16.1.12

O escritor e o sátiro

Rui Zink foi à Escola Secundária de Camões, no âmbito da Semana das Profissões, falar sobre o prazer de escrever e sobre a precariedade do ofício da escrita. Explicou que escrever é um ato que exige cultura, talento, técnica, persistência e, sobretudo, vontade de desmontar os mecanismos de manipulação das consciências.  Soube escolher os exemplos, adequando-os e explicando-os a um público pouco familiarizado com a profissão de escritor, mas que soube entender o tom satírico, e terá registado a sugestão de leitura dos novos autores portugueses: Hugo Valter Mãe, José Luís Peixoto, Gonçalo M. Tavares, Dulce Maria Cardoso…

Da construção do discurso oral sobressaiu a capacidade de associar dados distantes e insólitos desencadeadores do sorriso dos interlocutores,  reforçando a ideia de que o riso é a melhor resposta à crise que nos é imposta.

No entanto, por detrás do tom jocoso e lúdico, foi possível notar o desencanto de quem sente que os portugueses continuam a reconhecer em Rui Zink não o escritor mas o sátiro.

PS: A iniciativa dos “camonianos” revela que estes jovens têm futuro!

14.1.12

A cinza!

É apenas uma rua sem princípio nem fim, dois ou três portais alçados; por eles sobem (ou descem?) três irmãs declinadas, e desde sempre enlutadas…

Perdidas as três irmãs, ficaram-me, indistintos, vários atalhos… e uma rua sem princípio nem fim!

11.1.12

Atonia

Faltam as cartas e as recomendações

os amigos escasseiam

e as abelhas esquecem a polinização

atónito

raciono as horas

10.1.12

Iníqua justiça

«Porem compre aos Reis seer justiçosos, por a todos seus sogeitos poder viir bem, e a nenhuum o contrairo.» Fernão Lopes, Crónica de D. Pedro I

Fernão Lopes, se hoje vivesse, estaria certamente boquiaberto face a um Estado que permite que os cidadãos da Madeira, ao dirigirem-se a uma farmácia, estejam a ser tratados de modo diferente dos do Continente.

Outrora, o Rei D. Pedro I procurava a todo o custo assegurar a equidade, independentemente dos afectos; hoje, o Presidente da República passa ao lado da iniquidade que grassa neste pretenso Estado democrático, perdendo definitivamente o direito a ser considerado um «homem bom».

« … porem a justiça he muito necessaria assi no poboo como no Rei, por que sem ella nenhuma cidade nem Reino pode estar em assessego.» ibidem

8.1.12

A vertigem do pó

O sonho da ascensão materializa-se, na maioria dos casos, em objetos utilitários e / ou simbólicos. Estes representam o poder e a vaidade humana - e exigem criatividade.

Hoje, ao atravessar a Praça D. Luís (Lisboa), repeti a sensação que, outrora, sentira no Largo Sá da Bandeira (Santarém): a arte, em regra, serve a megalomania do homem e o criador pouco mais é do que um servo.

Entretanto, entre estes dois tempos, experimentei e desafiei a profecia, sem nunca ter realizado a sonhada ascensão familiar, sem nunca ter compreendido a vaidade humana, pois, cedo, saboreei o pó de que somos feitos…

Desfeito o oráculo, a vertigem do pó entranhou-se definitivamente em mim, tornando-me estranho a tudo o que deriva do TER / do PODER.

5.1.12

Quebrada a linha, só a proa esfíngica se inscreve na memória. Quebrada a espera, só a elegia sossega …

A partir de agora, já não há regresso!

(Nova nau se vislumbra no cais da partida…)

2.1.12

Um dia à espera…

Um dia à espera… campos desertos e nas ruas, poucos transeuntes. Só nas superfícies comerciais, na zona da restauração, o movimento de gentes se faz notar. As lojas irremediavelmente fechadas…

Para além da espera, ruínas – prédios que implodem no interior da cidade ; o castelo imponente, encerrado.

Nas Urgências, o povo manso; o resto são regras de manchester (Quem as verifica?) No SO, 2 B, a humanidade presa por fios, ligada à máquina – sinal sebástico do milagre da ciência! A voz ininteligível, a certeza do nome, a VIDA!

Na espera, o chilrear dos pássaros e, neste longo intervalo, algumas ideias. Afinal, o Menino Jesus de Alberto Caeiro é uma adaptação do Cristo lusitano de Guerra Junqueiro. - Quem o diz? - Unamuno, sem ainda ter conhecimento da existência de Pessoa / Alberto Caeiro. Para além disso, a certeza de que não vale a pena construir sobre ruínas!