5.8.16

O que os move...

Em 2005, o JL (6-19 julho) perguntava a Manuel Alegre: - Consideras-te um narciso ou não? Estás ou não no centro da tua obra? Ao que Alegre respondeu: «Eu acho que, de uma maneira ou de outra, todos os artistas estão no centro da sua obra.»

E se lermos um pouco mais da entrevista, ficamos a compreender que o escritor tem ideias claras sobre o assunto: « Toda a gente está sempre no centro. O que há é pessoas que não gostam de si próprias. Eu não desgosto de mim, mas não me considero um narciso. Agora quem passou por certas experiências, esteve isolado numa cela, esteve numa guerra onde se morria, viveu dez anos no exílio, numa grande solidão - é evidente que tem de falar de si próprio.»

Nesta defesa, Manuel Alegre parece querer dizer que não é narcisista, pois tem biografia a mais. Centrando-se no seu caso, cita mesmo Semprun: «Porque hei de estar a inventar personagens, quando eu próprio, com a vida que vivi, sou uma personagem muito mais rica do que qualquer outra que inventasse?»
Gosto do conceito biografia a mais, porque pressupõe que o narcisista é o que tem biografia a menos.

De facto, por estes dias (e por outros já passados), andam por aí certos rapazes ( e certas raparigas) que, talvez por terem biografia a menos, não resistem ao canto da sereia ou de certos mecenas... E valerá a pena recordar que a figura do mecenato, tão aplaudida socialmente, foi desenhada pelos mesmos rapazes que agora se empanturram e desfilam pelos estádios e outras arenas... 

Talvez Manuel Alegre tenha razão. Eu nunca o considerei um desses rapazes narcisistas, porque, ao entrar na Assembleia da República, já ia carregado de biografia...

Sem comentários:

Enviar um comentário