9.5.15

Vivemos fora de nós

Gare de Alcântara

Os painéis de Almada Negreiros ocupam todo o salão que dá para o Tejo. No corropio de turistas que não sabem como ocupar o tempo, só um ou outro levanta os olhos e parece surpreendido com a cor e as figuras que deram corpo ao estado novo, mas tal ideia não lhes passa pelo pensamento, e até a Nau Catrineta deixou de voltar com as histórias que tinha por contar: 

«Lá vai a Nau Catrineta,
leva muito que contar,
Estava a noite a cair,
e ela em terra a varar.»

Parece que estamos encalhados, e nem a arte sabemos divulgar! Diluídos, vivemos fora de nós, preferimos esconder a identidade...

No entanto, inaptos, insistimos em não ouvir o gajeiro:

«Não vejo terras de Espanha,
nem praias de Portugal.
Vejo sete espadas nuas,
que estão por te matar.» 

Hoje, nem Almeida Garrett nem Almada Negreiros são devidamente apreciados, provavelmente pela mesma razão que «alcântara» perdeu o significado original - ponte.

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