3.1.15

Como se fosse domingo no Vale do Silêncio

Hoje é sábado, mas em duas situações despedi-me do interlocutor como se fosse domingo. Dei comigo a pensar na razão da turvação, mas não encontrei, a não ser o cansaço resultante de uma caminhada de duas horas... 
Atravessei o Vale do Silêncio, primeiro percorrendo a pista reservada a velocípedes, depois escolhi um percurso paralelo apesar de não haver ciclista à vista. Entretanto, ia pensando que talvez devesse ter pegado na bicicleta abandonada há imenso tempo na garagem...
Frente à Igreja, não pude deixar de pensar que, nestes dias, a Morte vai ceifando os mais frágeis e já no regresso não pude deixar de observar o longo cortejo funerário e, a certa altura, imobilizei-me, pois um cão corria velozmente por fora como se não pudesse separar-se do dono...
(...)
Por entre espreitadelas aos amigos do facebook, não pude deixar de pensar que há aqueles que partem sem aviso prévio, como se em determinado momento a Morte os tivesse ceifado e, por outro lado, há os que ali descarregam tudo o que mexe com eles... alguns com humor, outros com um mau gosto "abundoso"...
Acabo de roubar o adjetivo "abundoso" a Pepetela. Encontreio-o no romance O Tímido e as Mulheres.
Da leitura em curso, não posso deixar de referir o fascínio de Pepetela pelos antropónimos gregos. Heitor está de volta e desta vez foi às compras: «Escolheu duas mangueiras, por causa da sombra além da fruta, um abacateiro e uma figueira, árvore que no sul se chama amendoeira.»
  
Se as memórias de gregos já não me surpreendem, não posso deixar de pensar que confundir uma figueira com uma amendoeira é pouco razoável, a não ser que o processo mental seja o mesmo que me levou a despedir-me do meu interlocutor como se hoje fosse domingo...
/MCG

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