30.6.17

Se eu fosse coelho...

Se eu fosse coelho queria lá saber do eucalipto... O mato é o que mais arde em Portugal! Este é que protege o coelho, este é que assegura a reprodução dos láparos...
Um pouco mais de inteligência e perceberíamos que o saber do coelho é naturalmente distinto do saber humano...
Com o coelho não vale a pena entrar em polémica. O único ser que sabe captar-lhe a atenção é a cobra, e esta não necessita de palavras, pois hipnotiza-o com a maior das facilidades...
Em conclusão, o que é necessário é proteger o mato, porque nele tanto habita o coelho como a cobra...

29.6.17

Bem tento compreender...

«O medo do desvio é uma espécie extremamente condensada de ansiedade. (...) A tarefa é menos simples no caso do medo pós-moderno da insuficiência. Em parte, porque o próprio mundo em que opera é - ao contrário do mundo moderno "clássico" - fragmentário, e porque o tempo pós-moderno, em perfeita oposição ao tempo moderno linear e contínuo, é "achatado" e episódico. Num mundo e num tempo assim, as categorias referem-se mais a "ares de família" do que a "núcleos duros" ou sequer a "denominadores comuns".»
                                      Zygmunt Bauman, A Vida Fragmentada

Bem tento compreender, mas como se o tempo em que vivo é muito diferente do tempo em que me formei...
Desse tempo, em que me era exigida coerência, coesão, caráter, autenticidade, verdade, compreensão, pouco sobra, a não ser uma co-existência forçada, episódica...
A narrativa contínua e articulada foi substituída por quadros ou, como muitos dizem, por "cenas" - esta cena, aquela cena, a minha cena, a tua cena, a cena dele, a cena dela... 
Cenas que se esgotam em si - pequenos e grandes dramas efémeros, chatos, mas que se comprometem é só no momento que a memória apaga num instante...
É esta desvalorização do que fui que me move a tentar compreender, pois as ferramentas  do tempo pós-moderno exigem outro tipo de "inteligência", menos racional e mais insuficiente, de tal modo que já não sei avaliar, pois o conteúdo deixou de interessar e o objetivo, de tão imediato, é tão líquido que não o consigo apreender.

28.6.17

'Diferença de opinião' ministerial

Desacordo. A resposta é válida. A resposta não é válida.
Não sei se a pergunta foi bem formulada, custa-me, no entanto, que um ministro possa afirmar que se trata de «diferença de opinião».
Tempos houve em que a "opinião" não bastava para validar uma resposta.
A eterna questão da ambiguidade!

Bem sei que os tempos são outros! E parecem sofrer de flatulência...
(...)
Entretanto, e já decorreu uma semana, o Ministério da Educação decidiu não anular a prova de exame de Português (639)...
Espero que a decisão não resulte de uma mera opinião.

27.6.17

Uma questão de inteligência...

"Vejo o meu pai, no limite da minha infância, dobrar a porta do pátio, com um baú de folha na mão.(...) Minha mãe dizia-me adeus de dentro da charrete e cada vez de mais longe
Vergílio Ferreira - Fotobiografia, organização de Helder Godinho e Serafim Ferreira, Lisboa, Bertrand, 1993, p. 118.

Há quem interprete a partida assinalada no excerto como indicador da morte dos pais do autor. E há quem desvalorize tal interpretação, rotulando a falha como uma imprecisão...
Desta vez, compreendo o desplante, pois se até Passos Coelho se precipitou ao anunciar o suicídio de familiares das vítimas do incêndio do Pedrogão Grande, confiando mais no rumor do que na inteligência...
Os ventos continuam a não soprar de feição!
                (Para que a imprecisão não se agrave, os sublinhados são meus...)

26.6.17

Os ventos oblíquos e os pirómanos

Estou tentado a pensar que o vento é o culpado do que aconteceu em Pedrógão Grande e zonas limítrofes.
De qualquer modo, já, na narração da odisseia lusitana, os ventos faziam enormes estragos, obrigando Camões a estudá-los com alguma minúcia. Comandados por Éolo, o deus dos ventos, Bóreas, Noto, Euro e Zéfiro moviam-se tomando a defesa do partido muçulmano no conflito com o partido cristão...
Portanto, o problema é antigo, parecendo que os ventos não são imparciais e, sobretudo, que se movem obedecendo a impulsos pirómanos...
Ora, o que se percebe é que andam à solta muitos pirómanos, uns ativos e outros passivos. Há quem defenda que os ativos devem ser encarcerados logo que o calor aperta. Compreendo a medida, embora os pirómanos passivos me preocupem mais, pois fartam-se de ganhar dinheiro, de desertificar o território, para mais tarde se apoderam dele ao preço da uva mijona...
Curiosamente, um ilustre pirómano, neste fim de semana, deitou a cabeça de fora e começou as soltar os ventos de um interminável ajuste de contas partidário, em que, paradoxalmente, muitos são culpados e beneficiados...

25.6.17

A culpa deve ser do vento

Moro a 200 metros da Igreja do Cristo Rei da Portela. Não a frequento, mas oiço os sinos, e, quando diante dela passo, dou conta da ação social e, também, do movimento nas capelas funerárias... Aos domingos e dias santos, apercebo-me do carro de exteriores da RTP, o que me anuncia a transmissão do ofício religioso urbi et orbi...
Digamos que esta Igreja não me hostiliza, apesar das minhas ideias sobre o poder anestesiante da religião, de qualquer religião...
Hoje, no entanto, estou cansado do karaoke de péssima qualidade que sopra de lá...
A culpa deve ser do vento! Só que nunca pensei que a Igreja do Cristo Rei da Portela pudesse ser tão plebeia...

24.6.17

É a lógica do must exit

Em silêncio, medito:

«Os deserdados serão condenados ao esquecimento, ao abandono, ao desespero puro e simples. É a lógica do must exit. Poor people must exit ( Os pobres têm de sair de cena). O ultimato da riqueza, da eficácia, risca-os do mapa. Justificadamente, uma vez que têm o mau gosto de escapar ao consenso geral.» Jean Baudrillard, America... 

É a lógica do capital! E quem não se adaptar, deve sair de cena!
Deve ser por isso que pensamos cada vez menos, que escrevemos cada vez pior, que deixámos de ouvir o outro, que vivemos da nossa razão...
E a lógica do capital deixou de ser uma questão global... Basta observar as guerras que alastram a propósito da gestão dos donativos, aqui e em toda a parte...

23.6.17

Só a Hora conta!

«O tempo já não é um rio, mas uma coleção de pântanos e de tanques de água.» Zygmunt Bauman, A Vida Fragmentada.

Somos, assim, ramos soltos, bastando-nos a nós próprios. (Nesta linha de pensamento o "nós" é excessivo, pois tudo flui singular, solitariamente.)
Entretanto, o tronco liquefez-se, deixando o Vagabundo do Momento, sem passado nem futuro, sem responsabilidade nem arrependimento, imoral e apolítico...
Só a Hora conta! 

22.6.17

Os "próximos dias" do ME

O Instituto de Avaliação Educativa (IAVE) remeteu para os “próximos dias” esclarecimentos sobre a possível fuga de informação relativo ao exame nacional de Português, e invoca o segredo de justiça para não avançar informações sobre o processo judicial.
http://lifestyle.sapo.pt/familia/noticias-familia/artigos/iave-remete-para-proximos-dias-esclarecimentos-sobre-exame-nacional-de-português

Quanto aos meus dias, vou ocupá-los a classificar 55 provas, à espera que o pós-moderno ministro da Educação continue a considerar que, nestas coisas, o tempo se mantém instável... o dele e o nosso. É tudo efémero e possível, até o compromisso... 

21.6.17

Pensar devagarinho

Para além da prova 639 aplicada, há mais duas no cofre. 
Face à informação que circula na imprensa e nas redes sociais, o Ministério da Educação já teve tempo de conferir o conteúdo de cada uma das provas e de emitir uma nota que esclareça a situação.
Mas não! Está à espera do resultado da investigação externa. 
Quanto ao mujimbo, ele continua a dar a volta ao país...
Eu, por mim, vou "trancando", a vermelho, os espaços deixados em branco pelos examinandos.
Só tenha pena de não poder "trancar" quem está a deixar prolongar a situação.

E se voltássemos a pensar

Este ano, os professores classificadores de Português foram convocados antes da realização da respetiva prova e, surpreendentemente, receberam as provas dos alunos um dia mais cedo, o que terá obrigado a um esforço logístico acrescido... Quando queremos, somos capazes!
Porquê? A resposta é simples: o levantamento das provas coincidia com a data da greve de professores - hoje, 21 de junho de 2017.
(...)

De nos deixarmos ir e viver pela Terra
E levar ao colo pelas Estações contentes
E deixar que o vento cante para adormecermos,
E não termos sonhos no nosso sono.

Versos de Alberto Caeiro, o Poeta que pensava, mas que dizia que não, apenas imitava a Natureza.  Basta ouvir os camponeses da Beira Interior para saber que a Terra nem sempre é a Casa que nos protege, por mais que o pretendamos... e que o canto do Vento pode ser mortífero...

(...) 

Voltei a vigiar uma prova de Filosofia e fiquei estarrecido - ou já não há filósofos ou estes deixaram de pensar ou, então, o vento suão varreu-os...

20.6.17

Por mais que arda

Por mais que arda, sinto que há quem se esteja marimbando... Há um claro desrespeito pela dor.
No Parlamento, continuam as querelas que impedem a reformulação da política florestal e de combate aos incêndios.
No Governo, temos três ou quatro ministros com visões sectoriais.
Ontem, um ministro mostrou-se aborrecido com a jornalista que lhe fazia perguntas sobre a questão global - ele fora convidado para responder sobre o seu pelouro...
Um antigo primeiro-ministro nada tem a dizer, pois a culpa é anterior e posterior à sua ação governativa.
Os sindicatos da área da educação continuam a sua luta, alheios ao problema nacional.
Por mais que arda...

19.6.17

Vivemos da imagem

«O mistério (e o Outro é um mistério) é um enigma excitante, mas tendemos a cansar-nos desta excitação. " E assim criamos para nós próprios uma imagem. Trata-se de um ato de desamor, da traição." Criar uma imagem do Outro leva à substituição da imagem ao Outro: o Outro torna-se doravante fixo - em termos tranquilizadores e reconfortantes. Já nada de excitante existe em ligação com ele...» Zygmunt Bauman, in A Vida Fragmentada, cita Max Frisch, Sketchbook 1946-1949.

Nas imagens não nos narcisamos apenas. Também as criamos para nos desresponsabilizarmos  do Outro. Para objetivizar o Outro.
E são milhões as imagens!
É como se tivéssemos desistido do futuro!

18.6.17

Quando algo corre mal

Quando algo corre mal, há sempre um coro a pedir a demissão do ministro da tutela. É pena!
Melhor seria que fossem apuradas responsabilidades  e punidos todos os que, de algum modo, tivessem contribuído para o desastre.
Se este princípio fosse aplicado, Portugal seria um país bem mais rico e, sobretudo, soberano.

O incêndio do Pedrogão Grande

Acordo. O quantificador esmaga. Já são 62 os falecidos no incêndio do Pedrogão Grande..., mas o território é muito mais vasto, e as pessoas continuam ao abandono...
O Presidente diz que não era possível fazer mais. Sim, no momento, não seria possível, mas antes pouco ou nada foi feito... E esse é o nosso problema.

Neste caso, já que nada posso fazer pelas vítimas, o meu privilégio é censurar os responsáveis...isto é,  aqueles que apostaram na desertificaram do território, aqueles para quem o maior lucro é o único objetivo.

17.6.17

É meu privilégio

«É meu privilégio enquanto homem que, através da atividade escondida do meu ser, eu possa estabelecer uma barreira intransponível à objetificação.» Martin Buber

Não é fácil! E a culpa é do adjetivo e do quantificador...
Tudo o que me pedem é que eu avalie, classifique, caraterize, discrimine...
Tudo o que me pedem é que esconda a emoção.
Tudo o que me pedem é ação neutra, racional, serva da ética - essa lei universal que tudo regula: adjetiva e quantifica... e nem é preciso recorrer à estatística.

Dúvida sobre a data da inauguração do Liceu Camões


Ainda no inicio do século vinte este local era conhecido como o "Sítio da Bemposta", compreendido entre a antiga "CRUZ DO TABUADO", depois "LARGO DO MATADOURO" e desde 1915 por "PRAÇA JOSÉ FONTANA", e prolongava-se sensivelmente até ao "LARGO DE SANTA BARBARA" para nascente.
No ano de 1900 presidia ao Governo do Reino «JOÃO FRANCO» que resolveu mandar construir três Liceus em LISBOA. Começou por mandar concluir o Liceu na cerca do "CONVENTO DE JESUS" o «LICEU PASSOS MANUEL», cujas obras estavam paradas há mais de dez anos, e adquirir terrenos no sítio da ESTRELA e na "CRUZ DO TABUADO", para a construção de mais dois.
O primeiro a ser concluído foi o da "CRUZ DO TABUADO", e foi-lhe dado o nome de «LICEU CAMÕES». Foi o primeiro liceu moderno de LISBOA, promovido pelo ESTADO no âmbito de uma política de fomento do ensino, e projectado pelo Arquitecto «MIGUEL VENTURA TERRA»(1866-1919) e construído por "ANTÓNIO RIBEIRO".
Teve a sua inauguração no dia 8 de Novembro de 1909.


- De verdade, quando é que o Liceu Camões foi inaugurado? A 16 de Outubro de 1909 ou a 8 de Novembro de 1909?

16.6.17

O mínimo passou a ser igual ao máximo

Afinal, os professores, no dia 21, podem fazer greve a tudo, desde que assegurem os serviços mínimos...
Isto é: receção das provas, distribuição das mesmas por sala, coadjuvância por disciplina, dois vigilantes por sala, suplentes quanto baste, secretariado a funcionar...
Neste cenário, não há qualquer problema: o ministério mantém a realização das provas e os sindicatos não necessitam de fazer qualquer braço de força... Ninguém perde a face!
Quanto aos professores, fazem como o Pero Marques, carregam às costas a Inês para que ela possa divertir-se com o falso ermitão...
Os portugueses devem estar orgulhosos, como diria o Centeno...

15.6.17

Como se avizinha mais uma greve dos professores

Como se avizinha uma greve dos professores aos exames do dia 21 de Junho, deixo aqui meia dúzia de linhas sobre o sucesso da recente greve dos médicos.
Por aquilo que sei, milhares de doentes viram as consultas e as cirurgias adiadas. Pela experiência cá de casa, os pacientes, que, entretanto, não morreram, continuam à espera... Isto de morrer é, hoje, coisa de somenos!
No fundo, isto é, como nas guerras, as vítimas são esquecidas, enquanto os vencedores são efusivamente saudados. Ora, no caso da greve dos médicos, ainda não consegui vislumbrar quais foram as reivindicações que foram atendidas...
Sem querer extrapolar, creio que a greve dos professores insere-se na mesma lógica. Dar aos alunos mais um dia para estudar, enervar as famílias... e dizer à Nação que os sindicatos continuam vivos, capazes de mobilizar a classe, fazendo exigências, à partida, impossíveis de satisfazer, como essa da reforma aos 36 anos de serviço, sem penalização...
(Quem assim pensa, iniciou funções no ensino público, no dia 2 de janeiro de 1975... É só fazer as contas!)

Bom é que saibam...


«...e se queres recolher vontades, Blimunda, vai à procissão do Corpo de Deus, em tão numerosa multidão não hão de ser poucas as que se retirem, porque as procissões, bom é que saibam, são ocasiões em que as almas e os corpos se debilitam, a ponto de não serem capazes, sequer, de segurar as vontades, já o mesmo não sucede nas touradas, e também nos autos-de-fé, há neles e nelas um furor que torna mais fechadas as nuvens fechadas que as vontades são, mais fechadas e mais negras, é como na guerra, treva geral no interior dos homens.»
                            José Saramago, Memorial do Convento 

Anda por aí muito estudante que nunca viu uma procissão, e que, no caso de ter lido o impiedoso, terá ficado como uma representação deformada do espírito que anima as procissões dos dias que correm...
Portanto, ainda está a tempo de se deslocar à Baixa de modo a inteirar-se do cerimonial...
Há que pôr um pouco de ordem no caos para que vamos resvalando!

14.6.17

Luiz Pacheco entrevistado em 2004


Luiz José Gomes Machado Guerreiro Pacheco, 1925-2008.
(Entrevista ao Independente / 5 Nov. 2004)
Com quase 80 anos, a viver num quarto de um lar. 
Tem 8 filhos e 15 netos, que não conhece na totalidade. Está no lar desde 2001. Recusa ser operado à vista, por medo. Já não lê… Só vê sombras… Incontinente. O trajeto é só entre o quarto e a sala do lar… Vive de um subsídio de 120 contos, que teve medo de perder com “aquela gaja horrorosa, a Manuel Ferreira Leite”. Fica todo no lar. O subsídio terá tido a intermediação do Alçada Baptista…
Quis ser ferreiro, quis ser professor. Quis ir para a marinha mercante com o Cardoso Pires, mas nunca aprendeu a nadar. O máximo que teve foi quatro alunos em explicações.
Na Academia de Ciências foi uma desilusão - não havia convívio nenhum: éramos 10 rapazes e 100 ou 200 raparigas…
O grupo inicial de que fez parte: José-Augusto (França?), José Cardoso Pires, o Salazar Sampaio. Fizeram um jornal no Liceu (Camões) – o Pinguim, que teve três ou quatro números…
Considera que a sua actividade como editor foi mais relevante do que a de escritor…
Estórias: a da relação com uma menor de 14 anos, em casa de seus pais. Foi obrigado a casar. Ele tinha 17/18 anos… terá sido abusado sexualmente na infância; a história da ida às putas na Mouraria com um colega do Camões – eram ambos virgens: a prostituta comia uma maçã enquanto ia fazendo o serviço…
Quanto à pedofilia, não vê as crianças como inocentes, sobretudo as raparigas de 13 anos…
Desmente a sua relação homossexual com Mário Cesariny. Diz que isso é um mito, que não fez parte da lista dele.
Considera que em “O Libertino passeia por Braga” tudo é real – escrito em 1961, mas só publicado em 70…
Elogia o Salazar, o Cavaco, “isso é que eram bons primeiros-ministros, não era esta cambada- ” Santana Lopes, Paulo Portas. 
Foi salazarista, comunista… libertino... anarquista(?)

Rapidinhas

Agustina Bessa-Luís - Uma escritora a sério.

Lobo Antunes - Não leio há muito tempo.

Cardoso Pires - Um grande amigo.

Fernando Namora - Um aldrabão muito grande.

Natália Correia - Uma escritora um bocado falsa.

José Saramago - Um escritor de grande qualidade.

Sophia de Mello Breyner - Nunca li nada dela.

Herberto Hélder - Pensava que era melhor do que realmente era.

Mário Cesariny - Um artista que não ficará para a História.

13.6.17

Fernando Pessoa, nós e a Europa

«O que é preciso ter é, além de cultura, uma noção de meio internacional, de não ter a alma (ainda que obscuramente) limitada pela nacionalidade. Cultura não basta. É preciso ter a alma na Europa.
                                Fernando Pessoa (1912-1916)


Em rota de afastamento da Renascença Portuguesa, Fernando Pessoa indica o caminho, pois o Império já não tinha meios para se manter e ele sabia-o bem pois crescera no seio do Império britânico.
Um século depois, o Império desfez-se e o que falta cumprir de Portugal, apesar das vozes que o prolongam na "lingua portuguesa", só pode acontecer à escala global e, em particular, no interior da Europa...
E para isso, não basta migrar, é necessário que a alma se nutra dos valores universais, começando por participar ativamente na cultura europeia...
O que me aflige é que não vejo qualquer esforço dos responsáveis pela educação e pelo ensino para que tal aconteça... 
Continuamos longe da Europa e do Mundo. Por exemplo, quem é que conhece Juan Goytisolo, escritor espanhol falecido recentemente?

12.6.17

Eu não quero ser sobrinho!

Sobrinha do Presidente do PS contratada pela câmara de Lisboa.

Andam por aí tantos sobrinhos cujos tios não perdem oportunidade de lhes arranjar um emprego que eu decidi que não quero ser sobrinho nem mesmo dos meus tios. Espero que eles me perdoem!
Verdade seja dita que eu escolhi mal a família, pois não consta que os meus tios tenham sido sobrinhos de alguém influente, apesar de no Estado Novo haver mecanismos que possibilitavam a contratação de quem pertencesse à família dos CTT, da CP, da GNR...
Finalmente, os meus sobrinhos sabem há muito que não podem contar com a influência do tio, sem esquecer os meus filhos, também, eles vítimas deste meu horror ao nepotismo..., o que, até ao momento, me tem ficado muito caro.
Paciência!
(...)

Nem genro do eurodeputado Manuel dos Santos!

11.6.17

Música brasileira no pombal

Um grupo de brasileiros decidiu fazer um pique-nique num jardim resguardado, embora próximo de um pombal. O acesso dos carros ao jardim está, no entanto, impedido por pilaretes... De qualquer modo, isso não é obstáculo: os automóveis foram parqueados na retaguarda do pombal.
E como não há festa brasileira sem música, o último veículo foi transformado em cabine de som, lançando os sons tropicais a toda a largura do relvado...
Pessoalmente, detesto ruído - a música transforma-se em ruído, sempre que os meus tímpanos se revelam ofendidos... O que me preocupa, todavia, é o efeito que este concerto possa ter nas sinapses daquelas centenas de pombos que ali descansam...
Não sei se entre mim e os pombos há alguma semelhança, creio, contudo, que sim, pois, tal como eles vivem recatadamente naquele pombal, também eu cresci num ambiente em que a música suprema era o silêncio... o que, até à data, me tem trazido algumas incompreensões...
Fique claro que nada tenho contra a folia brasileira desde que ela respeite as criaturas de Deus.

10.6.17

Celebramos o quê?

Afinal, o que é que celebramos? A morte ou a vida? A morte do império, da nação? Ou o sentido de pertença a um possível espaço nostálgico de lusofonia? 
Provavelmente, corremos para a outra margem do Atlântico, arrependidos de lhe termos virado as costas e nos termos deixado embalar pelas sereias da Europa...
...  sereias luzentes e de oiro.
(...)
Aqui, por Lisboa, também celebramos o António que virou as costas ao oiro e ao ruído, mas que, na verdade, fantasiamos casamenteiro e boémio... As marchas de António eram forçadas, extenuantes por causas que nada deviam à folia, à vaidade e ao poder...

9.6.17

Sem tema

Teresa May perde, os Unionistas da Irlanda ganham.
Trump mente...
Manuel Alegre recebe Prémio Camões! O último épico do século XX...
O 10 de Junho começa a 9 e vai acabar a onze... O Presidente anda à solta.
O Santo António deve estar arrependido de ter nascido em Lisboa, apesar de cedo ter fugido...
O "Corpo de Deus" ainda há de marcar presença no exame nacional de Português, em homenagem ao "ímpio" José Saramago...
Cristiano Ronaldo continua a marcar...
(...)
As "avós" de hoje saíram estaladiças!
A "pata de veado" estava muito gostosa...
(...)
Os amigos (no singular) continuam a surpreender...
Sem paciência, não vou lá! Embora já não saiba onde...
Há prendinhas amargas.
Há elogios muito duvidosos.
(...)
A lei tem horror ao caos.
Homens bons e homens maus odeiam a lei...
Os homens bons, de acordo com a lei, não são os que praticam o bem...
Os homens maus, de acordo com a lei, devem ser extraditados, encarcerados...

8.6.17

Avaliar com base na comparação

Avaliar o esforço, a progressão, o rendimento de alguém com base na comparação é um comportamento, que sossega, mas que eu não entendo...
A ideia de que subir um valor a um obriga a rever a avaliação de todos os outros repugna-me. E como tal, transferir a responsabilidade individual para a unanimidade do coletivo parece-me um processo de alienação, até porque não reconheço razoabilidade à consciência coletiva.
(...)
Bem sei que esta reflexão  é certamente incómoda, mas sempre que a argumentação assenta na comparação fico perplexo, pois o segundo termo da comparação mais não é do que um processo de valorizar ou desvalorizar o primeiro e verdadeiro termo, neste caso, a pessoa que se esforçou, progrediu ou, pelo contrário, nada fez por si nem pelos outros...

7.6.17

Resposta aos otimistas

António Costa:"Não há condições para fazer antecipação da idade da reforma sem penalizações"... (60 anos de idade / 40 anos de serviço)

Explicação: Novo recorde da dívida pública: Já são mais de 247 mil milhões de euros!
Isto sem falar da dívida oculta... Sim, porque ela existe...


O smoking do presidente Obama

O presidente Obama usou o mesmo smoking durante oito anos e ninguém reparou...

Imperdoável!
O mesmo já não se pode dizer dos vestidos da esposa...
Foi preciso o senhor deixar a Casa Branca para que alguém se ocupasse da negligência presidencial. 
Afinal, um presidente asseado é aquele que nunca mergulha na mesma água...

Como se vê, o que é importante é o que vestimos e não o que fazemos ou deixamos de fazer...

6.6.17

Começo a compreender

Começo a compreender por que motivo o Mal se tornou minúsculo e creio que até o Supremo Bem segue pela mesma estrada. 
Também a História já se tornara minúscula, sem esquecer Deus que cedeu a maiúscula à multiplicidade de representantes que vão edificando templos ( e não o Templo!) a cada esquina...
Alguém me explicou que os intelectuais abdicaram face à proliferação da descabelada opinião em que um corte de cabelo é mais importante do que a multidão faminta que se deixa asfixiar nas lixeiras...
Começo a compreender que alguém possa esbracejar além da vidraça porque, apesar de tudo, não se pode ser arruaceiro sozinho...
Começo a compreender por que motivo há uns sindicalistas que querem «um compromisso do governo para negociar um regime especial de aposentação para os docentes, ao fim de 36 anos de serviço, sem penalização
De qualquer modo, penso que todos sabemos que um compromisso é uma coisa minúscula! 

5.6.17

As sementes do Mal

Vários países árabes estão a cortar relações com o Qatar por causa de supostos comentários feitos pelo emir do Qatar, Tamim bin Hamad al-Thani, que foram publicados no site da agência de notícias estatal por hackers.
Nesses comentários, o emir elogia o Irão como sendo um poder islâmico, rival da Arábia Saudita, criticando ainda Riade, capital da Arábia Saudita.
Qatar

Primeiro, Donald Trump vende 110 mil milhões de dólares de armas à Arábia Saudita... e agora os aliados dos Estados Unidos da América mostram-se ofendidos com os comentários do emir Tamim bin Hamad al-Thani... 
Uma guerra sunita- chiita vem mesmo a calhar! Mas para quem? As sementes do Mal proliferam... E a inteligência regride...

A sensação dos residentes aqui no Qatar está entre a surpresa e a preocupação depois de, esta segunda-feira, seis países terem anunciado o corte de relações com o país do Golfo Pérsico.
Com o fecho da fronteira com a Arábia Saudita, o Qatar perde a única rota por terra de importações de alimentos e materiais. Surpresa no Qatar

Nota: No Qatar, vivem (trabalham?) 1500 portugueses.

4.6.17

O que me escapa...

Alameda
 «As utopias pós-modernas são anarquistas. (...) Militam contra os objetivos definidos e os planos, contra o sacrifício que visa o benefício futuro, contra a satisfação diferida - contra todas as perspetivas de outrora que se alimentavam da ideia de que o futuro podia ser controlado, definido, forçado a observar uma forma antecipadamente traçada - o que tinha por efeito que as ações presentes de cada um fossem consideradas "grávidas de consequências".»
Zygmunt Bauman, A Vida Fragmentada...

Creio que Baumam se refere à utopia neoliberal e à utopia tecnológica, ambas libertas de qualquer perspetiva intencional...
Há nestas considerações qualquer coisa que me escapa pois, se não me engano, o anarquismo do início século XX, através da ação direta, visava eliminar o despotismo que governava o mundo, revelando assim uma perspetiva intencional.
Creio mesmo que, apesar da propaganda que tudo atribui ao estado islâmico, chegámos, hoje, a um ponto em que os projetos imperialistas se cruzam com a revolta imediata dos indivíduos que, ostracizados, não se importam de sacrificar a vida, não tanto porque procurem o eterno consolo das mil noivas, mas porque o presente é simplesmente insuportável.
O que é deveras preocupante é o modo como se vai diluindo o sentido de responsabilidade, instalando a deriva...

3.6.17

A globalidade e a universalidade


Jardim do Torel
«A modernidade pensou-se outrora universal. Representa-se, hoje, como global.(....) A globalidade é simples aceitação resignada do que se passa "lá fora"; um assentimento ao qual se mistura sempre a amargura da capitulação, ainda que adoçada pelas exortações auto-reconfortantes do tipo "se não podes vencê-los, junta-te a eles". A globalidade exila os filósofos, condenando-os, nus, ao deserto do qual a universalidade prometia emancipá-los.»
              Zygmunt Bauman, A Fresta Aberta no Véu.


Viver o momento é o lema! Pouco interessa se vamos hipotecando o futuro! E porque não, se a vida são dois dias!
Agora, os putos enchem balões e é quanto basta para verem o futuro a esfumar-se no instante... Decadentes, nem precisamos de saber latim. Carpe diem!
Jardim do Torel


2.6.17

Gostava de...

Gostava de ser otimista, com ou sem /p/, mas não consigo... subo e desço escadas em contramão, acelero e desacelero, em obediência a um fluxo imposto...
Gostava de ir à feira do livro, mas o fluxo humano desnorteia-me, e ver os autores expostos, entristece-me; lembra-me a feira da agricultura de outros tempos... e claro, saber que por ali se passeiam autores que o não são, aborrece-me... 
Gostava de dizer que sim a quem me sopra a canção do bandido, mas já não tenho tempo para me deixar arrastar para rotinas inúteis...
Gostava de premiar apenas aqueles que trabalham arduamente, mas se o fizesse ninguém compreenderia...
E sobretudo gostava de não ter chegado a este ponto, mas a leitura de pacote enfurece-me.

1.6.17

O clima de Donald Trump

Embora o acordo de Paris seja legalmente vinculante, não está prevista nenhuma sanção a países que não cumpram as estipulações.

Grato ao eleitor americano, o Senhor Donald Trump está-se, oficialmente, nas tintas para o clima do planeta. Diz que o que interessa é o emprego, a indústria, o comércio... Provavelmente, pela sua cabeça deve ter passado a ideia de que ao multiplicar o emprego, conseguirá acabar com a pobreza, a doença...
Eu até entendo este tipo de fundamentalismo, o que não compreendo é a passividade da inteligência americana.
De qualquer modo, ficamos a saber o que nos espera. Há, todavia, outro problema: o daqueles países que declaram aplicar o acordo de Paris, a partir de 2020, mas que objetivamente o ignoram... sem que haja qualquer tipo de penalização.

O problema da prioridade

Ontem, fui ver a peça Henrique IV, de Luigi Pirandello, espetáculo comemorativo do 45.º aniversário do Teatro da Comuna... bem encenado, bem representado, freudiano e nietzschiano... numa hora em que estas "autoridades" já tiveram maior e melhor receção...
A verdade é que o Pequeno Auditório do CCB oferecia um significativo número de lugares vagos... No entanto, como os lugares não estavam marcados, os espetadores formavam fila, à direita e à esquerda, enquanto as portas não abriam...
Hoje, cedo, desloquei-me à Gare do Oriente, onde decorrem umas obras mal sinalizadas e, para superar a rotunda, necessitei de 20 minutos. Porquê? Porque ninguém obedece à sinalização, não se importando de barrar a passagem...
Depois, passei pelo Lidl de Moscavide, e o problema da prioridade virou caricatura: os idosos do local discutiam acaloradamente quem é que tinha prioridade no atendimento - um tinha 84 anos, outra teria 84 anos e uns meses, mais atrás alguém gritava que tinha 87, sem esquecer a grávida não se sabia de quantos meses, e a senhora que, perante o impasse, se lastimava que ia perder o autocarro...
Apesar de tudo no CCB, tudo decorreu com maior tranquilidade, pois até tive oportunidade para fechar os olhos sem que ninguém protestasse...