31.10.16

Os Frutos da Terra, de Knut Hamsun

Embora haja quem o considere o autor europeu mais influente em 1920, ano em que lhe foi atribuído o prémio Nobel de Literatura, a verdade é que, até esta data, eu nunca lera nada do norueguês Knut Hamsun (1859-1952).
Acabo de ler Os Frutos da Terra (1917), romance que me foi oferecido com uma menção que me deixou perplexo - esta narrativa corresponderia ao meu rosto... Li-o, assim, na perspetiva do margrave Isak, o colono que ousou desbravar terras norueguesas inóspitas próximas da Suécia...
Esclareça-se desde já que desconhecia por inteiro o termo "margrave" e, sobretudo, que significa "título dado outrora aos príncipes soberanos de certos estados fronteiriços da Alemanha." Quanto ao título, não vejo razão para que alguém me considere "margrave", apesar de, por vezes, me sentir posto à margem, e não senhor da "margem", relembrando, agora, que um dia distante, Maria de Lurdes Pintasilgo me terá dito que toda a margem tem um centro...
De qualquer modo, li as 382 páginas em muito pouco tempo, pois a narração é suficientemente diversificada para, a partir de um núcleo - Sellanraa - se dispersar por vários caminhos que põem diante do leitor: a apologia da sociedade agrícola, a fraqueza do dinheiro, a precariedade da vida urbana e principalmente dos valores em que esta assenta, sem esquecer a fogosidade da mulher, capaz de incensar o companheiro, mas também de o desprezar e de matar os próprios filhos...
O romance termina com a vitória do modelo rural sobre a modernidade, abrindo caminho a um certo de tipo de sociedade patriarcal que tantos estragos viria a provocar na primeira metade do século XX... o que, talvez, explique a simpatia de Knut Hamsun pelo regime nazi...
Enfim, apesar de publicado em 1917, não encontrei qualquer referência à Primeira Grande Guerra. Explosões só as resultantes da extração de azurite - pedra ideal para eliminar os obstáculos que se nos atravessam na vida.

30.10.16

Uma alfarrobeira!


Uma alfarrobeira! Esta situa-se na Portela.
Há anos que a observo, um pouco surpreendido pois não vislumbro outra por perto...
O nome árabe começou por designar "vagem", depois o povo encarregou-se de misturar as línguas, por um processo bem simples... Se a árvore se distinguia pela suas vagens, nada impedia que com um prefixo árabe e um sufixo comum "eira", o compósito designasse o todo.  Nada que eu não descubra em mim próprio: nascido com algum "cabelo", logo houve quem lhe acrescentasse o sufixo "eira". Esqueceram-se, no entanto, do prefixo "al", provavelmente porque a Inquisição andava mais ocupada em acabar com os judeus...
Nada disto fará sentido. Todavia, um destes dias, a alfarrobeira interpelou-me: o cheiro que ela libertava era tão intenso que, de súbito, me ocorreu que na minha aldeia (terra de figueiras) também terá existido uma alfarrobeira... e ao cheiro associei um sabor adocicado. Só não sei onde é que crescia tal alfarrobeira! Talvez no adro da capela de Nossa Senhora da Luz!  

29.10.16

Da Biblioteca Nacional ao C.C. Vasco da Gama

Durante a manhã, entrei na Biblioteca Nacional, em Lisboa. O objetivo era ver a exposição sobre Vergílio Ferreira, nascido em 1916. Situada na "sala de referência", a exposição ocupa uma parede, não toda, porque ainda há espaço para expor o acervo traduzido de Bob Dylan, recente prémio nobel da literatura, que Vergílio bem gostaria de ter recebido... De tudo o que observei, fica-me na retina a letra miudinha do autor, homem certamente tímido e introvertido. E também a máquina fotográfica, ferramenta imprescindível ao "realismo" do escritor...
O espaço silencioso daquela sala convida a que se revisite os catálogos e por entre eles acabei por descobrir o Cancioneiro Geral de Garcia de Resende (1516), com inevitável alusão ao Prólogo, mas o que, desta vez, despertou a minha atenção foi o volumoso in-fólio inquisitorial, onde o Censor dá prova de atenta leitura, ao apontar de forma minuciosa as passagens que teriam de ser cortadas.
Sem querer referir todas as pequenas "celebrações", convém, no entanto, não perder a exposição Da Feliz Lusitânia à Felix Belém.
Em síntese, talvez por ser sábado, fiquei com a sensação de que a BN já terá sido um lugar mais procurado - havia 10 leitores na Sala de Leitura Principal.

Durante a tarde, desloquei-me ao Centro Comercial Vasco da Gama. O bulício era tal que cheguei a pensar que o Natal estaria à porta.

28.10.16

Na morte

Na morte, aplaudimos.
Selecionamos os lugares, as ações, os acontecimentos em que tudo foi harmonia, entrega, paixão e amor ao próximo.
Na morte, somos filhos do único deus que nos concebeu sem mácula, que proibiu as fraquezas...
Na morte, estamos todos de acordo.

Em vida, a inveja cega. O interesse esmaga. A vaidade despreza...

Na morte, batemos palmas. Não se sabe é a quem...

27.10.16

O problema de José Sócrates

Mas o que torna uma liderança carismática? Sócrates responde. “As lideranças carismáticas são, muitas vezes, um produto das crises. As pessoas revelam-se nessas alturas de crise. O carisma é sempre algo de excecional, de fora do comum. O maior inimigo do carisma é a rotina”. Em entrevista à TVI

Carisma. S.m. 1. Força divina conferida a uma pessoa mas em vista da necessidade ou utilidade da comunidade religiosa. 2. Epilepsia (v. carismático*). 3. Atribuição a outrem de qualidades especiais de liderança, derivadas de sanção divina, mágica, diabólica, ou apenas de individualidade excecional. 4. O conjunto dessas qualidades.

José Sócrates tudo faz para vender o novo livro, escrito a quatro, seis mãos...
Ataca agora António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa porque lhes falta CARISMA. Ainda bem!
Ele, sim, é um líder carismático porque soube enfrentar a crise. Será que alguém duvida do seu contributo para a solução dos problemas dos portugueses? Ele está convencido de que é nos momentos de crise que se revelam os líderes carismáticos. Eu também, acredito que a liderança pode afirmar-se nessa situação.
Só que dispenso o "carisma", pois se há alguém que se tornou «popular» e "célebre" durante e após a crise foi ele, José Sócrates. E porquê? Porque lhe faltou a necessária educação para destrinçar  o que é do interesse público do que é do interesse pessoal... e seus amigos.
O problema de José Sócrates é um problema axiológico. E já é tarde para aprender que nem todos os meios justificam os fins. Dir-se-á que Sócrates nunca leu Maquiavel ou, pior, não sabe lê-lo! 

26.10.16

Só vejo deseducação...

« In rem omnem diligentia.» Cíc. Fam.

Hiperatividade. Déficit de atenção. Estes conceitos dominam o discurso de pedagogos, psicólogos, pais e docentes.
Tempos houve que bastava a noção de desatenção. Dispersão.
Avesso a modas, fui observando os comportamentos e dei conta de que a indisciplina  se ia instalando - primeiro combateu-se a disciplina do Estado Novo, e, mais tarde, a vontade democrática passou a ordenar...
Entretanto, com a instalação do pântano democrático e o consequente desmoronamento dos valores, a hiperatividade e o déficit de atenção instalaram-se...
Quanto mim, só vejo deseducação.

Os Antigos bem sabiam que o sucesso  só  estava ao alcance de quem se concentrava totalmente no objetivo.

25.10.16

A arte e a bestialidade humana

Conhecer o território? Compreender as migrações, forçadas ou não, e o seu contributo para a dignificação, por exemplo, da mulher nas cortes do nordeste peninsular? Perceber que a cortesia ( o amor cortês) foi essencial para a elevação da condição feminina na Idade Média pouca interessa...
Afinal, em termos civilizacionais, a arte parece ser pouco mais do que um ato gratuito, fruto da ociosidade de alguns, privilegiados, ou um serviço prestado a um mecenas, ávido de glória terrena e de reconhecimento eterno.
E mesmo que assim fosse, a boçalidade reinante é tão impulsiva que falta o tempo para olhar o passado como lugar e tempo de aprendizagem... Porém, sobra tempo para dar expressão a tudo aquilo que a Arte, desde sempre, procurou combater: a bestialidade humana.

(Este apontamento assinala os hiatos em que a voz se cala para ouvir as verdades babélicas que crescem sem qualquer freio... Se as deixarmos à solta, a Torre acabará por ruir.)

24.10.16

Das palavras, hoje

Umas são caras, outras raras, sem esquecer as feias - as palavras.
Hoje, aprendi que "discípulo" é uma palavra feia.
Ontem, descobri que há palavras inefáveis, de tão raras. Por exemplo, "polissénantica"!
Há dois dias, soube que 'obsceno' é o termo adequado ao nível lexical da "oratória".
Há até palavras que mudam de fatiota de acordo com a essência do locutor: "incenscial", "icensial", "incensial"
- Que tal vai a mixórdia? Numa versão de última hora: - Que tal vai a "michórdia"?

23.10.16

No museu de Cerâmica de Sacavém


Por mais que o queiramos ignorar, a verdade é que envelhecemos, o que não quer dizer que o tempo passe e, sobretudo, que tudo possa desculpar, em particular, a mistificação.
No Museu de Cerâmica de Sacavém, duas exposições a não perder: uma sobre os móveis OLAIO, empresa que não conseguiu sobreviver aos ventos democráticos; outra sobre a Fábrica de Loiça de Sacavém, definitivamente perdida, no dia em que as FP25 assassinaram o administrador, Diamantino Bernardo Monteiro Pereira. 
A visita a estas duas exposições é um bom testemunho do que aconteceu em Portugal com o desmantelamento de muitas empresas, apesar do slogan de Abril SACAVÉM EM LIBERDADE É OUTRA LOIÇA!... 

22.10.16

Woody Allen, 2016

Resultado de imagem para Café SocietyNovo filme, bem realizado, simpático, com os temas de sempre, embora com um ajuste de contas entre Hollywood e Nova Iorque. Os judeus noviorquinos, para o bem e para o mal, superam a artificialidade hollywoodesca.
Claro que há outras contas por ajustar entre o judaísmo e o cristianismo, entre a identidade e a alteridade...
E, principalmente, na música e nos amores, o que predomina é a autorreferencialidade, mesmo que o  realizador já tenha dobrado o cabo dos 80 anos...

Quanto ao público, na maioria, já dobrara os 60 anos... e continua a rir, como sempre... Por vezes, parece que ri de si próprio.  

21.10.16

Sibilas ressabiadas

"Vem aí mau tempo. Inundações e cheias nos próximos dias" - diz a notícia... que prevê. Outrora, a notícia informava.

E nós, indiferentes ao oráculo! E nós, desconfiados do oráculo, pois este só anuncia a catástrofe quando pode tirar proveito ou, pelo menos, tomar partido...
No que me concerne, detesto a astrologia, sobretudo, porque ela passou a ditar os acontecimentos que bem podiam ser diferentes se não lhes dessemos tanta atenção.
As notícias são cada vez mais promessas de sibilas ressabiadas. A comunicação social está pejada dessa espécie satânica, e o mal que provoca é incalculável...

20.10.16

Viva a Propaganda!

Mário Draghi: «...são necessárias reformas ambiciosas e o governo português sabe disso

Há anos que, por esta altura, surge este estribilho. É o momento em que se apresenta e debate o OGE.
Mudam os Governos e o estribilho regressa. O que me intriga é que ninguém explicita quais são as reformas adequadas ao país... e na verdade, nos últimos anos, não foi feita qualquer reforma, a não ser cortar nas reformas e... adiar as reformas... 

O resto é propaganda! Finge-se que se repõem vencimentos e reformas, mas não é possível repor o que se perdeu ou o que se não progrediu, até porque, em simultâneo, as taxas e as multas multiplicam-se... O que diminuiu foi o consumo, embora se persista em insistir no contrário...
Entretanto, em finais de 2016, seremos menos 0,4%!

PS. Reposto o vencimento de  2011, aplicadas as deduções referentes à ADSE, CGA e IRS, acabo de verificar que passei a receber menos. Viva a Propaganda!

19.10.16

Riem em coro...

Eles não sabem, nem sei se algum dia chegarão a saber, mas deste modo não irão a lado nenhum... O esforço é mínimo, a convicção máxima; já pouco lhes resta por aprender.
Provavelmente, argumentarão que já não há onde ir, e que eu há muito o devia saber - o país já foi; resta uma múmia para turista visitar.
Entretanto, riem em coro, não sabendo porquê, talvez do que 'acham' ver: ninguém pensa, imagina, estima, acredita, crê... apenas 'acha', e 'acham' a todas as horas, em todos os lugares, independentemente da situação, porque estas são todas iguais, as situações...
Alinhados, lembram-me os periquitos de colar, uma espécie exótica que esvoaça ruidosamente sempre que um espectro se move na copa dos plátanos...
O que parece gratuito e absurdo é, afinal, consistente e lógico!

18.10.16

E eu nada posso!

Agora que a persiana voltou a subir, a luz dilui-se na fachada, e, por cima do prédio, as nuvens cinzentas imobilizam-se numa promessa ambígua, apesar do braço do Tejo, sequioso, serpentear o verde aluvião resultante do desleixo humano...
A fachada divide-se, agora, em duas, e no topo, a luz torna-se mais solar; por seu turno, o rio escurece à espera que a nuvem cumpra o seu destino.
Os olhos distraem-se da atenção do dia - ruas cheias de manjedouras, intermináveis filas de carros, leituras cruzadas na sala de aula -, perscrutando quatro parabólicas de antanho, esquecidas ou que, talvez, esperem captar um qualquer sinal extraterrestre...
Entretanto, a luz continua a subir a fachada, deixando as persianas na sombra... as nuvens estão, agora, numa fase de diluimento, alongando a toalha, ambígua, sobre o Tejo, à esquerda...
E eu nada posso! 

17.10.16

O gesto absurdo

É quase noite! Ou melhor, a luz solar vai diminuindo... de súbito, quando decidira verificar se a luz artificial se anunciava, a persiana baixou, indiferente ao desejo, absurdo.
Segundos antes, pensara que aos leitores só interessam as primeiras palavras, e não querendo ceder à gulodice, caio na dúvida se o sentido ainda existe, absurdo.
Nesse intervalo, relembro o gesto, absurdo, em plena rotunda do relógio - abro a porta, verifico se o cinto ficara preso, ou talvez a aba do casaco, azul às riscas, vinte anos, vestido pela primeira vez na defesa de uma leitura imagológica, absurda como o tempo se encarregou de provar... afinal, a senhora, a mando do marido, queria saber para que lado ficava o aeroporto.
Do outro lado da rotunda, ainda avistei uma interminável fila de taxistas da semana anterior, absurda - só eu é que a via; o casal não queria saber da luta, só queria as chegadas ou, melhor ainda, as partidas...
Se a alvorada fosse minha, teria partido em vez de ficar a pensar no gesto absurdo, pois o que a senhora queria de mim era que eu baixasse o vidro naquele semáforo que, entretanto, passara a verde, indiferente ao casaco absurdo que um dia fora comprado para celebrar uma iniciação absurda...
Se o leitor chegasse ao absurdo do dia que anoitece, cerraria as pálpebras e, no absurdo, ficaria até que o semáforo se esfumasse.  

16.10.16

Costureira, me confesso

Se cada ano fosse apenas um dia, estaria, hoje, a iniciar o sexagésimo segundo dia - um trilho cuja duração não parece ter sido definida à partida, isto contrariando o Diderot, para quem tudo estado está escrito "lá-haut, dans le grand rouleau"... Claro que este dia incluiria a noite, a grande mistificadora...
Às voltas com um PC que, a cada passo, interrompe a elaboração de um qualquer teste, porque lhe apetece ou porque entende que eu, hoje, deveria entrar em modo de pausa... concentro-me numa afirmação, para mim, inesperada de Claude Lévi-Strauss e relembro o Sartre e, em particular, o Vergílio Ferreira:

«Quanto à corrente de pensamento que iria expandir-se com o existencialismo, parecia-me que representava o contrário de uma reflexão válida em virtude da complacência que demonstrava relativamente às ilusões da subjetividade. Essa promoção das preocupações pessoais à dignidade de problemas filosóficos implica um risco de desembocar numa espécie de metafísica para costureiras...»
                             Claude Lévi-Strauss, Os Tristes Trópicos.

A verdade é que, não sendo capaz de formular um problema filosófico em que eu não participe, me vejo, ao sexagésimo segundo dia, incapaz de vislumbrar o fim do trilho, caindo, assim, numa abordagem própria de uma exemplar costureira que só dá a obra por terminada quando o fio se quebra...

15.10.16

Até amanhã!

Depois da estranheza do prémio nobel de literatura atribuído a Bob Dylan, da morte de José Lello, da apresentação do orçamento recheado de "toma e tira" para que o poder não lhes fuja... exposição de orquídeas na Estufa Fria (só até amanhã!), e assim como quem não quer saber do que se está a  passar em Alepo, uma hora e quarenta e seis minutos na Sala Manoel de Oliveira - 17ª Festa do Cinema Francês - também só até amanhã!
"Les Malheurs de Sophie" (ou Les Désastres de Sophie?), uma comédia dramática, por vezes hilariante, mas um pouco violenta para crianças de seis ou sete anos. Bien sûr, a culpa é da madrasta! Eu acabei por sair cansado...
Até amanhã!

14.10.16

O 'menino de ouro' está mais pobre

José Lello, o socialista amigo
 «Em 1979 fui candidato à Assembleia, mas não quis ser deputado...» Porquê? « Ganhava-se mal. 48 contos ou isso. Eu tinha comprado casa, estava a ganhar dinheiro no privado.»
(...)
«Sempre estive nas minorias, mas nem por isso deixei de ter cargos relevantes. Mas é nessa altura, estava o Ferro na liderança, que começamos a fazer a campanha do Sócrates. E ele não queria; era do secretariado do Ferro... Estamos na altura do Durão Barroso, fazíamos uns jantares, começou-se a colocar coisas na imprensa... E ele ficava furioso, achava que era uma coisa indelicada. Mas nós não tínhamos nada a ver com isso, éramos claramente contra o Ferro.» 
(...)
«Era um grupo forte e onde estava o Serrasqueiro, o Renato Sampaio. O Costa também vinha aos nossos jantares. O Pina Moura. Foi aí que surgiu o "menino de ouro"... E, de repente, o Santana cai e o Ferro demite-se. (...) E pronto, ele apareceu, nós já tínhamos feito o levantamento das federações todas - é assim que se trata da mercearia partidária. E ele ganhou claramente as eleições
        (Transcrições da entrevista dada por José Lello ao jornal i, 19 de setembro de 2015)

Em 19.09.2015, postei, neste blogue, um pequeno comentário sobre "o socialista amigo". Acabo de saber que faleceu, o que confirma que, em questões de vida e de morte, a mercearia partidária nada pode. Paz à sua alma!
Entretanto, logo, pela manhã, ouvi na rádio que o 'menino de ouro' vai publicar novo livro, baseado na 'sua' dissertação de doutoramento sobre o CARISMA.
Na dúvida, fui consultar o Médio Dicionário Aurélio que transcrevo:

 Carisma. S.m. 1. Força divina conferida a uma pessoa mas em vista da necessidade ou utilidade da comunidade religiosa. 2. Epilepsia (v. carismático*). 3. Atribuição a outrem de qualidades especiais de liderança, derivadas de sanção divina, mágica, diabólica, ou apenas de individualidade excecional. 4. O conjunto dessas qualidades.

* Outrora, se um condenado à morte sofria um ataque epilético, recebia o perdão, por acreditar-se ter sido visitado pela graça divina. 

Em síntese, o "menino de ouro" está mais pobre, porque partiu um dos amigos que mais contribuiu para que o engenheiro acreditasse que era fruto de sanção divina, no caso, redentora... ou que tinha sido escolhido pelo Supremo Arquiteto para tal missão...

13.10.16

Não vou louvar nem deplorar

O Bob Dylan ganha o Prémio Nobel da Literatura! Pois é, não vou louvar nem deplorar. É um pouco tarde para o fazer...
Registo. Para mim, é quanto basta!
A Literatura é uma casa muita antiga que, de verdade, abarca quase tudo. E no início, as palavras preenchiam os ritmos e davam voz ao que os corpos não conseguiam expressar e, sobretudo, eram as âncoras da memória...
Sem a palavra da canção, os ritmos iniciais teriam desaparecido com os corpos. A Literatura consagra essa relação.
Quanto ao Prémio Nobel da Literatura, não sei.

12.10.16

Divulgação em linha de dados pessoais pelas escolas

A Comissão Nacional de Protecção de Dados (CNPD) condena numa deliberação recente o que considera ser “uma prática generalizada” de divulgar dados pessoais dos alunos nos sites das escolas, como as pautas com as classificações, imagens dos menores e os horários lectivos. E alerta para os riscos que esta publicação traz para essas crianças e jovens, nomeadamente para a sua segurança.

Com base no princípio da confiança, escarrapachamos cada vez mais informação nos sítios das escolas e, particularmente, em bases de dados que, em teoria, visam acelerar a comunicação, como, por exemplo, com 'programas' que gerem a vida académica dos alunos...
Para além de colocarem em linha a fotografia de cada aluno, a respetiva avaliação, a constituição das turmas, as faltas, o calendário de testes e as atividades extracurriculares, estas bases de dados identificam os alunos com necessidades educativas especiais, abrangidos pela Ação Social Escolar... e outros apoios educativos solicitados pelos professores...
Vivendo numa sociedade que prefere a devassa à discrição, o melhor é aplicar as recomendações da Comissão Nacional de Dados... antes que seja tarde!


11.10.16

"À la esquerda"

Não há ninguém que explique à senhora Cristas que aquela expressão que ela vai repetindo... "temos uma austeridade à la esquerda" soa bastante mal e não funciona como slogan político.
A senhora é mãe de filhos e como tal não lhes devia servir maus exemplos linguísticos. No colégio, as crianças marcharão "à la esquerda", o que é pouco habitual no ensino privado em Portugal... Discriminados, os petizes acabarão por ter dificuldades de adaptação e um fraco domínio da língua materna, hipotecando o seu futuro e o da mátria, como diria a Natália Correia.

10.10.16

Estou a sentir-me bloqueado

Acabei de passar na segunda circular, mesmo ao lado da rotunda do relógio. Na primeira, o trânsito fluía; na segunda, tudo atafulhado.
Cheios de "razão", os taxistas bloqueiam os acessos ao aeroporto e asseguram estar preparados para acampar por ali, comendo uma sopinha e um franguinho assado... De alcool, ninguém fala!
Os turistas ( e não só!) lá vão arrastando as malas; uns procuram chegar ao avião; outros, procuram a cidade, pensando que os hotéis ficam perto...
A causa parece estar na concorrência, invisível e mais económica! Creio, contudo, que o imobilismo é a principal causa...
Como sempre, sobreviverá quem souber adaptar-se às circunstâncias...
Quanto ao Governo, ouvi dizer que o ministro do ambiente estaria envolvido nas negociações. Não percebo porquê, embora isto já cheire bastante mal...

(Amanhã, lá terei que ligar o GPS mental para não me deixar bloquear.)  


9.10.16

Os poetas do Al Andaluz

"Se fossemos realistas, saberíamos que a alegria é um luxo e que a tristeza é o estado natural do homem... " De chofre


Não sei se "o meu coração é árabe", nem se tal faz algum sentido, o que sei é que o CANTO ONDO soube escolher e musicar belos poemas para contrariar o meu estado de resignação.
No Museu Calouste Gulbenkian, com vista para o núcleo de arte islâmica, o CANTO ONDO trouxe de volta alguma poesia do Al Andaluz português, de que destaco os seguintes versos:

Acaso te deixarás conduzir
pela tristeza até à morte
Enquanto o alaúde tocar
e o vinho fresco
Estão aí à tua espera?
Que as preocupações
não se tornem senhoras
de ti à viva força
Enquanto a taça for
uma espada cintilante
na tua mão.

AL MUTAMID, REI POETA AL ANDALUZ, BEJA, séc. XI

7.10.16

O leitor, a literatura e a política

Como leitor, deixei de obedecer a um plano de leitura.
Agora, estou a ler "Tristes Trópicos", de Claude Lévi-Strauss, uma obra quase da minha idade. Estarei atrasado, mas de nada serve apressar-me, até porque noutros tempos li imensos livros que já esqueci...
De junho para cá, li dois romances de Stendhal, um autor fascinante - Le Rouge et Le Noir e Lucien Leuwen.
Stendhal retrata de forma impiedosa a França  dos finais do séc. XVIII e as primeiras décadas do século XIX, sobretudo, a vida na capital e na província - universos distintos - mas conduzidos por único valor: o dinheiro. Claro que o amor, nas suas múltiplas máscaras, está sempre presente, porém, sobretudo, em Lucien Leuwen, não escapa às manobras ( nem sempre do protagonista) que conduzem à busca de uma melhor posição social e ao enriquecimento...
Todos querem enriquecer! Banqueiros, Ministros, Deputados, Presidentes de Câmara, Prefeitos... e, como tal, tudo fazem para eliminar quem quer que se lhes atravesse no caminho...
Ler Stendhal é conhecer um pouco melhor os bastidores da atual política portuguesa, inscrita no paradigma resultante do 25 de Abril. Bem sei que a ideia não é simpática, mas realistas e republicanos pós-revolução francesa comungavam do mesmo objetivo..
Numa perspetiva de história literária, vale a pena cotejar Stendhal com Almeida Garrett. Nenhum deles tinha ilusões quanto ao sentido da mudança..., pelo menos, para este leitor.

6.10.16

Não temos perdão!

Perdão fiscal?
Será efeito da escolha de António Guterres para Secretário-geral das Nações Unidas?
Ou antecipação da inevitável amnistia para assinalar a vinda do Papa a Portugal, em 2017, para celebrar os 100 anos das Aparições de Fátima?

Não temos perdão!
Como nem Guterres nem o Papa Francisco conseguirão o milagre de nos libertar da dívida, vamos continuar de mão estendida por tempo indeterminado...

5.10.16

O António Guterres que se cuide!

A rapaziada republicana está eufórica!
O pior é que ela acredita que a escolha do António Guterres para Secretário-geral das Nações Unidas foi obra sua...
Eu, por mim, estou convencido que os dois votos de desencorajamento são daqueles países que não compreendem por que motivo os partidos políticos portugueses devem continuar isentos de pagar o IMI.
O António Guterres que se cuide! O número de amigos está a aumentar a olhos vistos, começando pelos bancos da escola...

A rapaziada republicana

Definição: estigmatizar - marcar com ferrete, por pena infamante; acoimar, tachar. (Médio Dicionário Aurélio)

A propósito da cobrança de IMI, o republicano Montenegro disse ao DN: "Nós não compreendemos que se queira agora estigmatizar os partidos."

E parece que o cavalheiro anda em boa companhia. Os republicanos PSD, PS e PCP pensam do mesmo modo.
No dia em que se celebra a implantação da República, a rapaziada republicana quer conservar os velhos hábitos do Antigo Regime - de fora, ficam a Igreja, os Partidos, o Estado, as Fundações... 
Afinal, quem é que merece ser acoimado? De certo, o povo. Esse, sim, continuará a pagar o IMI e todas as taxas que o Governo e o Parlamento bem quiserem, até porque há quem tenha posto a circular que o ministro da Fazenda nos vai cobrar mais de 17 mil milhões até 31 de dezembro de 2016. Só para cumprir promessas!



4.10.16

Tal como as línguas, o saber é dinâmico

A investigação nas áreas do conhecimento cresceu de tal forma que o saber pressupõe cada vez menos certezas e, principalmente, exige uma abordagem cada vez mais relativizada, porque, apesar da overdose informativa, há sempre dados que escapam ao sábio...
É até questionável se ainda existem sábios, apesar dos governos, por vezes, apostarem em comités de sábios para, supostamente, se aconselharem aos olhos da opinião pública.
Como tal, não faz sentido a memorização de saberes, a não ser que se queira construir um modelo de sociedade ( e de conhecimento) assente em dogmas... Claro que é possível ( e vantajoso) adquirir certos automatismos, como, por exemplo, exercitar o cálculo mental e interiorizar os jogos de linguagem.
O saber pressupõe o manejo de ferramentas que vão mudando de época para época, mas não se esgota nelas. Surge frequentemente o argumento "de que os portugueses sabem de mais" e que o nosso futuro está na aposta no ensino profissional. Recentemente, um ministro defendeu 50% de cursos profissionais nas escolas portuguesas... Por detrás, habita a ideia de que nos basta memorizar uns tantos saberes sobre nós e os outros, e que o fundamental é lançar mãos à obra.
Ora, no mundo em que vivemos, as obras, velhas ou novas, exigem cada vez mais investigação que alavanque os saberes. Tal como as línguas, o saber é dinâmico. 

3.10.16

Sortes distintas para o prevaricador

Asfixiamos! A pressão, em certas épocas do ano, aumenta exponencialmente. Agora é a discussão do orçamento! Agora é o reinício do ano escolar!
Quer-se que o orçamento satisfaça os interesses das clientelas partidárias e, em simultâneo, seja capaz de agregar cada vez mais neófitos. Pouco interessa se há ou não recursos próprios, porque a expectativa vive do financiamento externo e julga razoável que o crédito possa ser ilimitado... e, sobretudo, que a amortização seja adiada indeterminadamente...
Quer-se que a escola seja um espaço acolhedor, com boa comida e festança, sobretudo, muita harmonia. Para tal, gizam-se atividades sem fim, integradoras e transversais, mesmo se os conteúdos essenciais ficam por assimilar por falta de tempo e de monitorização.
Com a pressão a aumentar, as taxas de juro não param de cantar. Só na escola, se a pressão aumenta, a solução é fácil, pois basta um ou dois processos disciplinares, e manda-se o prevaricador bugiar...


1.10.16

À sua maneira!

A maioria dos alunos frequenta o 10º ano pela primeira vez. Solicitei-lhes, à laia de diagnóstico, que escrevessem sobre o tema "As minhas Escolas".
E fizeram-no de forma responsável. Nem todos se lembravam do nome das escolas; outros, preferiram omiti-lo ou terão pensado que essa informação não era relevante...
Até ao momento, já registei o nome de 45 escolas da Grande Lisboa. De algumas, é possível colher dados rigorosos sobre o espaço físico, mas, na maioria, o que, sobretudo, aflora é a avaliação centrada na relação entre alunos, na existência de espaços favoráveis ao divertimento e, por vezes, no clima de bullying que se abatia sobre rapazes e raparigas, sem omitirem que a violência do meio entrava portas dentro e tornava o ambiente muito pesado.
No geral, estes alunos iniciaram o percurso escolar em espaços acanhados, mas simpáticos, para depois transitarem para espaços mais vastos, nem sempre acolhedores. Cada um fez o seu caminho com maior ou menor dificuldade, gratos a funcionários e a professores, mas nem a todos... indo ao ponto de dar conta de situações abusivas da parte dos adultos... Nem todos revelam ter grande consideração pela "escola", mas acabam por reconhecer que sem ela estiveram a hipotecar o futuro.
De qualquer modo, ainda não perderam a esperança de serem felizes no presente e no futuro. À sua maneira!