22.8.14

Abílio Jorge Cosme (iiiiii)

XXVIII

Embora não soubesse o que meu ser conseguiria,
Lutei pelas rédeas que controlavam o meu destino;
Em tudo o que encontrei revelou-se-me um ser que guia,
Que fez meu drama só para me expor ao seu ensino.

Aceitei minha vida sem ser vã nem vazia,
Pois senti que trazia em mim um mestre disfarçado
Das tantas dúvidas e dos erros da minha fantasia;
Aprendi a compreender o meu destino traçado.

Tudo o que acontece parece um movimento espiritual
Que me eleva para lá da dor e do sofrimento
Ainda que na minha alma procure ser casual
No meu peito acorda o âmago do ensinamento.

Cada qual, na sua maneira de ser, quer acreditar
Que é um universo que a cada instante acontece,
Mas uma só gota de água é já o universo a meditar
A máxima perfeição do nada que somos neste ser que arrefece.

Por isso trago comigo a gota que me ilumina,
Fecho os olhos e sinto em mim a sua natureza;
Vivo avidamente o que nesse sonho predomina
Pois sei-me da essência da absoluta certeza.

Aqui liberto a minha inocência ao ingénuo acaso,
Tudo é belo e pleno, da natureza do intenso;
Vivo no tempo com a segurança de não ser prazo
Na vida, que brota confiante, imersa no imenso.

XXIX

Indagando aos vãos destinos mais resignados
Vi-me despido de ilusões num mundo de eleitos
Que vagueiam às portas da verdade, em passos desencontrados,
Na mesma ânsia que projectou meus ímpetos insatisfeitos.

Expus meu desespero, que há tanto vigorava sem resposta,
Ao esclarecimento da sageza de uma alma superior;
Minha urgência aumentou a evidência que lhe foi suposta
E deu-se o reencontro eterno fundindo-me no seu interior.

A força da personalidade a quem eu implorava compreensão
Mostrou-se maior, plena de uma atracção de confiança,
Que consagrou meu espírito no seu que vence a dimensão
Da minha razão rejubilante desse ápice de mudança.

Agora sou um só na imensidão de reflexos que alma sente,
Codificada na mesma expressão que concentra o universo;
Tudo se identifica em si que é manifestamente presente
A unidade que nos fez centelhas de um ser disperso.

Assim sou, quem em si é, uma inconsciente sublimação
Refeita de caminho, nesta alma fugaz mais resoluta,
Ciente de um rumo que apraz a sensibilidade da devoção
De ser um só numa meditação totalitária e absoluta.

Não há dois nesta vida complexa de razões contrárias,
Feita de espelhos que só iludem a integridade de cada ser;
Pois faça-se luz em todas as certezas arbitrárias
E fique certo que é em si que flui o auge do amanhecer.

XXX

Da psique cósmica ao indestrutível mito
Mataram Deus, mas imortalizaram a luz
Pilar que a minha identidade reproduz
Dentro de si, onde pulsa o eco do infinito.

XXXI

Insustentada pela pobreza da resignação,
A mente consegue abstrair em cada certeza
A verdade, que é tão emocional e simbólica,
Na potencialidade da nossa sublime natureza.

Meu ser, dominado pela criação,
Despoja-se da ânsia da procura
E medita na grandeza da sua essência,
Sensível à totalidade em que perdura.

Sem dar sentido à existência,
Meu corpo rejubila o céu e a terra
Em conformidade com a fé que o eleva;
Ele é a prova viva que a resposta encerra.

Sou uma partícula que flutua à deriva
Dos sentimentos que aprazem sublimados
Na expressão máxima da potencialidade do ser
Que se extasia na certeza dos inconformados.

Os anseios que minh'alma exprime
Dirigem-me ao limiar da perseverança
Para reencontrar a minha verdadeira riqueza
Na unicidade que a harmonia alcança.

O desassossego não é tão incompreensível;
Eu concluo, receptível a esta auto-terapia
Do que é passivo e consciente da sua perfeição,
Que é pelo dom de si que cada ser principia.

Absorvido pela água e envolvido pelo firmamento,
Sou o que sinto: a paz, o pleno, o eterno, o sublime;
A ânsia, afinal, era a voz desse chamamento:
"Sou em Si! Sou em Si!"
                                       ... Então eu vi-me.

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Exmo Sr. Professor Cabeleira Gomes


Aqui estou, mais uma vez, na qualidade de seu ex-aluno, para pedir-lhe uma crítica sincera, pois eu estou preparado emocionalmente para qualquer tipo de argumentação, a este pequeno ensaio de alguns dos meus últimos poemas. Como o Sr. foi a única pessoa a quem recorri e que muito atenciosamente me recebeu e não me desapoiou, apesar daquilo que (a) escrevia não ter tanta lucidez como espero que agora esteja mais presente neste trabalho despreocupadamente humilde, espero ter a honra de ter uma crítica esclarecedora sua da sua experiência e sageza que me oriente nos próximos ensaios. Aguardo atentamente uma resposta sua e espero não lhe tomar demasiado tempo.
Desejo que a sua família se encontre harmoniosamente feliz.
Peço desculpa, mais uma vez, pelo incómodo

                               Do seu "insatisfeito" ex-aluno e amigo
                                                                                                                                                                                                                                                                            Abílio Jorge Cosme
                                
                                                                             


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