um poema épico ou a um tratado de ética"... (Programa, 6) Os sublinhados são meus...