30.8.15

O rosto e a máscara de Passos Coelho

Os contribuintes não vão pagar diretamente, mas (...) indiretamente... Consta que este enunciado foi proferido pelo primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho. Estes advérbios serão de predicado, com valor modal ou de frase com valor avaliativo?  
Se considerarmos o contexto da venda do Novo Banco (e da inerente responsabilidade do Governo), embora contrariando a norma gramatical, vejo-me obrigado a considerar estes advérbios de frase com valor avaliativo.
Como o que interessa é vender o Novo Banco, e Passos Coelho, que já sabe que os milhões da compra não pagam o valor investido pela Banca nacional, pública ou privada, na salvação do BES, decidiu agora colocar a máscara da honestidade, dizendo aos portugueses que estes terão que pagar, mas não de forma direta...
Que alívio! 
Na verdade, os portugueses, que já pagavam de todas as maneiras, ainda não se tinham apercebido de quão agradável é pagar de forma indireta
O que é que o honestíssimo primeiro-ministro nos reserva para a próxima legislatura? A venda ao desbarato da Caixa Geral de Depósitos?

« Dès que nous voulons distinguer ce qui se dissimule sous un visage, dès que nous voulons lire dans un visage, nous prenons tacitement ce visage pour un masque.»
                                                                                                Gaston Bachelard, Le Droit de Rêver, Le Masque, page 202, PUF

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