O que nós ensinamos, em muitos casos, não respeita o ofício do poeta... Por exemplo, o que seria da poesia sem a repetição, na forma de anáfora ou de aliteração, ou até sem a metáfora?
(Não ignoro, todavia, que foi inventada uma estética da receção que dá cobertura a muita ideia estúpida que por aí circula!)
Vem isto a propósito de uma afirmação de Gaston Bachelard que me veio alertar para os perigos de uma didática vulgar que tende a prescrever regras para áreas, em que a norma é permanentemente questionada: "Nous essaierons d'indiquer (...) comment le vers de Rimbaud fuit l'allitération, comment il cherche la paix vocale en jouissant longuement des voyelles, ces voyelles fussent-elles brèves, comment il modère les consonnes: «Je réglai la forme et le mouvement de chaque consonne», dit-il dans Alchimie du verbe." in Rimbaud L'Enfant
Lembro agora as dificuldades que atravessei há longos anos, quando a professora exigiu que interpretasse o poema Le Bâteau Ivre... Ainda hoje, sinto que não estou à altura da exigência!
Fiquei com a sensação de que me faltava a inteligência necessária, ao contrário do que acontecia com os jovens exegetas que me cercavam. Naufrago, lá me agarrei ao que pude... Esses exegetas envelheceram, mas continuam a estipular as regras de leitura...
Quanto a mim, pouco posso fazer, a não ser reler Rimbaud:
Et la Mère, fermant le livre du devoir,
S'en allait satisfaite et très fière, sans voir
Dans les yeux bleus et sous le front plein d'éminences,
L'âme de son enfant livrée aux répugnances.