11.8.08

Por terras de Cantábria...

O camping "La Viorna" está situado a 1 Km de Potes, na direcção  do Mosteiro de Santo Toríbio de Liebana (Cantábria..., aliás, hoje, 10 de Agosto, é o dia desta Comunidade!). O antigo mosteiro beneditino vive da "cruz", outrora lugar de suplício e, com a morte de Cristo, tornou-se promessa de vida.

Depois de ter visitado Potes, lugar turístico construído sobre as margens do rio Deva e, pelos vistos, impulsionado pelo marquês de Santillana no séc. XV que, à época, mandou construir a Torre do Infantado, onde provavelmente encerrava os relapsos à justiça que exercia por toda a Liebana,

                                     parti, a pé,  para o Mosteiro de Santo Toríbio, reconstruído nos anos 50/60 do séc. XX, e entregue aos franciscanos. Como não era a (minha) hora, não aproveitei para beijar a cruz de prata dourada, que encerra o lenho original, símbolo da vida. Estou sem saber se Toríbio viveu no séc. V d.C., ou mais tarde, mas parece que terá sido na sua deslocação à Terra Santa que recolheu um pedaço do pau de cedro que suportou a morte de Cristo. O Mosteiro fica situado num lugar altaneiro e estratégico, de onde os monges podiam avistar a tempo os inimigos de Cristo, para além de poderem contemplar o maciço rochoso que os envolve. No Inverno, este lugar seria certamente inacessível!

                                 Agora que o tempo está a mudar, as nuvens abatem-se sobre os Picos da Europa, vejo-me obrigado a confessar que foi necessário aqui chegar para que finalmente lêsse A MORTE DE IVAN ILITCH, de Lev Tolstoi, novela datada de 1886. Uma escrita minuciosa e descarnada que põe a nu a fragilidade do homem no momento de enfrentar a morte. E, sobretudo, reflecte sobre a mentira da vida, num tempo em que ainda se procurava acreditar na verdade.

Da leitura desta obra, retiro a ideia, que me não é estranha, de que a doença nos torna  insuportáveis para os que nos rodeiam (familiares, amigos...). Pior do que o envelhecimento, a doença cria uma hostilidade que nos mina até que "ela" nos sufoque... Tolstoi, nesta pequena narrativa, coloca-nos perante a doença, como eu me encontro perante a grandeza e o peso das montanhas que me cercam...

3.8.08

Crueldades...

De regresso ao Museu da Electricidade. Pretexto: ver as exposições em cartaz e ouvir jazz às 11:30 horas. De facto, já as vira e não me deixara fascinar completamente. Callas não me seduz; sobretudo, a encenação irrita-me.

(Tempos antigos. Um dia, no exame de Francês do antigo 5º ano do Liceu, o examinador resolveu pôr à prova a minha cultura musical e perguntou-me quem era a diva da ópera. Vá lá saber-se como: acertei. A ópera, porém, fere-me os neurónios. Absurdo? Falta de cultura? Rusticidade!)

Quanto à exposição "Vieira da Silva, Arpad Szenes e o Castelo Surrealista", desde que a vi pela primeira vez, fiquei fascinado com o quadro Marie Helène IV, 1942. Tudo o que sei de Arpad Szenes está naquele quadro.

Para me compensar da minha frieza face à ópera, duas senhoras aproximaram-se da exposição "Vieira da Silva..." e uma (a mais nova, talvez filha, como escreveria o Cesário Verde) disse para a outra: «Ali, está uma, mas não tem interesse!», num gesto de enfado.

Às 11:30, começou o concerto. Agradável, suave... mas, quando a melodia se torna repetitiva, entro num processo de vigília... só desperta por duas enormes antenas que me deixaram a pensar se não seriam as mesmas que conheci, noutro tempo, em Murfacém, ao serviço do Exército..., onde passei um ano, no Centro de Informações e Segurança Militar. O CISM era a unidade responsável pelas actividades de criptologia, informações, contra-informação e segurança militar do Exército.

Curiosamente, não me lembro, de nesse tempo, ter avistado do alto de Murfacém, o edifício que acolhe, hoje, o Museu da Electricidade.  Talvez possa, no entanto, explicar essa lacuna: a minha espinhosa missão decorria das 18 às 24 horas e, talvez, a noite caísse mais cedo... ou, então, era a ignorância a falar mais alto!

1.8.08

Os frabões

São ardilosos e vaidosos. Olham-nos lá do alto, com comiseração. O povo nada sabe e devia estar agradecido.

Se o Presidente se interroga sobre a perfídia que lhe quer furtar o pouco poder de que ainda dispõe, o unanimismo responde que o Senhor Presidente acordou tarde e mais valia ter ido de férias.

Em Portugal, o Presidente deve ir a banhos e no tempo de sobra, o melhor que tem a fazer é ajudar a Senhora, sua esposa, a limpar o pó aos presépios.

Afinal, as Ilhas há muito que deixaram de ser nossas! Os frabões aderiram à descolonização mental:

Abaixo os símbolos!

Acima os interesses!

28.7.08

Tristes heróis... os "frabões"!

Exame de Português 2ª fase. Desta vez, a prova permite que os alunos demonstrem que leram O Memorial do Convento. No entanto, muitos deles limitaram-se a ler as "sebentas" e mal. Por outro lado, a pouca leitura torna-se evidente quando lhes é proposto que reflictam sobre a importância do "herói" na vida de cada um de nós... Aos valores, dizem não, obrigado. Um pouco de cultura literária teria dado um resultado menos oco e simplista. Já, agora, acrescento que o M.E. continua, nas propostas de classificação, a atentar contra o rigor e a idoneidade. Sinal dos tempos. Apesar de tudo, os portugueses merecem melhor...

A falta de rigor e a falta de idoneidade derramam-se pela sociedade portuguesa. Bem pode o prof. Freitas do Amaral argumentar que um senhor presidente prevaricou que, de imediato, lhe é retirada a "autoridade" que noutros tempos lhe era reconhecida como discípulo de Marcelo de Caetano. Bem pode o Procurador da República proclamar que, com o fim do segredo de justiça, os grandes beneficiados serão aqueles que têm ao seu serviço os maiores escritórios de advogados que, logo, surgem aqueles que consideram que o senhor procurador está a exagerar como é seu costume. Bem pode o eng. Cravinho protestar contra a impunidade de que gozam os maiores corruptos deste país que, a pouco e pouco, se desenvolve a ideia de que também ele é facilmente "comprado"... afinal, onde é que ele está e o que é que anda a fazer?

Ultimamente, tenho vindo a pensar se isto não é tudo uma questão de assessores, de conselheiros, de consultores, de directores espirituais? Como é que esta pandilha (corja) chega junto do poder? Quem é que representam?

Vivem no silêncio dos gabinetes, trabalham desalmadamente, escondem-se dos meios de comunicação social, mas estão em toda a parte, como os frades do país de Garrett. Serão frades? Serão barões? Ou a mistura de ambos: uma espécie de "frabões"... Uma amálgama inútil, mas presente...

PS: Já agora: O que é que passou pela cabeça do Manuel Alegre, quando recomendou que o José Sócrates deveria ler "As Causas da Decadência dos Povos Peninsulares", do Antero de Quental? E eu que pensava que essa leitura era obrigatória para quem deseje inscrever-se no Partido Socialista!

A não ser que, lá no íntimo, Manuel Alegre sonhe com o dia em que, acabrunhado e desiludido,  José Socrates beba a cicuta ou se suicide na escadaria da sede do P.S.!

21.7.08

Uma entrevista feliz a Félix Bolaños...

Há pessoas tão obcecadas com a carreira que se tornam cruéis e despóticas. Têm uma auto-estima tão elevada que ignoram permanentemente o outro, não tendo tempo para o ouvir, para tentar perceber os seus limites e, sobretudo, a sua idiossincrasia.

O ser humano, por muito desclassificado que o possamos considerar, tem sempre, em si, uma chama que deveríamos alimentar, não a reduzindo a cinzas, a todo o tempo.

Félix Bolaños, responsável pelas escolas da Apelação, na entrevista que concedeu a José Manuel Fernandes e a Raquel Abecassis, surge como um homem que conhece a realidade local, com um pensamento estruturado e alicerçado, pragmático e optimista, que ousou entrar no interior dos bairros e procurar neles as lideranças, de modo a que estas possam ser âncoras na alteração de mentalidades e comportamentos.

Não sei se alguém decidiu propô-lo para professor do ano, mas, na minha modesta opinião, o modo como actua, como analisa e contextualiza os acontecimentos, como encara a comunicação social, é suficiente para que eu registe aqui o seu nome - Félix Bolaños.

Em grande parte, Félix Bolaños corresponde ao perfil que entendo dever ser o do director executivo de uma escola ou de um agrupamento.

Já agora quero acrescentar que, até à data, nunca tinha ouvido falar de Félix Bolaños.

20.7.08

Nem sempre a luz chega onde é necessária...

Em Setembro de 1908, começou a funcionar, a título experimental, a primeira turbina da Central Tejo.

Em febre e olhando os motores como a uma Natureza tropical – / Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e força –“ /Álvaro de Campos, Ode triunfal, 1914

Só, hoje, visitei o Museu da Electricidade, em Lisboa. E é pena porque se o tivesse feito antes, já teria tido a ideia que me ocorreu. Há neste Museu matéria mais do que suficiente para ajudar a compreender a Lisboa do final do século XIX (Eça e, sobretudo, Cesário Verde) e, em particular, a Ode Triunfal de Álvaro de Campos.

E a ideia é simples: proporcionar uma visita guiada aos alunos do ensino secundário.

Começo a pensar que o M.E. deveria apostar num roteiro museológico devidamente articulado com os programas em vigor. Com tantos recursos humanos subaproveitados, não creio que seja difícil criar uma equipa multidisciplinar que se ocupe deste projecto.

/MCG

13.7.08

Aproveitamento de água


Há quem afiance que, aqui, em Pedreiras, já houve mar. Não tenho dados. Pedras, confirmo. Vegetação de tipo tropical, também... e, sobretudo, no passado, havia quem soubesse como aproveitar a água da chuva e, sobretudo, da serra...