9.10.09

O registo detalhado da vida…

Procuro notas biográficas de individualidades várias e apercebo-me que, na maioria dos casos, estas notas são lacunares. Nascemos e saltamos de imediato para a faculdade, amamos a referência a formações obtidas no estrangeiro ou, pelo menos, sob a asa de algum guru estrangeiro.

Emancipamo-nos, libertando-nos da mãe e do pai, ocultando o nome do professor do ensino básico ou secundário, a não ser que este, laureado por uma qualquer causa alheia ao ensino nos possa abrir portas…

Fragmentos mais ou menos extensos do passado evaporam-se, mistificando o leitor incauto…

Riscado o registo detalhado da vida, vejo-me na ideia de que a biografia se tornou caprichosa, no limite inverosímil, para não dizer mentirosa…

Descrentes, amamos, no entanto,  a hagiografia feita da suspensão da história.

O hagiógrafo suspende a História.)

Se, hoje, me dedicasse a esse registo detalhado da vida, o dia seria feito de violência armada, de violência verbal, de irresponsabilidade, de abuso de poder, de deturpação, de manipulação… mas, hoje, Obama viu ser-lhe atribuído o Prémio Nobel da Paz…

6.10.09

A imortalidade ao nosso alcance?

Nobel para a Telomerase – a enzima da imortalidade celular
«Desde os anos 30 que se reconhecia uma função especial das extremidades dos cromossomas. As pontas dos cromossomas estavam protegidas por estruturas a que se deram o nome de telómeros. Mas foi com a descoberta da estrutura do ADN que os telómeros saltaram para a ribalta. O problema que surgiu era simples: se as enzimas que sintetizam o ADN necessitam de uma cadeia molde pré-existente, o que acontece quando chegamos ao fim do molde nos telómeros?»
Depois da teologia nos assegurar a imortalidade, à condição da travessia …, de tempos a tempos, a ciência promete-nos a morte da doença e a abolição do tempo, sem qualquer ritual de passagem… Sempre a esperança de sermos os eleitos! Mas de quem?
No meu caso, registo a fortuna destes novos lexemas: “telómero” e “telemorase”…, e espero que a fortuna seja boa, mas temo que os tempos vindouros sejam de grande aborrecimento, tal como acontecia no paraíso antes da serpente se enroscar no tronco da macieira… 

4.10.09

Uma atitude perversa

No que me diz respeito, ignoro se o velho se atirou ao mar. Receando que a minha aproximação o pudesse assustar, afastei-me sorrateiramente, ficando, no entanto, à espera de notícias, o que não deixa de revelar uma atitude perversa. Sabia, de antemão, que qualquer queda do velho despertaria a atenção dos surfistas, gulosos da onda...
Ao certo, não sei nada daquele velho e por isso não arrisco continuar a narrativa, ciente de que se o fizesse estaria a forjar uma 'estória' que, na melhor das hipóteses, teria como narrador um dos surfistas.

3.10.09

Se me abrir, o que é que achará?

Se você abrir uma pessoa, irá achar paisagens. Se me abrir, irá achar praias”. Agnès Varda

No filme “As Praias de Agnès”, Varda revisita o passado (uma boa parte do séc. XX) e mostra o envelhecimento do presente.  Vemos numa encenação /instalação: a infância, o período como fotógrafa, o casamento com Jacques Demy, o feminismo, as viagens, a família e os filmes. Predomina sempre o ponto de vista de Agnès. Quase que não há opinião. Sobre a ausência do ‘Maio de 68’, responde: - Não estava lá! Assim, cruelmente, porque o seu olhar nos falta…

Um documentário a não perder, apesar de uma ou outra erupção fálica… 

(No meu caso, se me abrirem, encontrarão apenas agulhas mais ou menos secas, algumas com cheiro a mofo. Portanto, mais vale suspender o gesto.)

1.10.09

Ler com…

O primeiro contacto com os jovens de 15 anos, acabados de entrar no 10º ano, mostra-me que Isabel Alçada e Ana Magalhães já passaram à história. Uma Aventura… já não preenche o imaginário destes alunos. Lêem pouco e, quando o fazem, preferem o imaginário anglo-saxónico…

E se a leitura é marginal na ocupação dos tempos livres,  não é fácil perceber em que é que ocupam o tempo. Se ainda vêem televisão, não o confessam e, sobretudo, admitindo que alguns ainda passam uma ou duas horas em frente do televisor, nada aprendem, em termos linguísticos e históricos…

A leitura em voz alta parece cansar estes jovens que não a vêem  como uma forma de partilhar ideias, emoções. Lêem em surdina, de forma arrastada, como se o outro não existisse… e o outro, o colega, não revela qualquer disponibilidade para ouvir, para compreender as palavras, os enunciados, e por isso, na sala de aula, o diálogo torna-se fútil, digressivo…

30.9.09

De regresso à labuta…

Como, actualmente,  o comentário político exige um profundo conhecimento dos bastidores, decidi deixar de falar de quem nos governa. A opacidade desagrada-me. A intriga palaciana aborrece-me e faz-me perder tempo. Mas isto não significa que passe a pertencer ao grupo dos grandes indiferentes.

29.9.09

Mau perder…

Pelos vistos o Presidente tem mau perder. Nem uma palavra sobre os resultados do acto eleitoral do dia 27! De facto, o Presidente desejava uma vitória da ordem cavaquista.
Ofendido e incomodado, lança a atoarda de que o PS o quer prejudicar e ao fazê-lo estará a prejudicar “o supremo interesse do país”. A prelecção de Cavaco ao país ( ou aos jornalistas?) enredou-se numa teia de grande inquisidor, vítima de uma cabala libertina, mentirosa e indecososa. E como os grandes inquisidores, assegurou-nos através de um discurso sibilino que o cepo espera o pescoço de Sócrates…
Cavaco aproveitou  para cavalgar a ideia daqueles que defendem que Sócrates terá que ser afastado do poder o mais depressa possível. ( E ele espera que continuem a ser muitos! De verdade, conta com a união das oposições.)
Não sei se Sócrates tem ou não telhados de vidro, mas desconfio que o Presidente (o cavaquismo) tudo fará para minar a resistência física e psicológica do Primeiro Ministro. Cavaco diz querer ser o Presidente de todos os portugueses, mas não com o actual secretário-geral do PS.
Começo a pensar que é tempo do futuro governo ajudar o presidente a completar o seu mandato, de modo a que possa descansar tranquilo em terras de Boliqueime…