10.8.16

Ponte aérea durante o Verão Quente de 1975

«Havia quem defendesse (no Conselho dos 20, um dos órgãos do MFA) que os não devíamos ajudar, porque eram fascistas. Lembro-me do tempo que se perdeu com esta discussão e que a reunião foi inconclusiva a este respeito.» Vieira de Almeida, ministro da Economia nomeado por Portugal para o Governo de transição saído do Acordo de Alvor, assinado a 15 de Janeiro de 1975.

O tenente-coronel Gonçalves Ribeiro acabou por ser o responsável pela ponte aérea. É provável que os mais de 200.000 portugueses saído no âmbito da ponte aérea devam a Gonçalves Ribeiro o facto de lhes terem sido postos à disposição os meios de fuga.
Gonçalves Ribeiro chegara a Angola em 1972 para uma comissão de serviço de dois anos. A mulher e os filhos regressaram a Portugal em agosto de 1974, mas ele optou por prolongar a sua permanência na ainda colónia portuguesa. Integrou o Governo provisório que administrou o território até ao Acordo de Alvor. Em 1975, transitou para o gabinete do Alto-Comissário Silva Cardoso, que substituíra o almirante Rosa Coutinho no cargo…
Em junho de 1975, «Portugal relegou a descolonização para plano subalterno. E, no entanto, faltavam ainda cinco meses para a data da independência de Angola estabelecida em Alvor.»
A 11 de Junho de 1975, o tenente-coronel Gonçalves Ribeiro desloca-se de Luanda a Lisboa, reunindo com a Comissão Nacional de Descolonização, onde defendeu que a TAP «estava muito longe de poder fornecer os meios necessários à saída da população branca. Um problema que não tem merecido o mínimo de atenção por parte do Governo», queixava-se. Naquela reunião, informou que, em Luanda, já havia 50.000 desalojados, vindos de outras áreas de Angola. E os pedidos de reserva de transporte para a metrópole ascendiam a 140.000.
Em maio de 1975, havia três exércitos em Luanda e cada um se considerava dono e senhor da cidade. A segunda batalha de Luanda seria desencadeada no início de julho. O MPLA acaba por dominar a maior parte da capital. Para a comunidade portuguesa, acentuava-se a urgência da partida.
Em Lisboa, acreditava-se que uma nova cimeira poria termo à guerra entre os três movimentos de libertação. MPLA, FNLA e UNITA reuniram-se entre 16 e 21 de junho, em Nakuru, no Quénia, sem que Portugal estivesse representado – o que violava uma das cláusulas do Acordo de Alvor. No texto de Nakuru, não foi feita qualquer referência a Portugal.
Entretanto, o MPLA estava a receber armamento pesado vindo da União Soviética e de outros países do Leste europeu. E a FNLA alimentava os cofres com dólares vindos dos Estados Unidos.  Era a lógica do conflito Leste-Oeste.
Para Gonçalves Ribeiro, havia que “aguentar” com um mínimo de dignidade: « E se queriam partir (os militares) tínhamos de os  trazer (os portugueses). Os militares não podiam partir, deixando lá abandonados aqueles que queriam vir embora
(a continuar)

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