16.3.17

De regresso ao Paraíso

«Em meados do século XX, presumia-se frequentemente que o secularismo seria a ideologia dominante e que a religião não mais voltaria a desempenhar um papel preponderante na política mundial.» Karen Armstrong, Conseguimos Nós Viver sem o Outro?

Na escola pública, o silêncio sobre as religiões é tão profundo que já não sei o que fazer aos meus jovens interlocutores. Se lhes ensinasse Matemática, provavelmente, a minha angústia não teria razão de ser, mas como, por ora, o meu magistério continua centrado na língua, na cultura, na arte, na literatura, nas vertentes diacrónica e sincrónica, vivo num monólogo interminável, pois o Outro, absolutamente secularizado, nada sabe da referência religiosa, vista de forma identitária ou hostil... e tudo isto num tempo de proximidade e conflitualidade inevitáveis...
E apesar de tal estranheza, os estereótipos continuam a poluir a língua e a reproduzir-se insensatamente nas políticas, nos programas e nos manuais das Ciências, ditas, Humanas, incapazes de abolir a simples ideia de que a superioridade moral de uma qualquer cultura possa continuar a imperar, mesmo se alicerçada na santidade de valores, como tolerância, liberdade de expressão, democracia, separação da Igreja do Estado...
              porque «a modernidade não foi baseada num conjunto de ideias, mas sim numa alteração fundamental que se deu na base económica da sociedade.»  Karen ArmstrongConseguimos Nós Viver sem o Outro?

             Bem pode o Papa Francisco  declarar  que comete "um pecado gravíssimo", quem «retira o emprego" às pessoas para realizar "manobras económicas ou negócios pouco claros", a verdade é que, neste século XXI, a base económica da sociedade está a mudar, precarizando cada vez mais o trabalho humano...
Eu, por mim, já tenho dificuldade em explicar o que possa ser o ´pecado', ainda por cima gravíssimo, embora saiba que a culpa é de Deus... e data do dia em que expulsou os anjos do Paraíso, obrigando-os a sofrer, a trabalhar e a multiplicarem-se, isto é, a serem homens... Afinal, no Paraíso não havia homens!
Pela via secular, estaremos de regresso ao Paraíso e os meus jovens interlocutores estão bem mais perto dele do que podem imaginar.

No essencial, o que eu queria registar é que, em 2009, foi posto à venda um livrinho que talvez nos possa FAZER PENSAR: Podemos Viver Sem o Outro? As possibilidades e os limites da Interculturalidade, Lisboa, Tinta-da-China.

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