31.1.17

Donald Trump não é um ignorante

Ainda não eram 9 horas e já tinha ouvido 3 pessoas dizer que Donald Trump é um ignorante. Concordo com quase tudo o que se lhe aponta: nacionalismo mórbido, xenofobia, machismo, caudilhismo, populismo, sectarismo, racismo, egotismo extremo. Só não posso aceitar que o classifiquem como ignorante. O senhor sabe muito bem o que faz, e quem o elegeu sabia muito bem o que queria!
Parece-me enorme insensatez apresentar a ignorância como argumento, pois isso significa começar a desculpabilizá-lo, tal como desresponsabiliza quem criou as condições para que pudesse ser eleito e os que nele votaram ou se abstiveram...
Pensar que a situação se resolve com um qualquer atentado também revela desconhecimento da História: os autocratas sabem rodear-se de mastins que os defendem e que, em simultâneo, espalham o terror...
E finalmente, este argumentário cega-nos para o virus de que Donald Trump é portador e que rapidamente atravessará o Atlântico, gerando réplicas prontas a por termo à sociedade democrática.

30.1.17

Da natureza da euforia

Um destes dias deixei aqui uma nota sobre os tempos de euforia, concluindo que eles eram coisa pretérita.
Entretanto, tenho vindo a pensar se a euforia corresponde a um estado gasoso, líquido ou sólido... De início, pensei que o eufórico fosse um nefelibata ou, mais próximo de nós, um alcoólico deserdado... Porém, agora, que ando menos eufórico, dou conta de que a euforia pode resultar da atitude de pessoas que se prezam de ter os pés bem assentes no solo... Longe e perto, parece que a razão se desvaneceu, surgindo, a cada momento, ações cada vez mais perniciosas ao bem comum.
Os propósitos parecem razoáveis, mas, de facto, são insensatos... e tudo rodopia em tal estado de contentamento que a euforia campeia, insensata e maltrapilha...

29.1.17

Se os Últimos Dias se aproximam


Creio que o Senhor Donald Trump não terá sido informado do projeto da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias...
Será que o senhor presidente não pode fazer qualquer coisinha para evitar o desperdício de milhões de dólares em solo onde já estão edificadas tantas igrejas cristãs?
Se os últimas dias se aproximam, para quê construir um Templo de tamanha envergadura?
Até porque anda por aí muita gente que pensa que o senhor presidente o que quer é acabar com o planeta...

28.1.17

Voltam os testes

De dois em dois meses, voltam os testes. Um teste para cada turma, porque os meninos deixaram de ser filhos de Deus, e o Diabo está à espreita...
Em alguns testes, criou-se o hábito de criar versões, porque os diabinhos ganharam o hábito de catrapiscar o alheio...
Tudo isto decorre num lugar cujo objetivo é educar, isto é, inculcar um conjunto de valores que visam preservar a responsabilidade, o rigor, a honestidade.
Tantos testes para quê? O professor sabe muito bem quais são os meninos cumpridores - que respondem na hora, que leem de forma correta, que são capazes de dar uma resposta escrita, fundamentada, coesa, coerente e obediente à instrução... e também sabe que tem à sua frente uns tantos que não ouvem, que não abrem o manual, que não respondem ao que é solicitado, e que se estão nas tintas para o processo de ensino-aprendizagem...
... porque, de verdade, só lhes interessa o EGO...

27.1.17

Unicórnio ou multicórnio?

Unicórnio?

De repente, olhamos a fachada, e sai fumo branco. Será que temos Papa?
Um destes dias, saberemos...
Enfim, cada um faz o que lhe apetece!

E se todos adotarmos o unicórnio, será que este prédio da Portela poderá ser classificado como multicórnio? 


26.1.17

A negro

Com tanta chuva, ainda pensei que talvez o edifício do Liceu Camões viesse abaixo. Mas não, as construções lacustres estão preparadas para resistir às torrentes... Afinal, o problema maior situa-se no Porto - alunos, encarregados da educação e professores decidiram fechar a Escola Secundária Alexandre Herculano, por excesso de água e de friagem.
Edifícios centenários morrem lentamente enquanto os decisores vão soprando para o lado, à espera do inevitável. A cada ano que passa, uma reapreciação que morre na gaveta.
O Património só é assumido quando os interesses se encontram. 

25.1.17

Cercado

As muralhas não estão à vista, as 77 torres foram deitadas abaixo e das 38 portas, sobraram algumas chaves, entretanto, oferecidas pelo alcaide aos forasteiros que, de tempos a tempos, nos visitam...
Descurada a defesa, apenas a voracidade campeia no arraial. A fome já lá vai - os homens deixaram de esgaravatar nas lixeiras, as crianças de três e quatro anos dormem tranquilamente nos infantários, e as mães já não precisam de ferir os peitos à míngua de leite materno...
O cerco é coisa do passado! 
Já não há cidades sitiadas, embora haja quem persista em edificar muros - uns de arame farpado, outros de cimento eletrificado. De vez em quando, surgem notícias de Aleppo ou da Faixa de Gaza, mas dizem-me que esses lugares não existem, que não passam de reminiscências esventradas por deuses de outrora...
Gostava de ter a fé do historiador José Mattoso que considera que a História « responde, muito simplesmente, a uma curiosidade inata no Homem para com as suas próprias ações individuais e coletivas...»  Blogue de José Mattoso (26.10.2014)

24.1.17

Os Livros de Trump

Donald Trump escreveu dezenas de livros sobre os mais diversos temas - tudo o que possa transformar-se em ouro lhe serve.
Confessa que, apesar da falta de tempo, gosta de ler. Atualmente, já só lê capítulos! Provavelmente, curtos enunciados, descontextualizados, como convém a um político desempoeirado... Confessa, no entanto, que os únicos livros a que volta permanentemente são dois: A Bíblia e The Art of the Deal.
Compreendo: Deus no Céu e Trump na Terra!
Resta-me saber se foi Deus que no-lo enviou. Receio que não, pois da última vez que Deus enviou um Filho à Terra, este detestava os vendilhões do Templo.

23.1.17

A mentira

A minha perplexidade aumenta a cada momento!
Na Ilha de Trump, está a chegar à costa um novo homem: rico, branco, fanático, bronco, desbragado. E das mulheres, não sei o que diga! Parecem-me noviças enfeitiçadas, prontas a renderem-se ao primeiro salteador e, sobretudo, capazes de fazer da mentira o seu lema...
Para quem pensa que entrámos na era da pós-mentira é melhor que se cuide, pois esse enunciado não passa de um sofisma para enganar os mais incautos.
A mentira é uma arma muito mais eficaz do que a verdade. Da verdade, aprendemos a duvidar! Quanto à mentira, entranhada desde a meninice, nada podemos fazer...

A História, que procura «a clara certidom da verdade», debate-se permanentemente com os mil e um ardis utilizados na conquista e na manutenção do poder.
Talvez os Historiadores devessem ocupar-se mais da mentira, porque esta, de facto, tem sido o motor principal dos avanços e dos retrocessos da humanidade...
De momento, na Ilha de Trump, é a própria configuração da humanidade que está a ser posta em causa, fazendo lembrar o tempo de um certo tipo de super-homem que inebriou uma parte significativa da Europa do séc. XX. 

22.1.17

Acusar a Internet...

Acusar a Internet da proliferação de erros ortográficos, de desconexões sintáticas, de plágios, de falhas de carácter, de interferências estrangeiras, é fácil, desvia a atenção, desresponsabiliza e, principalmente, cria uma sociedade dominada pela charlatanice.

Charlatão: Aquele que se utiliza da boa-fé de alguém, geralmente, fingindo atributos e qualidades que não possui, para obter (dessa pessoa) quaisquer vantagens, ganhos, lucros etc.; impostor.

O problema é que o charlatão não se encontra apenas na "internet"..., ele navega em todas as águas, por vezes, ainda sem saber...

Para mim, os que ainda não sabem da sua condição são os que mais me preocupam...  

21.1.17

Na Ilha de Trump

Na Ilha de Trump, as pontes começam a ser substituídas por muralhas. E claro, há que não esquecer as portas para deitar fora «as gentes minguadas e non pertencentes para defensom», tal como foi registado por Fernão Lopes:

«E isto foi feito duas ou três vezes, atá lançarem fora as mancebas mundairas e judeus, e outras semelhantes, dizendo que tais pessoas nom eram para pelejar, que nom gastassem os mantimentos aos defensores; mas isto não aproveitava cousa que muito prestasse
Crónica de D. João I, 1ª parte, Cap. CXLVIII.

20.1.17

Cada um de nós é uma ilha

Description de cette image, également commentée ci-après
Erik Orsenna, pseudónimo d'Eric Arnoult


«Cada um de nós é uma ilha, não é verdade? Uma ilha rodeada por outras ilhas, separada delas por correntes fáceis ou difíceis de transpor, conforme os dias.» in A Empresa das Índias.

No que me concerne, a transposição já não é questão de dias, mas de horas. Hoje, por exemplo, a travessia foi muito mais fácil às 8h15 do que às 11h45.
Então, por volta das 12h50, as correntes alteraram-se de tal modo que a comunicação terminou.
Parece que o estômago se sobrepõe por inteiro à vontade!

19.1.17

No purgatório

Na aceção mais comum, purgar significa 'purificar através da eliminação de impurezas'.
Nas sociedades democráticas,  a palavra é evitada pois a 'impureza' é reconhecida como uma característica da natureza humana.
No entanto, se observamos a realidade social, verificamos facilmente que os processos de exclusão dos mais fragilizados se multiplicam um pouco por toda a parte.
Nos hospitais e nas prisões, há espaços reservados à impureza física, comportamental e mental - sempre com o fito de preservar a saúde e a paz social.
Nas escolas, os mecanismos de purga coabitam com os de integração, porque, afinal, a escola é o lugar onde tudo é possível -  coage-se o indisciplinado e integra-se o impossível.
Paradoxalmente, os mais astuciosos continuam a usufruir de privilégios que atentam contra a construção da sociedade democrática.
Amanhã, terá início o tempo da purga sem que seja necessário recorrer a qualquer sinónimo mais aliciante.

(Pretexto: a purga de uma garrafa de gás GALP; uma simples bolha de ar pode incomodar, deixando-nos à mercê das temperaturas mais rigorosas...)

18.1.17

Um dia sem história

Um dia sem história, no sentido em que a rotina, embora exigente, esgotou as horas. O frio mostrou-se, obrigou a reforço de agasalho e a acelerar o passo...
Fui, no entanto, dando conta do encantamento artificioso que se eleva sem ousar confessar o objetivo... E depois há o círculo virtuoso, plural, que lembra a colmeia melíflua que matou o zangão.
O ar respira misoginia, descoberta recente, mas decadente...

17.1.17

Felizes os filhos que têm pais e avós...

Felizes os filhos que têm pais e avós e que, assíduos, lhes visitam as casas deixando lá os manuais.
De regresso à escola, sentam-se e conversam sobre assuntos banais, nos intervalos jogam às cartas à espera do tempo das assembleias de turma.
Lá, todos à uma, insurgir-se-ão contra o professor que lhes solicita que abram os manuais na página 90 ( e na 84...), e leiam em silêncio a narrativa o  ato o poema... e sublinhem a conexão posta em igualdade ou em subordinação...
Já não se trata de entender a continuidade da sucessão, a estanqueidade da enumeração… de ter uma perceção sindética ou assindética, mas da lei da permutabilidade dos símbolos.... no  lugar da rosa, a espada, no lugar da espada, a lua cheia ... das nações a nascer, aqui, neste hemisfério, norte...no Tempo com maiúscula...
E os manuais, em casa dos pais e dos avós, enquanto estes não reúnem em assembleia de pais e de avós, para se insurgirem contra… 

16.1.17

A tábua de valores

«Uma tábua de tudo o que é bom está suspensa por cima de cada povo.» (Nietzsche, Zaratustra)

As minhas escolas, extintas ou em atividade, em tudo se assemelham... exceto no que respeita  à autoridade do professor. 
Hoje, impera a desconfiança em relação ao saber do docente. Importa é que consiga gerir a relação de modo a dissimular os conflitos resultantes do desinteresse, da deseducação e da irresponsabilidade coletiva.
Moisés bem tentou disciplinar as tribos com recurso às tábuas da lei ditada por Deus no meio da sarça ardente.
O Deus de Moisés deve estar reformado, caso contrário já teria posto cobro ao faz-de-conta em que navegamos.

(O assento destas pobres ideias só é possível, porque me encontro na mesma situação de Godot - à espera! Entretanto, vou relembrando o tempo em que havia curiosidade, fome de saber, vontade de encontrar um rumo...

15.1.17

Uma histriónica declaração

Numa rua pouco frequentada, surge a imagem furtiva de um velho desgrenhado, zarolho, disforme. Ou será a moldura do enforcado?
Por um instante, penso que eu não serei muito diferente daquele que, de um olho só, espreita ao postigo..., pelo menos, aos olhos da Sofia e da Catarina que aproveitaram para ali deixar uma histriónica declaração de amor sem objeto.

O mais perturbador é que comecei por pensar que estaria perante mais um exemplo de arte de rua, mas o que emerge da observação da tela é que, afinal, devo sofrer de PHP - perturbação histriónica da personalidade, sobretudo ao encaminhar este post para o facebook...
Começa a ser tempo de por cobro a esta perturbação!

14.1.17

Fui ouvir e gostei

A Orquestra Geração do Centro Cultural de Amarante é um projeto de integração social que, desde 2010, incentiva dezenas de jovens a desenvolver através da música valores como a disciplina, a pontualidade, a persistência, o trabalho em grupo, a autoconfiança e a adquirir os conhecimentos necessários que lhes permitam ter um crescimento mais equilibrado proporcionando-lhes melhores perspetivas para o futuro.

Na Sala Polivalente do Centro Cultural de Arte Moderna (F.C.G.), ouvi, esta tarde, durante 45 minutos, uma orquestra constituída por jovens estudantes e respetivos professores, e fiquei profundamente agradado com o desempenho individual e coletivo e, sobretudo, pela confirmação de que a aprendizagem de um instrumento contribui para o acréscimo significativo do rendimento escolar...
Num tempo em que muitos jovens manifestam comportamentos de grande irresponsabilidade, talvez fosse melhor olhar atentamente para o trabalho desenvolvido pelo Centro Cultural de Amarante - Maria Amélia Laranjeira - que, em colaboração com o Agrupamento de Escolas Amadeu de Souza-Cardoso, tem vindo a criar as condições para o desenvolvimento pessoal, social e cultural de uma geração mais motivada e produtiva.

Ver: História do projeto

13.1.17

Ouvir

Ouvir a razão e a falta dela...
Suspender a voz até que o silêncio irrompa...
Provavelmente uma quimera...
O arruído dos cavalos e das lagartas extinto pelas desvairadas vozes de eras mortas

Faltam as vírgulas!
O povo queixoso respira ofegante cheira as rosas indiferente às espadas...

12.1.17

Liquidar para defender o bem comum

O Benfica tinha a segunda maior dívida do futebol europeu, em 2015, segundo revela a UEFA no relatório financeiro publicado esta quinta-feira. De acordo com o documento, os encarnados tinham uma dívida de 336 milhões de euros, com um aumento anual de 3%.

Saldar empresas de que tipo for para satisfazer interesses de minorias significa sacrificar o contribuinte e, sobretudo, aqueles que não têm meios para contribuir para o bem comum...
Sempre pensei assim, e não é agora que vou mudar de ideias. Os milhares de milhões despendidos ( e a despender) para adiar a liquidação de empresas falidas davam para refundar o país.
Os bancos são sorvedouros de infindáveis recursos financeiros porque, para além de mal geridos, alimentam negócios que exploram a idolatria e a idiotia de massas acéfalas.
A engrenagem está à vista, mas poucos exigem o seu desmantelamento, e quando o fazem são ostracizados.

Podia ter escolhido outro exemplo, no entanto o melhor é não fazer vista grossa.

11.1.17

Névoa

Desilusão? Talvez!
No entanto, sinto dificuldade em determinar se houve um tempo de ilusão, no sentido em que o imaginário é o que está por descobrir, por construir, por melhorar...
Sei que a História está cheia de madrugadas radiosas, as minhas, contudo, foram sempre enevoadas, sem que, alguma vez, me tenha imaginado redentor de qualquer ilha ou continente.
Porque a terra é um lugar de tristeza, admiro quem celebra a alegria, porém tudo faço para não me deixar inebriar, porque a fronteira é indistinta.
Apesar de tudo, a névoa em que vivo não é minha - como tal não necessito de padre ou de analista - uma névoa que, a pouco e pouco, submerge as margens em que arrisco cada dia...
Estranho é admitir um qualquer estado de desilusão se nunca a ilusão amanheceu. 
Estou mesmo a ver que, um destes dias, tudo é nada.

10.1.17

Uma escola envergonhada

(A propósito das exéquias de Mário Soares.)

Será que a Escola deve alguma coisa à Democracia? Será a Escola um pilar da Democracia?
Por definição, a Escola pode ser um pilar da Ditadura, tal como o pode ser da Democracia.

Descendo ao particular, cada escola vem reclamando para si uma atuação democrática, mesmo quando suportava a Ditadura...

Na Ditadura e na Democracia, a Escola serve, sendo desejável que não se sirva a si própria...
Por vezes, vem-me à ideia que sou agente de uma escola que, em parte, vive na clandestinidade ou que tem vergonha de defender os valores democráticos...
Entretanto, os inimigos da Democracia não perdem uma oportunidade... 

9.1.17

Os dias da euforia já lá vão!

"Não é a multidão que se esperava!" comentário de repórter da SIC.

Já lá vai o tempo da vassalagem, já lá vai o tempo da arraia-miúda! Nem sequer o Estado tem coragem para mover as "forças vivas"... Ainda se fosse um "herói" da bola... Os deuses de hoje já não são majestáticos, nem iluminam as vidas dos súbditos...
Só o futebol e a religião conseguem aquecer o coração do povo miúdo, aquele povo que vive da caridade, de subsídios, do ordenado mínimo, de pensões depreciadas, de vencimentos estagnados... de promessas por cumprir...
A democracia tem destas coisas - banalizou a morte, até porque se esqueceu da sua própria natureza, ao criar novas oligarquias, inevitavelmente odiosas ao povo miúdo.
E depois há que não esquecer que a História se faz de factos e de correlações, impossíveis de entender quando não tendo memória, o regime se vem esforçando por aboli-la.
Assim, sobra a opinião que é reativa e, em regra, preconceituosa.
Por estes dias, o povo não vê razão para sair à rua... Os dias da euforia já lá vão e neles ficou sepultado um dos protagonistas da instauração do regime democrático - Mário Soares.

8.1.17

Aborrece-me

Aborrece-me que a morte possa ser um espetáculo, mesmo que o falecido tenha sido protagonista de um determinado tempo...
Aborrece-me a memória seletiva dos abutres que vão caindo sobre a presa, esquecidos de outros tempos em que a pobreza coletiva lhes fornecia o pasto diário...
Aborrece-me que quem tem como missão zelar para que a escola seja um espaço de educação e de aprendizagem se comporte como um qualquer garimpeiro...
Há tantas atitudes que me aborrecem que o melhor é remeter-me ao silêncio... 

7.1.17

Mário Soares, a boa moeda

O meu tempo teria sido bem diferente sem a ousadia de Mário Soares! Antes do 25 de Abril sempre soube acolher e defender todos os que pugnavam pela liberdade. Depois do 25 de abril, soube enfrentar as forças que tinham uma visão restritiva da liberdade...
Consciente da fragilidade económica de Portugal, Mário Soares abriu-nos as portas da Europa e do Euro, apesar de bem saber que o interesse dos grandes da União Europeia era distinto do caminho que o país precisava de trilhar... Mas sempre assim fora no passado!
A ousadia de Mário Soares devolveu Portugal à Europa e, no meu caso, livrou-me de uma guerra colonial sem futuro.
Para mim, basta-me este Mário Soares! O outro, o de que tanto se fala, neste momento, não me interessa.

6.1.17

A moeda errada

As palavras escritas correspondem cada vez mais à moeda errada. O seu valor tem vindo a depreciar-se, de tal modo que poucos as leem e os que o fazem calam-nas ou desvalorizam-nas sob a capa do relativismo... da subjetividade.
Esta tendência anda a par com a uma certa ideia de democracia, em que uns tantos insistem em manter (ou recuperar) privilégios de forma consuetudinária...
Se, por uns tempos, a palavra escrita foi uma forma de resistência, isso significava que ainda havia quem se deixasse persuadir pelo argumento ou pela emoção...
Hoje os argumentos são tão incongruentes e as emoções tão artificiais que a pluma já só procura o sulco para nele definhar.

5.1.17

Para que serve a escola?

(Esta nota não visa responder à pergunta: - "Que modelo de gestão para uma escola democrática?" )

Quando o adjetivo pesa mais do que o nome, fico preocupado.
Creio que, num regime democrático do séc. XXI, a pergunta deveria ser: Como construir uma escola que dê resposta às atuais necessidades de educação e de instrução?
Para isso, e não é tarefa fácil, é preciso elencar os objetivos, numa perspetiva de futuro, definir os modos de operacionalização, sem esquecer os diversos recursos que, também eles, serão distintos dos tradicionais...
Sem esta clarificação, de pouco serve refletir sobre modelos de gestão e, em particular, sobre a democraticidade do modelo, pois a participação de todos os atores na decisão, por si, não resolve a questão principal...
De nada serve perspetivar o futuro com os olhos do passado, porque, a continuarmos com a atual disposição mental, a escola será cada vez mais obsoleta.

4.1.17

Aqui, neste lugar, as janelas abrem para um coreto

Aqui, neste lugar, as janelas abrem para um coreto, um dos muitos que existem nesta cidade de Lisboa. Num relance, avisto seis bancos de jardim, quase todos ocupados por silhuetas solitárias. Nas portas do coreto, dois cachos de jovens encontram alternativa à vida escolar. Falam ininterruptamente vá lá saber-se do quê, talvez das imagens que correm por entre os dedos... Ao lado, a esplanada do quiosque, quase sempre repleta de estudantes, forasteiros e aliciadores diversos...
O jardim é constantemente atravessado, sem que o que ali vai acontecendo desperte qualquer tipo de atenção - é um jardim assimétrico - no centro de vias rodoviárias com fluxos de trânsito irregulares... A verdade é que chamam ao lugar Praça José Fontana, embora ninguém saiba quem foi o patrono, qual foi o seu contributo para a criação do partido socialista oitocentista nem para o lançamento dos movimentos sindicais... Envergonhado, também anda por lá um tal Henrique Lopes de Mendonça, autor da letra da marcha A Portuguesa (Hino Nacional). Parece que o município lisboeta, para que o dito Henrique Lopes de Mendonça não permanecesse na clandestinidade, lhe atribuiu o nome ao jardim...
Entretanto, lá fora, só o céu escureceu. E aqui dentro, espero que alguém queira saber quem foram José Fontana e Henriques Lopes de Mendonça... Bem posso esperar!

3.1.17

Desde 2 de janeiro de 1975

Ao serviço da instrução pública desde 2 de Janeiro de 1975, comecei hoje o dia escolar como se nada tivesse ocorrido antes...
Na sala de professores, ainda me perguntaram para quando a aposentação, mas a minha reação foi de indiferença: respondi que o melhor é questionar o Vieira da Silva... ou a Coligação que diz que põe e que repõe, porém, no que me diz respeito, vejo cada vez menos...
Consequentemente, voltei a enfrentar a turma das dez horas com a costumeira rotina, e lá ataquei o Fernão Lopes e a revolução de 1383-1385, que é como quem diz, lá me esforcei por contextualizar o conteúdo, ordenando os factos, a nosso favor, porque o D. João de Castela decidira desrespeitar os tratados com o pretexto de que a "aleivosa" lhe prejudicava a ideia de estender a hegemonia de Castela a toda a Península Ibérica...
Claro que os jovens saíram apressados, sem querer saber de "tempos de mudança"...
Lá, no fundo, a culpa disto tudo é do velho Álvaro Pais e de um letrado, de seu nome, João de Aregas, hoje esquecido na Praça da Figueira...

2.1.17

É poucochinho

«Il faut épouser son temps», avait un jour lancé le peintre Daumier à Ingres. «Et si le temps a tort?» lui avait répliqué le néo-classique. (Grégoire Delacourt, 2015, Les Quatre Saisons de l'Été, pp 233-234, Le Livre de Poche.

Daquilo que ouvi, ontem, ao Presidente da República, fiquei convencido de que ele sabe agradar a todos, pois é isso que todos esperam dele.
Uns ficaram satisfeitos porque ele elogiou a Coligação; outros ficaram agradados porque ele enviou recados à necessidade do Governo corrigir o rumo, designadamente em termos de investimento, desenvolvimento da economia e da diminuição do desemprego...
E tudo o que disse foi para uma plateia que parece existir para além dos agentes político-partidários - uma plateia que sorri facilmente, que se entusiasma com discursos redondos, sem espinha dorsal.
O Presidente da República de ontem fez-me lembrar um ator que sobe ao palco para agradar à plateia, independentemente das convicções de cada um... talvez porque as convicções de cada um sejam cada mais frágeis...   
Há quem diga que o discurso foi muito bom, pode ser, mas não vi (nem ouvi nele) nada que possa desfazer as contradições que minam a Coligação... a não ser o otimismo, a esperança!

1.1.17

Aqui, nesta terra, as portas abrem para o Céu

Aqui, nesta terra, está tudo encerrado, exceto a Igreja cujas portas abrem, mas para o Céu...
Aqui nesta terra, não é possível ter acesso ao Magazine de Notícias, do DN, em edição especial, que dá conta dos trabalhos de Guterres, no passado e, sobretudo, doravante nas Nações Unidas... Não é possível ter acesso à sombra de Guterres, a esse enigmático Melícias, doravante diretor espiritual da humanidade...
Creio que, até hoje,  a Terra nunca teve um diretor espiritual que lhe pudesse abrir as portas do Céu... 
Os Poderosos deste mundo desunido que se cuidem!