15.4.15

Em modo de espera

O ecrã branco em modo de espera, de longa espera, dá tempo para que a cabeça descaia sobre a pressão das mãos, como se a chuva intensa a tivesse esvaziado... as avenidas alongam-se em caudais que afogam os rodados, e a pergunta surge do susto da sammy, porque é que em dois ou três minutos lisboa se torna líquida em vez do porto seguro a que outrora ulisses aportou...
Sem resposta, a sammy vê-se obrigada a fazer a dança da chuva antes que a íngreme escada da rua de são bento a liberte do susto, mesmo se, em troca, o veterinário lhe tire os pontos da costura recente... na verdade a sammy prefere o vento dos telhados ribeirinhos à chuva de lisboa...
O ecrã branco em modo de espera é, como dizem os literatos, metáfora das filas intermináveis de veículos de tal modo fascinados pelos arroios desesperados e esquecidos do tempo em que corriam para o tejo, que, também, preferem ficar em modo de espera, enquanto a cabeça descaída não se liberta das tenazes que insistem em sugar-lhe a serenidade...
Do vazio do ecrã branco salta, entretanto, um grupo virtual, reduzido ao voyeurismo ou, em alternativa, ao narcisismo... e a cabeça volta a descair sobre a pressão das mãos.

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