17.7.12

Despertar temporão

Hoje é um daqueles dias em que acordo antes da hora prevista e não sei se coloque a máscara da caruma se do vagabundo. Um dia em que vou precisar de máscara…

O despertar temporão traz-me de chofre uma experiência de véspera: a autoridade tributária e aduaneira, para efeitos de cobrança, impõe 350 € como mínimo de venda de uma propriedade mesmo que o valor seja apenas de 1 €.

O despertar temporão também me traz uma preocupação: como é que vou reagir à valorização das obras de fachada que me vão querer vender ao longo do dia?

Talvez tivesse sido melhor não ter acordado!

De qualquer modo, caruma ou vagabundo sempre é melhor que “a apagada e vil tristeza” em que soçobramos!

13.7.12

O vagabundo

Quando com uma mão nos dão autonomia e com a outra nos condicionam a decisão, apetece mandar tudo às urtigas e partir para uma longa viagem de vagabundo, a pé e / ou à boleia, mesmo que não seja ao serviço de Portugal.

Um vagabundo do tipo daquele que Camilo José Cela consagra na obra “Vagabundo ao serviço de Espanha”.

O vagabundo de Camilo José Cela, visto ter palmilhado meia Espanha, lido demoradamente as histórias dos lugarejos que ia atravessando, partilhado fraternamente os palheiros que lhe cediam para repousar das canseiras  ou curtir os excessos raros e inesperados do prazer da gula ou do sexo, debatido com cónegos, alcaides, feirantes e prostitutas…, a esta hora já deveria ter acumulado uns milhares de unidades de crédito e ser magnífico reitor de uma qualquer vetusta universidade aristotélica…

De facto, o conhecimento do vagabundo de Camilo José Cela é infinitamente  superior ao saber do excelentíssimo ministro relvas até porque aquele viajante age segundo um princípio  que considero fundamental: – não se atravessar no caminho de ninguém!

E o que me  impressiona no vagabundo é que este pícaro, à força de palmilhar a Ibéria, sabe que em cada aldeola, vila ou cidade  o relvas não é a exceção.

9.7.12

A mão cega dos classificadores



Hoje é o dia em que muitos jovens sentiram que uma mão pesada se abateu sobre eles, apesar de terem trabalhado arduamente ao longo de dois ou três anos.

E essa mão cega ceifou a torto e a direito na seara que lhe foi imposta. 

E é preciso não esquecer que avaliação destes jovens está a ser feita sem qualquer equidade. Classificadores há que recebem formação e classificadores há que são nomeados à pressa!

Quando olho para os resultados que me vão chegando, vou perdendo a fé na idoneidade profissional dos classificadores. Há resultados de sacos de provas que deveriam ter sido aferidos antes de serem publicados. Provavelmente, não o foram porque vivemos em tempo de austeridade, mas esta não destrói apenas o corpo… pode minar, sobretudo, os valores, tornando-nos má moeda.

7.7.12

ÁREA DE NÃO CAÇA



ÁREA DE NÃO CAÇA

Gosto da expressão nominal: é apelativa como se exige! Apesar da proibição, não vislumbrei mais do que duas ou três carochas… Frustrado, segui o caminho serpenteado e privado,  desembocando numas perigosas arribas.

Na verdade, o mar vem devorando a terra, e os pinhais parece que deixaram de combater a erosão.

Em tempo de crise, talvez pudéssemos instalar uns tantos hidrantes… dávamos emprego a certos autarcas, protegíamos a escassa floresta e, talvez, limitássemos a erosão.

Creio, entretanto, que estamos a necessitar de um termo alternativo para “floresta”… Bosque? 

6.7.12

A hidra

Boca-de-incêndio? Tomada de água? Marco de água? Não! Hidrante é que é! Tal e qual como no Brasil… ou será um anglicismo – hydrant? De qualquer modo, ao investigar acabo por entender que o hidrante é um hiperónimo, pois designa equipamento de segurança usado como fonte de água, caindo a boca-de-incêndio sob a sua alçada…
… a alçada da serpente que nos pode devorar ou, então, levar-nos de regresso ao Brasil. O fio de areia, perdida a cabeça, estende-se para Sul, tão azul que nos faz esquecer o ponto de partida.
No meu caso, faz me esquecer que existem instituições que dão cursos em bandeja de ouro ou explica-me por que motivo, tendo um dia sido designado para um júri de apreciação do currículo de uma venezuelana, nunca mais repeti.
Acontece que votei contra as equivalências solicitadas, porque não reconheci à candidata competência em várias matérias e, sobretudo, qualquer domínio da língua portuguesa.
Afinal, isso poderia ter sido ultrapassado com uma classificação de 10 em Língua Portuguesa I, II, III, IV. Será que já alguém solicitou o programa destas 4 cadeiras?  

5.7.12

Vingado

Apesar do aviso, a luminosidade deslumbra-me e obriga-me a pensar no engenho e arte da natureza e, ao mesmo tempo, sinto-me vingado de todas as luminárias laranjas,  verdes ou pardas que nos governam.
( Camping Praia da Galé, Melides)
PS: No dia em que percebi que bastam 4 exames e 32 equivalências para se sair licenciado! 


PS. Não sei se sou objeto de censura, mas com alguma frequência as fotos desaparecem e o autor deste blog é reduzido ao anonimato.
MCG

3.7.12

Alvoroço no 83

Duas malas de viagem (75X35 cm), um casal de franceses (75X65 anos), na zona reservada a idosos e a portadores de deficiência, incomodam apenas até que um robusto invisual entra, esbracejando, no autocarro.

O desbocado invisual arreda tudo quanto lhe aparece pela frente, procurando sentar-se no lugar ocupado pelo francês, e, quando advertido que o passageiro era estrangeiro, desfaz-se em impropérios contra os turistas pobretanas que vêm para cá espezinhar os portugueses…

Poder-se-ia pensar que se trataria de uma altercação de alguém zangado com a vida, quando, subitamente, o sobrelotado 83 entrou em convulsão. De um lado, um grupo minoritário que defendia  e compreendia os pobres turistas; do outro lado, um grupo maioritário que resolveu secundar o invisual, dando expressão, em bom vernáculo, ao impulso xenófobo…

Chegados ao aeroporto, os turistas lá foram apanhar o avião, sempre sorrindo… e o 83 pôde, finalmente, rolar em paz!

Quero crer que estes turistas jamais voltarão a Portugal! Oxalá me engane!