15.11.11

O sonho e a dor…

«As nações todas são mistérios / Cada uma é todo o mundo a sós.» Fernando Pessoa, D. Tareja, in Mensagem

Com nome próprio só duas mulheres figuraram em Mensagem – duas estrangeiras, as mães fundadoras, D.Tareja e D. Filipa de Lencastre. Por outro lado, anónimas e sofredoras, as mães e as noivas sacrificam-se para que a vontade divina seja satisfeita pelo homem, o infante, a quem compete sonhar, isto é, colocar-se em linha com Deus.

Mas, sem Deus nada acontece!

Portugal entristece porque há muito deixou de ser o povo eleito ou, se reformularmos o problema, porque, afinal , não passa de uma criação estrangeira, a que falta a alma…

Apesar da matriz europeia, Pessoa valoriza acima de tudo o sonho e a dor. Sem eles, o mistério português extinguir-se-á definitivamente.

13.11.11

A escola da pichação

Pichação é o ato de escrever ou rabiscar sobre muros, fachadas de edificações, asfalto de ruas ou monumentos, usando tinta em spray aerossol…

Na Rua das Escolas, Portela, jovens de palmo e meio, dão asas à criatividade: picham os muros mais ou menos recônditos e quebram (e não só) os vidros das viaturas que encontram no caminho da ESCOLA… Quanto à autoridade policial, não vale a pena «apresentar queixa contra incertos», porque a ordem é para arquivar… Será que nas esquadras portuguesas, alguém investiga essa «nobre arte da pichação», alguém segue a «assinatura» destes heróis da periferia? 



11.11.11

Vândalos de palmo e meio…


Adolescentes de palmo e meio divertem-se impunemente a vandalizar a propriedade alheia. Na Rua das Escolas, Portela, os episódios de destruição sucedem-se às mãos de jovens que, desintegrados, decidiram criar a sua própria lei.

Será que estes jovens se comportam diferentemente em casa e na escola? Provavelmente, não. Devem ser os mesmos que não param em casa ou que faltam à escola e cujo comportamento continua a ser desculpabilizado, senão premiado!

Assim, vamos construindo o futuro! E tal como vai o mundo, não me espantará nada que que alguém me venha dizer que já são “heróis” no facebook!

9.11.11

Ilusões!

«Miserum est enim nihil proficientem angi.» Cicero, De Natura Deorum

A cada dia que passa, sinto que há cada vez mais gente atormentada, sem proveito. Ainda se as tormentas significassem desafios, essa inquietação poderia fazer sentido, porque vencê-los significaria superação!

Mas não! O que se passa é bem mais grave: cai-se na escuridão porque os espelhos se quebram, tornando claras as pústulas da ilusão.

E a Ilusão não vale o sacrifício de uma vida!

6.11.11

Cores de outono


Ainda é possível sorrir neste outono. A luz e a cor não defraudam se estivermos despertos! Despertos para cumprir a nossa parte / Que, da obra ousada, é minha a parte feita: / O por-fazer é só com Deus. / F. Pessoa, Padrão, Mensagem.
Por enquanto, a LUZ ainda acende a esperança! E não precisa de ser divina…

5.11.11

Ricos pilhos!

«Senão o lobo, a raposa, o pilho de dois pés zarpavam com a mamata.» Aquilino Ribeiro, Quando os Lobos Uivam.

Já não sei se matamos a língua (e a literatura) para ocultar a  mamata ou se é ao contrário: a fraude impõe a morte da língua.

Termos como comezaima, comilagem, conezia, cunha, expediente, furto, ladroagem, mama, marosca, negociata, nicho, pitança,  prebenda, propina, roubo, sinecura, tacho, teta, tráfico, tribuneca, veniaga são o grito abafado de um povo esbulhado da sua própria voz.

E esse povo, ao perder a língua, morre de vez asfixiado pelos pilhos de dois pés! 

2.11.11

Ociosidade…

Variam semper dant otia mentem – A ociosidade causa sempre desorientação. (tradução livre)

Se para Platão, a ociosidade era necessária à indagação reflexiva e pressupunha riqueza daqueles que dispunham do tempo necessário à investigação e à especulação, para Sá de Miranda e para Camões a ociosidade, alimentada pelos pardaus da Índia, efeminava os espíritos, tornando-os fonte de inevitável decadência.

Por seu turno, Eça de Queirós associa ociosidade a diletantismo e a indigência, condenando impiedosamente os polidores de esquinas que infestavam a capital do reino.

Hoje, a ociosidade deixou de ser um privilégio (conquistado ou herdado) para se tornar condenação de milhões de seres humanos, e que, desorientados, estão prontos a marchar sobre os templos que abrigam os modernos bonecreiros.