3.10.17

Agora, sim, toca o despertador

Acordo, mal adormeço, mas só tomo consciência disso quando olho as horas. Preocupa-me a gata, não vá acordar do sono pesado e relutante quem não deve. Adormeço.
Volto a pegar o sono, mas os miados alertam-me para o perigo que só diminui quando a bicha se aninha no meio das minhas pernas.
Adormecemos, parece que o tempo decorre sossegadamente, mas agora é o calor de outubro, a boca seca que interrompem aquilo que costuma obedecer às leis do despertador.
Dou uma olhadela à lista dos amigos facebookianos despertos e, espanto, são vários, alguns da vida real que entram no trabalho à mesma hora... O que estarão a fazer, despertos a esta hora?
Pego no Livro do Desassossego e lembro que o volume, quebrado, que folheio, nunca chegou a ser um livro nas mãos de Bernardo Soares que, de verdade, não as tinha... folhas soltas, pedaços de deambulações plasmadas em fragmentos - plasma ou talvez magma de outras vidas, também elas imaginadas....
Agora, sim, toca o despertador. Foge-me a  página, insisto e registo  o que não é meu nem dele:

«Ah, outro mundo, outras cousas, outra alma com que senti-las, outro pensamento com que saber dessa alma! Tudo, até o tédio, menos este esfumar comum da alma e das coisas, este desamparo azulado da indefinição de tudo!» Bernardo Soares

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