31.3.18

Isto não é uma leitura!

A procura de relações intertextuais parece estar na moda. Aqui ficam duas alusões a Fernando Pessoa n'O Vendedor de Passados, de José Eduardo Agualusa: a) «Abomino a mentira porque é uma inexatidão.» - Ricardo Reis; b) Fernando Pessoa transformou a biografia prosaica de um pequeno funcionário de escritório num Livro do Desassossego que é, talvez, a obra mais interessante da Literatura Portuguesa.»
A leitura de José Eduardo da Literatura Portuguesa ( complexo nominal de má memória para o Autor) desloca-se progressivamente de Eça para Pessoa - Um Eça reduzido aos adjetivos: «A luz cai, magnífica, tão forte, tão viva, que parece pousar sobre as coisas como uma espécie de névoa luminosa. - Isso é o Eça»  Um Eça cujos adjetivos são comparados às camisas de Nelson Mandela...
O problema é que para além das relações intertextuais, é necessário conhecer um pouco mais da nomenclatura angolana e sobretudo da  luta pelo poder em 1977 -   Angola 27 maio 1977
Quando se quer o poder e não se tem passado, há que inventá-lo. Esse é o trabalho, bem lucrativo, do genealogista Ventura Félix...
Perplexidades de um leitor desastrado, a quem insistem em dizer que o livro é agradável... não fosse a osga (o narrador)... lagarto, lagarto!

30.3.18

O significado da Páscoa

Tempos houve em que Páscoa significava rancho melhorado...
Entretanto, o rancho melhorou...
E hoje, o que é que a Páscoa significa?
Pausa, festim, correria, endividamento, greves, alarmismo, violência, morte...
E o vento sopra gélido escorraçando a chuva...
Apesar de tudo, tempos houve em que na Páscoa se celebrava a ressurreição de Cristo, só que,  em 2018, este dia é de mentiras...

29.3.18

É possível fotografar o tempo

Vou indo, devagar... não estou a replicar.
Nem já estou a ir. Fui, devagar... a pensar que podemos fotografar o lugar, mas não o tempo... até que, ao fixar-me na cor das flores e na luz da hora, me apercebo que é possível fotografar o tempo, não em absoluto, mas o tempo da florescência e do graffiti - diversos no acontecer...
Tão diversos que, no regresso, me surpreendi com a rapariga que passeava o cigarro, deixando a cadela correr sem trela e, sobretudo, com o idoso que respigava, apressado, os caixotes de lixo sem proveito visível...

28.3.18

De regresso...

Colocar os pés no passado, não.
Ninguém quer ser conversado...
Tento, mas, felizmente, o olvido barra esse ímpeto.
Se me arrisco, não sou o que fui, um estranho irreal... com pressa de regressar ao presente.
Lá no passado, só há lugares vazios
cómodos de se lidar
sob a luz que nunca foi minha.
Por ora, estou de regresso...
ao presente.

27.3.18

Sem nada por dizer

Agora, não tenho nada a dizer. A simples hipótese de 'ter' já é temerosa, pois por mais que se tenha, nunca se sabe por quanto tempo... Se a 'ter' se acrescentar 'dizer', então, a audácia torna-se prosápia...
Raros são os que chegam ao limiar do dizer.
O quê? O que ainda não foi dito ou que, em última instância, já foi esquecido. Não fosse o esquecimento e há muito que o mutismo imperaria...
Na maior parte das situações, o 'dizer' nutre-se do esquecimento - sob a forma de amnésia ou de qualquer outra obliteração...
Agora, de nada serve elogiar o 'ser', pois ao não se saber por quanto tempo, ficamos reduzidos a uma existência inquieta... enquanto não partimos, em silêncio, espero - sem nada por dizer.

26.3.18

Nota social

En Chine, les personnes avec une faible "note sociale" ne pourront plus prendre l'avion ou le train. Nota social

Com tanta gente excelente, não se compreende que nos possamos enganar nas contas. Este plural não é majestático, é apenas uma forma de dizer que não temos nada a ver com erros alheios, europeus seguramente...
A Caixa Geral de Depósitos emprestou uns milhares de milhões de euros. Por razões que só eles sabem, nunca mais lhes pôs a vista em cima, embora esses milhares de milhões circulem por aí e por além... Como consequência, para que o Banco, dito público, no sentido de prostituído, não fosse à falência,  os contribuintes veem-se obrigados a pagar o desfalque - o Estado injeta e nós amargamos...
Agora vem o Centeno dizer que os quatro mil milhões não contam...
Começo a pensar que o melhor é criar uma "nota social", tal como fazem os chineses. Se tal acontecesse, já não seria necessário desperdiçar dinheiro na construção de um novo aeroporto...

25.3.18

Lembra-me o típico regateio

Hoje, terá sido domingo! Ventoso... Não sei se com se sem ramos...
O dia não foi muito diferente de outros - classificação de trabalhos de 'ultima hora'. Tomada de consciência de que, para além do plágio - forma antiga de mobilidade social - se tornou mais fácil produzir uma qualquer apreciação, exposição... Esquematicamente, basta produzir ou copiar uma ideia cuja expressão não ultrapasse 30 palavras... e depois uma longa citação plasmada no centro do documento...
                                            e assim sucessivamente

Confesso que, neste domingo, em certo momento, dei comigo a pensar que a noção de 'critério de avaliação' mudou muito nestes últimos 50 anos... Ainda recordo que o 'critério' era um segredo bem guardado pelo professor. Nesse tempo, a ansiedade só se desfazia quando a pauta era afixada, e a decisão era acatada com um sorriso ou, muitas vezes, com uma lágrima que era preciso esconder...
Hoje o critério é público, mas prostituído. Lembra o típico regateio com os feirantes... 

24.3.18

Dil Leyla

No São Jorge, tive oportunidade de ver o documentário Dil Leyla, como expressão de solidariedade com o quase ignorado, por estas bandas, povo curdo.
Dil Leyla, presidente da Câmara da cidade de Cizre, na Turquia, em zona próxima da Síria e do Iraque, retoma, em 2013, a luta do pai, assassinado nos anos 90..., acabando ela própria por ser presa alguns meses após os kurdos terem conseguido eleger 80 deputados para o parlamento turco... (2015)
O que é claro é que, mais uma vez, a voz dos curdos foi silenciada... e continua a ser eliminada como está a acontecer em Afrin, na Síria, pela mão do Turco Erdogan...

Brinquemos à mão morta

MÃO MORTA, MÃO MORTA

(usando a mão de outra pessoa)
Mão morta, mão morta
Filhinhos à porta
Não tem que lhe dar
Dá-lhe com a tranca da porta
Mão morta, mão morta
Vai bater aquela porta 
(e bate na cara da pessoa com a sua própria mão)

Uma lengalenga aproveitada por José Saramago para desenhar a personagem Marcenda: «e olha fascinado a mão paralisada e cega que não sabe aonde ir se a não levarem (...) mãozinha duas vezes esquerda, por estar desse lado e ser canhota, inábil, inerte, mão morta mão morta que não irás bater àquela porta.» José Saramago, O Ano da Morte de Ricardo Reis, ed. Porto editora, pág. 26.

Marcenda, apesar da mão morta, não precisava de bater às portas..., já Lídia, apesar de ter chave, acaba a bater à porta de Ricardo Reis...

23.3.18

Eu compreendo a decisão do parlamento

O parlamento rejeitou hoje projetos de resolução do PCP, CDS-PP e PEV para a criação de um regime de aposentação específico para a carreira dos professores e educadores de infância, sublinhando o desgaste físico e psicológico da profissão. Aposentação de professores

Eu compreendo a decisão do parlamento. Se o desgaste físico e psíquico fosse real, há muito que os partidos teriam deixado de contar com os votos dos professores... 
Eu compreendo a decisão do parlamento. Deixar que os professores pudessem beneficiar de um regime de aposentação específico poderia abrir a porta a jovens professores mais habilitados a lidar com os problemas provocados pela acelerada mudança imposta pelas novas ferramentas colocadas ao serviço da investigação e da produção de conhecimento, e, sobretudo, de partilha global da informação...

22.3.18

Esforço de última hora

Amanhã, termina o 2º período escolar.
E mais uma vez, um vasto grupo de alunos irá tentar apresentar, à última hora, trabalhos individuais e de grupo, apenas com um objetivo - subir a nota.
Pouco lhes importa que a apresentação seja feita perante os colegas ou não. O que interessa é que o professor aprecie o esforço de última hora...
Também pouco importa o conteúdo. Para o efeito, todas as fontes são boas!
Aliás, questionados sobre as fontes, em regra manifestam estranheza, pois não se questionam sobre a sua qualidade...
E mais grave: a maioria não leu a obra em estudo...
As consequências, quem quiser que as tire... por mim tenho dito.

Alvoroço

Retomando uma antiga e infeliz narrativa, o velho senhor ameaça com a polícia caso não lhe seja, de imediato, prestada uma informação sobre a rua e porta do Campus de Justiça, diga-se, de uma repartição, in loco, a que não precisa de se deslocar e que, se o fizer, só servirá para armar confusão...
Qual prestador de serviços, pro bono, lá irei à dita repartição - Campus da Justiça, Edifício L, Av. D. João II, Lote 1,08,01 J /1990-097 Lisboa - registando, aqui, a morada para memória...
A lenda diz que o velho e altivo senhor, em tempos, terá aprendido a ler. A lenda só não diz o que fazer a um senhor, abolida a escravatura... É um pouco como explicar o que fazer a um escudeiro, extinto o cavaleiro...

21.3.18

Num labirinto de papel

Num labirinto de papel, oiço um ininteligível altifalante que por certo dá voz a algum poeta convidado.
Hoje é dia de festa - da poesia. O mesmo será dizer que o dia é de espanto. Inicial... e não de interesseira persuasão, com maior ou menor domesticação dos tropos...
Ainda não acordara, e já me interrogava se a festa de hoje teria alguma coisa a ver com a fiesta ou, até, com o minotauro.
E não sei se por associação se por contiguidade, lembrei-me que tempos houve em que o Tejo correra em sangue por causa de uma utopia que nenhum poeta conseguiu fixar, mesmo a vida perdendo...

20.3.18

A Primavera dos Poetas

Dizem-me que vem aí a Primavera. Talvez. Da minha janela, apenas uma linha carregada de nuvens hesitante sobre os esquecidos pastos do Tejo...
Dizem-me que vêm aí os Poetas carregados de nuvens prontas a regar os rebanhos sequiosos de inesperado...
Apesar do que os campos me dizem, preferia ser eu a dizê-lo, mas falta o Poeta...

19.3.18

Patético

- Então, meu caro, não se deu ao trabalho de reformular o seu teste?
- Não. Vou anular a disciplina...
- Nem pense. O melhor é anular-se a si próprio!

(Tempos houve, em que por esta altura, os alunos decidiam anular a matrícula a certas disciplinas.)

A resposta do professor será censurável, mas o laxismo é tão grande...

18.3.18

Entendo. Já não precisamos de pensar!

Entendo. O inferno é dos outros. Aqui, no nosso céu, tudo corre bem. Chove, mas a chuva é precisa, embora, por vezes, se alargue um bocado por culpa alheia, humana...
Agora, está na moda aderir... O que é necessário é estar pronto. Para pensar? Não. Incomoda. 
É mais fácil sair do redil e gritar em uníssono. Afinadinhos, de preferência. Plutôt. ( Podia escrever isto em francês, mas para quem?)
Anda no ar, um certo espírito corporativo. O coletivo move, impõe, não uma ideia mas uma palavra-de-ordem. Anda no ar um certo espírito de cruzada - desperta por aí uma alma coletiva, capaz de sacrificar a vida de cada um de nós.
Já não precisamos de pensar!

17.3.18

No Inferno

Lá para trás, fica a ideia bíblica do Inferno, sem esquecer o Hades, e também a de Dante, as diversas masmorras inquisitoriais, os campos de extermínio nazis e da ordem nova... da indochina e da sibéria...Outro tempo!
Mas neste tempo, em que matámos a memória, o Inferno reacendeu-se na velha europa humanitária de hipocrisia, de fingida humanidade...

(Judith Vanistendael deslocou-se de forma ilegal, no final de 2017, ao campo de refugiados de Moria , na ilha grega de Lesbos, tendo desenhado, de memória, uma narrativa de dez páginas...

16.3.18

Não há pior carrasco...

Não há pior carrasco do que aquele que se prepara para ser carrasco de si próprio - come a sopa porque lha dão, não porque compreenda ou sinta que o seu corpo precisa dela... Ou não come a sopa porque decidiu que ela o pode enfraquecer...

'De que me serve debater uma obra com os meus pares, se eu, afinal, não a quero ler. Para quê lê-la se há por aí tantas outras, todas cansativas.'
'De si, meu carrasco, espero que leia por mim e que se limite a fornecer-me a chave necessária a franquear aquela porta, que dizem ser, do futuro de mesa farta...'

Esta é provavelmente uma forma menor de inteligência artificial... O problema é que uma forma superior de inteligência artificial poderá não ter paciência para aturar caturrices...
'Paciência' é a nossa forma dizer 'imaginação', isto é, a capacidade de ler fora da "caixa"...

15.3.18

É uma pessoa cobarde...

«É uma pessoa cobarde porque está a lutar pelas suas ideias.» Anónimo

Reviro: Quem luta pelas suas ideias é uma pessoa cobarde.
Extrapolo: Quem luta pelas ideias dos outros é uma pessoa corajosa.
Reviro: É uma pessoa corajosa porque está a lutar pelas ideias dos outros.
Imagino: Quem não luta por ideias não é pessoa.
Afirmo: Não é pessoa quem não luta pelas suas ou pelas ideias dos outros.
Anseio: Entre ser e não ser pessoa deve haver um qualquer intervalo que permita compreender a asserção do anónimo.

Findo: as pessoas cobardes e as pessoas corajosas vão ser multadas porque não limparam os terrenos até à data de hoje, mas se forem corajosas até 31 de maio, as coimas esfumar-se-ão...

14.3.18

O tempo de Stephen Hawking (1942-2018)

Embora se insista na necessidade de rever a matriz curricular, na reformulação da metodologia de aprendizagem, não tenha encontrado uma verdadeira estratégia. Por exemplo, não vejo, no âmbito da leitura, qualquer recomendação no sentido de que Uma Breve História do Tempo possa ser um texto motivador e estruturante para as novas gerações...

Por isso, aqui, registo duas ideias  para quem queira abordar a vida, livre de preconceitos:

 a) «Uma teoria é boa quando satisfaz dois requisitos: deve descrever com precisão um grande número de observações que estão na base do modelo, que pode contar um pequeno número de elementos arbitrários, e deve elaborar predições futuras definidas sobre os resultados de observações futuras.»
b) « Qualquer teoria é sempre provisória, no sentido de não passar de uma hipótese: nunca consegue provar-se.»

Com ele aprendi que todas as respostas são provisórias e passíveis de reformulação... mesmo as que se referem a Deus.

12.3.18

Um dia, ofereceram-lhe uma cadeira...

A polémica associada ao convite do ISCSP – Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas a Pedro Passos Coelho para que assuma funções como professor catedrático nesta instituição assumiu hoje novos contornos com o lançamento de uma nova petição, desta vez por parte de professores e investigadores universitários. Indignidade


O Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas comemorou um século de existência em 2006. A sua génese remonta ao terceiro quartel do século XIX quando, em 1878, na recém-criada Sociedade de Geografia de Lisboa, foi aprovado um designado Projecto de uma Escola de Disciplinas relativas à Terra e à Gente e às Línguas do Ultramar Português – Curso Colonial Português. Através do ensino e da investigação científica, o objectivo era o de responder à ameaça do avanço das potências europeias em África, materializado na Conferência de Berlim de 1884-85, criando um corpo especializado de administração pública de nível superior que ocupasse os territórios colonizados por Portugal.

Não compreendo a razão de tal indignação. O homem esteve à frente do Governo de Portugal entre 2011 e 2015, eleito e reeleito... Algum mérito teria... alguma coisa deve ter aprendido com os novos colonizadores... Alguns dos mecanismos de domesticação ainda ativos são da sua autoria... alguns dos que agora o contestam votaram nele, devem-lhe favores...em último caso, não foram obrigados a emigrar...
Certamente que não querem que o homem emigre ou se auto-exile, indo ensinar lá fora como  fomos capazes de transformar Portugal numa colónia chinesa... 
Um dia, ofereceram-lhe uma cadeira e agora querem que o homem se sente no chão ... querem que ande de cavalo para burro... afinal, a 'cátedra' mais não é do que a forma erudita de cadeira´...

11.3.18

O 11 de março de 1975

Desse dia, 11 de março de 1975, ficou-me sempre a sensação de que algo regredia...
No Liceu Passos Manuel, onde começara a lecionar em janeiro desse ano, a luta entre a UEC (União dos Estudantes Comunistas) e o MRPP ( Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado ) ia acesa, impedindo o normal funcionamento das aulas - o conflito entre os estudantes destas duas organizações era claro. A palavra dos professores só era escutada se alinhada...
Uns eram perseguidos e outros seguidos, não pelo que ensinavam mas pelo que era suposto representarem ideologicamente... No entanto, ficou-me a ideia de que uns tantos professores se movimentavam bem no torvelinho...
A ação reivindicativa instalou-se nas salas de aula e nos conselhos de turma extraordinários, introduzindo um conceito de igualdade em que o número era impositivo e a cortesia aniquilada.
Convém, no entanto, esclarecer que a ideia de regressão era minha e inconfessável pois, no Liceu / Escola Secundária, reinava a mesma euforia que na Faculdade de Letras de Lisboa, em que, à época, se deitavam paredes abaixo e se acabava com a Filologia Românica, decompondo-a em Linguística e Literatura...
Apesar do avanço revolucionário conquistado em março e interrompido em novembro, ainda hoje tenho a sensação de que muito do "espírito camarada" persiste nas organizações e determina o rumo, mesmo daqueles que nasceram depois do 11 de março de 1975...

10.3.18

Uma pessoa normal ou um narcisista angustiado?

Segundo os investigadores, uma pessoa normal usa cerca de 16 mil palavras por dia, sendo que aproximadamente 1,400 são pronomes na primeira pessoa do singular, tais como "eu" ou "mim". Alguém que fala de si próprio em demasia eleva este número para quase 2 mil pronomes por dia. Narcisismo ou angústia?

Uma 'pessoa normal' utiliza 16 mil palavras por dia? Tantas? 
Este critério parece-me extremamente exigente... Resta saber se o estudo eliminou as palavras repetidas. É que se tal acontecer, então o número de 'pessoas normais' diminuirá drasticamente.... O que me deixa angustiado, pois, de verdade, não sei se sou uma pessoa normal - ignoro quantas palavras utilizo por dia, oralmente, por escrito e por emitir... Há coisas que nos recusamos a dizer ou a escrever se formos 'normais', com evidente prejuízo....
Finalmente, neste post já utilizei três pronomes pessoais e omiti seis - basta contar as formas verbais de 1ª pessoa... o que faz de  mim um narcisista angustiado... afinal, passo os dias a falar de mim, preocupado em esconder a minha anormalidade...

9.3.18

O Ano da Morte de Ricardo Reis

A peça agrada ao público jovem, sobretudo àquele que está com dificuldade em ler o romance de José Saramago. A adaptação é sóbria, à exceção da personagem de Fernando Pessoa e, sobretudo, caracteriza bem a situação política em Portugal e na Europa, no ano de 1936.
Em termos de espetáculo, e quanto à personagem sorumbática e discreta de Fernando Pessoa, compreende-se que esta tenha perdido esse pendor. O desenho deste Fernando Pessoa é, contudo, autorizado pela fina e, por vezes, sarcástica ironia do narrador...
No entanto, um leitor do romance "O Ano da Morte de Ricardo Reis" que esteja à procura de uma adaptação fiel a uma certa memória de Fernando Pessoa, pode sair do Cinearte zangado... e isso, hoje, aconteceu... E não fui eu!

8.3.18

Já só falta o garfo...

Há quem se espante, mas não sei porquê...
Quando se trata um assunto com ligeireza, uma vez, compreende-se, mas quando a superficialidade se torna regra, há que cortar o mal pela raiz...
Infelizmente, somos cada vez mais complacentes. Resignados, seguimos caminho... e ainda nos pedem um sorriso... um sorriso condicionado...
Talvez amanhã o sorriso seja natural
                                                           sem ponto nem vírgula...

7.3.18

Um tal guardador de rebanhos!

À medida que as horas se esgotam, sinto que não faz sentido preocupar-me com o futuro, a não ser o dos jovens... Mas como?
Ensiná-los a ser Pessoa ou pessoas poderia ser o caminho. Se a alusão não vos escapa, pensareis, talvez, que Pessoa era uma pessoa, mas a verdade é que não é certo, pois a sua originalidade resulta dessa demarcação - da fuga à humanidade por causa da bestialidade das pessoas...
Pessoa inventou-se a si próprio, indiferente aos deuses, e só por acidente sebastianista - fraqueza de quem, ao desbaratar a inteligência, passou a necessitar de um pastor.
Um tal guardador de rebanhos!
E mesmo esse preferia os pensamentos às ovelhas... Embora ele diga que as olhava com um estremecimento, ele bem sentia que essa fraqueza dos sentidos era uma cedência imperdoável...
Ensiná-los a ser Pessoa, mas como, se querer ser Pessoa é abdicar de ser pessoa? Aprender com Pessoa? Sim, mas cientes de que aquele foi o caminho dele, só dele... e que é tempo de o deixar fazer as pazes com a avó Dionísia... 

6.3.18

Não há Citius que lhes resista!

Um país reduzido a um assessor jurídico - um jurista toupeira. Ao serviço de quem? Dizem-me que do Benfica. 
Em termos militares, as toupeiras caracterizam-se pela sua capacidade de infiltração nas linhas inimigas...
Desconfio que esta toupeira começou por se infiltrar no Benfica para servir as linhas inimigas...
Só que parece que o alvo estratégico de Paulo Gonçalves era o Portal Citius...
Uma vez lá dentro, entra-se no melhor dos mundos...

Dizem-me que a toupeira é um mamífero insectívo comum no nosso país... 

5.3.18

Com tais exemplos...

Na China, está aberto o caminho da eternização do líder. Na Rússia, há muito que Putin descobrira como romper com a efemeridade. Nos Estados Unidos, Trump não quer ficar atrás... Na Alemanha, a senhora Merkel procura uma solução governativa definitiva. Em Itália, os italianos votam no caos...
Por cá, o poder é um trampolim para o enriquecimento a qualquer custo... Santana vai gerir uma Fundação que ele próprio acolheu na Santa Casa...
Finalmente, Passos Coelho vai ensinar, dando razão à tradição: - quem não sabe fazer, ensina! O problema é que, neste caso, nós vamos pagar-lhe um ordenado equivalente ao de um professor catedrático. Nem sequer se inscreveu na Sorbonne, como fez o colega Sócrates... talvez porque não tivesse um amigo magnânimo...
Não me interessa se necessitou de 10 anos para concluir uma licenciatura de 5 ou 3 anos, o que me preocupa é o mau exemplo.
O que me preocupa é que, com tais exemplos, já não sei o que replicar àqueles alunos que se vangloriam de não lerem um único livro...

4.3.18

A gata

As persianas cerradas e já a gata perscruta o melro que chilreia alegremente no topo do poste de iluminação. Não diz nada mas espera que a rotina lhe abra o horizonte para que possa seguir o voo das aves ou com elas...
E se alguma se aproxima do parapeito do 12º andar, agita-se e corre num encalce ilusório pois a vidraça continua fechada...
E ainda bem porque esta gata não aprende, apesar da experiência, a antecipar as consequências do voo felino. 
A gata. Os gatos.
Só eu procuro não me agitar de cada vez que o sol irrompe, porém a antecipação de nada me serve.

3.3.18

Pobre Esopo!

A única coisa que entristece é a chuva quando saímos à rua porque, afinal, temos casa...
No resto, obedientes e contentes, de preferência com sol.
Nem os malfeitores nos atrapalham desde que possamos vestir a máscara risonha de ícones insanos...
Ontem, a certeza de que o futuro será sem defeito, pois coragem não falta para cortar a torto e a direito - a rã, ou será sapo?, vai fumando o cigarro do desprezo...
Pobre Esopo! Por onde anda a cor local?
Talvez, no canteiro da vizinha...

2.3.18

Triste sina!

«Mas é mesmo imperioso que se caminhe sustentadamente para se conseguir renovar a educação escolar. É o que está a acontecer por todo o mundo e é aquilo que os novos tempos e modos exigem de nós.» Joaquim Azevedo

Caminhar sustentadamente, só a quatro patas ou com o apoio de uma bengala... com direito a entrar nos centros comerciais e nos restaurantes, mas sem qualquer consideração pelo envelhecimento...
O que está acontecer por todo o mundo em matéria de educação é um desastre. Basta pensar em quem governa a maioria dos países e das organizações - o melhor seria apontar as exceções e a lista seria curta...
E o que está acontecer em matéria de ensino é o favorecimento da criação de elites, deixando à deriva milhões de jovens - deixá-los entretidos com um falso saber, inócuo e presunçoso; deixá-los à mercê de polvos editoriais que lhes servem panaceias coloridas...
O que os novos tempos exigem de nós é honestidade inteletual, embora pareça que anda o mundo trocado.
Ainda hoje comecei o dia a pensar se a vaidade seria uma virtude...
Creio que já um dia aqui referi que em tempos medievos houve quem considerasse a cobardia uma qualidade, sem esquecer o silêncio virtuoso... Triste sina! 

1.3.18

Nhympha ou Nympha do Mondego?

«Ricardo Reis levantou-se, foi ao lavatório refrescar a cara, pentear-se , pareceram-lhe hoje mais brancos os cabelos das fontes, deveria usar uma daquelas loções ou tinturas que restituem progressivamente os cabelos à cor natural, por exemplo, a Nhympha do Mondego...» José Saramago, O Ano da Morte de Ricardo Reis

Apesar da obra estar classificada como um romance, cada vez me convenço mais que, na verdade, José Saramago escreveu uma crónica, segundo o preceito de Fernão Lopes, isto é, foi pondo por ordem os dias e as horas com muito recurso à leitura dos jornais da época... o que nos permite fazer o caminho inverso, descobrindo a cada cavadela uma ou várias minhocas...

Neste caso, a Nympha do Mondego ganhou um /h/... Será gralha?

Na realidade, o meu problema é que já há cada menos interessados em cavar ... a não ser daqui para fora...