Um olhar despreconceituado… ou talvez não. A verdade é tudo o que nós ignoramos.
31.8.14
O escritor no mercado
30.8.14
Os MEMORÁVEIS
Terminei a leitura de OS MEMORÁVEIS. É um romance que se lê com gosto. Li-o em menos de uma semana. Primeiro com curiosidade, depois com entusiasmo e, finalmente, com uma certa frustração. Terminadas as entrevistas aos homens de Abril, a narração procura explicar o enigmático António Machado, mas fá-lo de forma estereotipada, criando um tempo omisso de 6 anos (2004-2010). Talvez a escritora, Lídia Jorge, tenha decidido guardar esse “tempo omisso” para o próximo romance… Veremos!
No lugar do lago, pensava colocar um banco vegetal, mas a fotografia foi interrompida por uma chamada. Na verdade, o que estou a querer dizer é que a contemplação da natureza pode reservar-nos tanto prazer como a leitura de um livro, de um semanário…
Para além da leitura e da contemplação, a vida também pode ser fruída nos seus momentos de euforia e de disforia. O problema é quando a disforia se torna dominante…
/MCG
29.8.14
Lanço de escada no Hospital dos Capuchos
27.8.14
Os Memoráveis (i)
/MCG
25.8.14
Farto do assédio da NOS
24.8.14
Os Memoráveis: há um limite para tudo...
22.8.14
Abílio Jorge Cosme (iiiiii)
Embora não soubesse o que meu ser conseguiria,
Lutei pelas rédeas que controlavam o meu destino;
Em tudo o que encontrei revelou-se-me um ser que guia,
Que fez meu drama só para me expor ao seu ensino.
Aceitei minha vida sem ser vã nem vazia,
Pois senti que trazia em mim um mestre disfarçado
Das tantas dúvidas e dos erros da minha fantasia;
Aprendi a compreender o meu destino traçado.
Tudo o que acontece parece um movimento espiritual
Que me eleva para lá da dor e do sofrimento
Ainda que na minha alma procure ser casual
No meu peito acorda o âmago do ensinamento.
Cada qual, na sua maneira de ser, quer acreditar
Que é um universo que a cada instante acontece,
Mas uma só gota de água é já o universo a meditar
A máxima perfeição do nada que somos neste ser que arrefece.
Por isso trago comigo a gota que me ilumina,
Fecho os olhos e sinto em mim a sua natureza;
Vivo avidamente o que nesse sonho predomina
Pois sei-me da essência da absoluta certeza.
Aqui liberto a minha inocência ao ingénuo acaso,
Tudo é belo e pleno, da natureza do intenso;
Vivo no tempo com a segurança de não ser prazo
Na vida, que brota confiante, imersa no imenso.
XXIX
Indagando aos vãos destinos mais resignados
Vi-me despido de ilusões num mundo de eleitos
Que vagueiam às portas da verdade, em passos desencontrados,
Na mesma ânsia que projectou meus ímpetos insatisfeitos.
Expus meu desespero, que há tanto vigorava sem resposta,
Ao esclarecimento da sageza de uma alma superior;
Minha urgência aumentou a evidência que lhe foi suposta
E deu-se o reencontro eterno fundindo-me no seu interior.
A força da personalidade a quem eu implorava compreensão
Mostrou-se maior, plena de uma atracção de confiança,
Que consagrou meu espírito no seu que vence a dimensão
Da minha razão rejubilante desse ápice de mudança.
Agora sou um só na imensidão de reflexos que alma sente,
Codificada na mesma expressão que concentra o universo;
Tudo se identifica em si que é manifestamente presente
A unidade que nos fez centelhas de um ser disperso.
Assim sou, quem em si é, uma inconsciente sublimação
Refeita de caminho, nesta alma fugaz mais resoluta,
Ciente de um rumo que apraz a sensibilidade da devoção
De ser um só numa meditação totalitária e absoluta.
Não há dois nesta vida complexa de razões contrárias,
Feita de espelhos que só iludem a integridade de cada ser;
Pois faça-se luz em todas as certezas arbitrárias
E fique certo que é em si que flui o auge do amanhecer.
XXX
Da psique cósmica ao indestrutível mito
Mataram Deus, mas imortalizaram a luz
Pilar que a minha identidade reproduz
Dentro de si, onde pulsa o eco do infinito.
XXXI
Insustentada pela pobreza da resignação,
A mente consegue abstrair em cada certeza
A verdade, que é tão emocional e simbólica,
Na potencialidade da nossa sublime natureza.
Meu ser, dominado pela criação,
Despoja-se da ânsia da procura
E medita na grandeza da sua essência,
Sensível à totalidade em que perdura.
Sem dar sentido à existência,
Meu corpo rejubila o céu e a terra
Em conformidade com a fé que o eleva;
Ele é a prova viva que a resposta encerra.
Sou uma partícula que flutua à deriva
Dos sentimentos que aprazem sublimados
Na expressão máxima da potencialidade do ser
Que se extasia na certeza dos inconformados.
Os anseios que minh'alma exprime
Dirigem-me ao limiar da perseverança
Para reencontrar a minha verdadeira riqueza
Na unicidade que a harmonia alcança.
O desassossego não é tão incompreensível;
Eu concluo, receptível a esta auto-terapia
Do que é passivo e consciente da sua perfeição,
Que é pelo dom de si que cada ser principia.
Absorvido pela água e envolvido pelo firmamento,
Sou o que sinto: a paz, o pleno, o eterno, o sublime;
A ânsia, afinal, era a voz desse chamamento:
"Sou em Si! Sou em Si!"
... Então eu vi-me.
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Exmo Sr. Professor Cabeleira Gomes
21.8.14
Abílio Jorge Cosme (iiiii)
Vi no azul eterno do teu olhar
Quanto padece quem vive tristonho,
Quantas folhas do diário deve molhar
Pelas mágoas incapacitadas do teu sonho.
Vi no azul eterno dos teus olhos
Quanta sombra invade o teu jardim,
Quantos barcos naufragam quantos escolhos,
Quantos dias negros quantas noites sem fim.
Na tua canção até a melancolia era doce,
Embalando meu ser que já não resistia
E até ser dia, abraçámo-nos e chorou-se .
Abençoada ternura que não pede por desgosto,
Tua alma isolou a beleza da dor que existia
Naquela gota de eternidade caindo pelo meu rosto.
XXIV
Vesti-me para te amar,
Mas a traição vestiu-se primeiro;
Tudo ficou vago como o mar
E o meu ser não tem paradeiro.
Corre à procura do porquê.
Morre aos olhos de quem o vê;
É pesadelo aquilo que sonhou.
Não há trevas que o escondam
E nem as verdades que o sondam
Mostram a realidade que o apanhou.
Dispo-me do corpo adolescente,
Quero voltar a ter esperança;
Meu ser quer volver à nascente,
Ser semente ávida de mudança.
Tu foste a mensagem cruel selada a lacre
Que eu, ingénuo e convidativo, solicitei.
O que torna a minha vida acre
É esta inocência com que te acreditei.
XXV
O meu coração padeceu por mil
Em todas as batalhas sem dó,
Ergueu um muro de betão e aço,
Procurou um abraço mas teve-se só.
O meu coração padeceu por mil
Por todos os destinos que se separaram,
Procurou almas que se unissem em conforto,
Mas meu ser está morto nos olhos que cegaram.
No infortúnio deste mundo vil
Encontrei agora a paz derradeira
Para o meu coração que padeceu por mil.
Leguei a um forte talismã a sorte
De padecer por mil uma dor verdadeira;
E eu, já livre, ergui-me àquela morte.
XXVI
Quem da vida aproveita
Todo o seguro que se lhe ofereça
Merece a alma de uma colheita
Que, depois de feita, ainda amanheça.
XXVII
Abençoada solidão
Que me lega a doutrina
Onde me revelo a imensidão
Que a unidade imagina.
Nem religião nem crença
Explicam o que eu sinto;
Meu ser humilde pensa
Com um coração distinto.
Qual é a força que elege
O sentimento mais puro,
E o destina e protege
Até que singre maturo?
Dispo uma estrela do céu
Da distância que nos separa:
O firmamento também sou eu
despido da minha cara.
Do universo, a única visão
Que atinge o infinito
É que meu corpo é, sem divisão.
A totalidade do que eu acredito.
É aqui que eu estou só, sendo pleno
Tomara ter outra vez um metro e oitenta,
Estou certo que cego estaria mais sereno
Mas esta é a solidão que meu ser inventa.
Abílio Jorge Cosme (iiii)
Perco-me na esperança de ser alguém
A quem a vida instruísse por aparências
Os símbolos da comunhão interna do além
Que são dentro de nós falsas demências.
Se o que hoje é confuso o amanhã o explica,
porque é que não adormece a minha mente,
Que está tão inquieta a desmontar a sua réplica,
E amanhece noutra visão de carácter diferente?
Este é o carma que me traz contrariado
Pois não estou contente com os donos do absoluto;
Dizem que são traumas, mas eu estou só avariado
Por ter neste teste um código irresoluto.
A vida é quem nos dá a propriedade distinta,
Mas a mim a vida deu-me uma insatisfação tão ingrata
Que me mata num laboratório aos trinta,
Com sedativos e relaxantes, e não me trata.
Cobaia é como me sinto, dentro da jaula,
À espera de vez para ser mais um teste;
Só espero estar livre, findando a aula,
Desta minha pele, identidade cruel que me veste.
Muito já eu aprendi sem julgar ninguém:
Dentro de mim perco-me num labirinto
De emoções explicadas em termos que seguem
Não só o que eu penso mas mais o que eu sinto.
Se na alma a vontade de ser eu amarga,
Que outro poderia ser que mais me agradasse?
Apercebo-me agora do conteúdo desta descarga:
- Aceitem-me, por favor! ... E a fusão dá-se!
XVII
No teu rosto pairam dúvidas,
As mesmas que a tua alma concebe;
Só que ao teu ser são repetidas
Na plenitude em que ele as recebe.
No teu rosto flamejam ânsias
Dirigidas pela tua alma inquieta;
Para o teu ser não há distâncias
Tudo é já, numa visão concreta.
No teu rosto apelam saudades,
Alma que retém o que não ficou;
No teu ser são tudo eternidades,
Auges que o acaso gratificou.
A tua realidade está presente:
O teu ser é trigo, bago a bago,
Que nutre a alma carente.
No teu rosto resta o meu afago.
XVIII
Pela resistência do teu sentimento
Na paciência que me dedicaste:
Amaste! Mas deixaste no convento,
Sem alento, meu coração em desgaste.
Sofro o desencontro na saudade,
Mas ainda invisto seguro no destino,
Pois acredito que toda a casualidade
Se revelará mais tarde em ensino.
Minha ausência foi próxima à fuga
Da amálgama de contrastes indefinidos;
Só agora minha esperança o olhar enxuga
Da distância em que meus olhos morriam perdidos.
Talvez teu pensamento nada diga à minha razão,
Ou teu corpo esteja deformado à minha imagem,
Ou não haja mais fervor para a nossa fusão,
Ou seja só eu debitando uma nova coragem?
Não sei se medito a culpa se a frustração?
Só depois do Inverno a Primavera se estabelece,
Resplandecentemente, ciente de que é a nova estação;
Assim fosse o ciclo deste coração que se esclarece.
Trago a afeição acorrentada à carência
Daquela paixão única que levaste contigo;
Só as vivas memórias dessa experiência
Me preenchem ainda que para meu castigo.
XIX
Trágica foi aquela noite
Nas verdades que me disseste:
Foi o espelho, foi o açoite...
Rasgaram-me ... E tu morreste.
Recusei-me crescer até ti;
Cobarde, meu coração ainda dói.
Naquela noite eu não senti,
Mas o amor é quem constrói.
Foi cruel minha vaidade
(Palavras julgaram por nós);
Decidiu-se na meia verdade
O silêncio que nos sufocou a voz.
Desde aí, é nesse silêncio vão
Que minha mágoa deposita
A força da incompreensão.
Se eu pudesse voltar atrás
Mostrava-te o medo que me habita
E que me impossibilita de estar em paz.
Essa paz que tu hoje és.
E eu aqui ainda na ânsia
Beijo teus mortos pés
Para matar a dor desta distância.
XX
Viver é ser pleno do seu sonho,
Iludir-se pelo ínfimo mais deserto;
Amar é preencher e dar tamanho,
Acreditar esse sonho mais de perto.
XXI
Sonhei que eras um Sol
Num outro sistema planetário,
Originavas as estações do ano
Mas num outro calendário.
De manhã: um brilho azul.
Ao te pores: um mais violeta;
E davas uma vida breve
Ao sétimo planeta.
Harmonizavas a natureza
Daquela terra sem nome:
Eras a mãe da sua beleza,
Eras o pão para a sua fome.
Era daí que eu te admirava
Todos os dias com devoção,
Ansiava meu pequeno ser
Chamar a tua atenção.
Certo dia cedo morri
Empedrado de absoluto;
Fizeste-me em segredo
Um eclipse no teu luto.
Meu sonho transfere-me:
Acordo a teu lado,
Chamo-te por menina:
Desculpa ter-te acordado.
Fixaste os meus olhos
Contrariamente feliz;
Reparei então nos teus
Uma expressão que sempre diz:
" - Estou aqui! Sou eu!"
Não morri! Estou a vê-la!
Seu brilho ainda cintila
No teu olhar, minha estrela.
XXII
Quanto custa pôr um sorriso no teu olhar?
A noite vem devagar amordaçar-me de beijos,
Arrefece lá fora e eu por dentro a fervilhar
Aqueço os abraços que nos fundem como desejos.
Esqueço que este planeta tem rotação,
O mundo pára na expectativa do momento:
O meu mar invadiu o teu em turbilhão
Tornando-nos no mais belo espelho do firmamento.
Surgem das cinzas sorrisos incandescentes,
Voltam as estrelas aos céus cintilantes,
Sente-se a fé, no eco dos meus olhos crentes
Criar o dia da luz para os ensejes delirantes.
Teu mundo renasce para que o meu se recomponha.
Dou sem negar, nenhuma sofreguidão me assusta;
Sou árvore eterna, sou auge que a alma sonha.
E um sorriso no teu olhar, quanto custa?
20.8.14
Abílio Jorge Cosme (iii)
Minhas garras sôfregas e possessivas
Libertam meu desespero e inquietude;
Um pássaro veio morrer nas mãos passivas
De um novo homem, mais pleno da sua atitude.
O Inverno alojou-se pleno de frio intenso
Gelando um mar de ilusões sem esperança;
Em tudo se manifesta o que eu penso
Mas nada herdo do que o sentimento alcança.
Visto de vazio o eco das minhas pretensões,
Nada do que ambicionei se manifestou real;
Na verdade ilustrei fugazes emoções
Na incerteza de promover meu ideal.
Uma ideia transtorna meu dúbio caminho:
Até que ponto se revela minha fantasia?
É que mesmo hoje ainda faço sozinho
O que de errado, outrora, eu tanto fazia.
Não posso corrigir defeitos dos quais não estou certo,
Nem posso continuar a mentir-me com falsas qualidades;
Mas ingenuamente sincero entrego-me mais aberto,
Só que tão de perto que sou eu só nessas verdades.
Assim eu me vejo pássaro morto em tortura
Naquilo que tentei agradar para ser sem rejeição:
Foi o desespero que resgatou na íntima procura
A cobardia derrotista dos meus gestos de afeição.
XIII
A verdade é um pilar inconstante
Da cegueira da nossa firmeza;
Quem dela está perto é mais adiante
Sendo o último a ter a certeza.
XIV
Na minha vida, um dilúvio de dúvidas
Inundou a parca esperança de saber responder
Às necessidades emocionais mais escondidas
Pela desvalorização da intimidade a se dissolver.
Mas um dia acordei já muito diferente,
Minha vontade foi começar tudo de novo:
A casa, a obra, novo espírito, nova mente;
Hoje a vida é bem mais aquela que aprovo.
É nas pausas que repouso pensativamente:
"Como seria se tivesse decidido outro rumo?"
Mas a alegria de estar como estou é proeminente.
Agora peço por amor, coragem e estabilidade,
Pois minha vida renova o que assumo:
Nada me retém! Nem a ânsia da saudade!
XV
A opinião ilude quem a defende
E a usa como razão que protege.
Minh'alma egotista só compreende
A dignidade do caminho que ela elege.
Assim, não recebo a harmonia do engodo
Das tuas versões sóbrias e inteligentes.
Com desconfiança, analiso esse todo,
Mas o que sinto é meu, pois somos diferentes.
Se de repente teu olhar desaprovasse
Um mero raciocínio de carisma ilógico,
Creio que pudesse aceitar a ironia e a calasse
Pois, face a face, meu delírio é trágico.
Meu coração trava uma luta simbólica,
E não é por vencer que se torna feliz.
Sua natureza é de resistência melancólica,
Pois nem eu compreendo o que ele quis.
Meu mundo interior manifesta-se incompleto,
Incoerente com o ímpeto da minha conduta:
Ambiciono revolucionar meu discurso directo,
Ser mais concreto com o que a alma escuta.
Não há noite sem dia que a complemente;
E o que hoje é um entrave à minha evolução
Não é senão o que germinará da semente
Do que sinto urgente, inconsciente e sem solução.
19.8.14
Abílio Jorge Cosme (ii)
Que diz o poeta que nos desmonta
As máscaras com que nos defendemos?
Brinca no sofrimento ao faz-de-conta
E chora os ridículos fundamentos que temos.
Acredito o quão perigosa é esta arte
para as certezas que envolvem a personalidade;
O intruso penetra-nos e, depois, põe-se de parte,
Que nem nos apercebemos de tal agilidade.
A descoberto fica a alma que nos sustenta,
Desprotegida para a sensibilidade perigosa
Daquele que nos atrai numa sedução lenta
À falsa intimidade da maleabilidade que goza.
E nós confiantes em quem nos compreende,
Seduzidos pela visão que nos traz a resposta,
Perseguimos a razão que nossa alma depreende
E confundimos a individualidade que nos é suposta.
Quem nos obriga a ter uma maneira de ser,
Corpo ou nome que nos matam o infinito?
O poeta responde que tudo flui do padecer
Das emoções que nos interceptam em delito.
Identificamo-nos com as sugestões que creditam,
Dentro de nós, a confiança na sensibilidade;
Vivam os poetas que não nos acreditam
Mas que nos projectam para dentro da nossa realidade.
VIII
Quero dar cor a cada palavra,
E melodia ao que eu digo;
Mas o que penso é força que lavra
A terra árida que eu mendigo.
IX
O mar é o eco do movimento,
Desassossego pleno de vaivém,
Tão inquieto como o meu tormento
Que me tortura a chaga que lhe convém.
Sedenta minha angústia reflecte-se
Sentindo minha alma sempre assim;
A saudade prolonga e compromete-se,
Repete-se o mesmo mar dentro de mim.
IX
Meus olhos crescem
No meu sonho que se evidencia,
Quero ser mais completo
D'amor de mãe ou de maresia.
Quero fazer por amar
Sem engolir o fruto,
Rejubilar sem vergonha
Pleno do reflexo que é bruto.
Os fragmentos são sociais:
- Pára! Será que existes?
Sem qualquer tentativa
É outono e tu desistes.
Com tanto para amar
Adoptei eu a ironia:
Defendo ser incapaz
Mas nem tento essa sintonia.
Como me refaço
De tal anomalia
Se insatisfeito me reprimo
E me mato em hipocrisia?
O jogo é eterno sedutor
Para quem se conhece na fraqueza;
Reconheço a minha pobre aptidão
Pois meus olhos cresceram na incerteza.
X - ( Transcrito pela 1ª vez no dia 17 de junho de 2006, em CARUMA - sem qualquer efeito...)
Não sei ao que me disponho
Nesta angústia que me enlaça;
O tempo é só o que a alma passa
E eu só quero viver outro sonho.
Já não sei mais amar esta vida
Nem defender o que ela me oferece;
Minh'alma mora num corpo que arrefece
Favorecendo esta mágoa tão sentida.
Sou uma substância inerte em peso
Cujas qualidades se perderam na viela
Onde supus uma luz, a mais bela,
Mas que escureceu meu coração indefeso.
Já nem sei bem o que é sofrer;
Acabo por não ter o que me enlaça
E, cadáver rejeitado só de massa,
Esqueço a fonte que me fez viver.
XI
Procuro no mar o meu empobrecer:
- Será que à minha vida virá o ser,
Que ontem fui, à procura do infinito?
Caio no desespero e já não acredito.
Fui pleno e belo no meu acontecer,
Mas já sou o que está a morrer;
Trago o tédio que me faz demorar,
Pois sou a lágrima que não sabe chorar.
Vítima do que fui eu não errei
(Socorro! Socorro!Que já não sou rei!).
Já não sei da razão do meu existir,
Quero poder e já só sei desistir.
Já não há vontade que me iluda,
Até a verdade se tornou absurda.
Projecto um mundo menos rico,
A fortuna passa e eu justifico.
18.8.14
Em dívida com o Abílio Jorge Cosme (i)
17.8.14
Salazar e Passos Coelho: o primado do financeiro
16.8.14
Abomino...
15.8.14
Dúvidas sobre a Prova de Conhecimentos - Curso de Formação de Guardas
14.8.14
Esta noite vou dormir descansado
13.8.14
Ocultação sem precedentes
12.8.14
Filhos, nunca digam que são meus filhos!
11.8.14
Procedimento Derivacional
10.8.14
Em Agosto
9.8.14
Em nome dos bancos
«… a Constituição de 1933 era o instrumento da vontade de Salazar; ele explorou cada artigo a seu favor, interpretou as suas ambiguidades como muito bem entendeu e reescreveu artigos quando já não lhe convinham. Nada nela era afinal definitivo; nenhuma instituição ou prática por ela criada tinha a garantia de uma vida longa ou de sobrevivência.» Salazar, vol.II, de Filipe Ribeiro de Menezes.
Ao ler a biografia política de Salazar, não posso deixar de pensar nos homens que nos governam. Com a cumplicidade de Carmona, Salazar gizou um projeto pessoal de poder, manipulando a Constituição e afastando todos os que publicamente se atreviam a contestá-lo, de modo a eternizar-se como homem providencial.
Atualmente, tudo é gizado do mesmo modo, só que somos governados não por um mas por vários salazares. E sempre sob a cumplicidade do presidente de serviço…
Carmona agia em nome do Exército ( a ditadura militar). Hoje quem mais ordena é a Banca (a ditadura financeira).
8.8.14
O fim de um ciclo
Os degraus ajudam a subir ou a descer conforme o apego que temos à casa. Hoje foi dia de desapego pesaroso, apesar da casa materna ser outra e de há anos ter sido trocada por esta agora entregue aos novos proprietários…
Os girassóis nunca habitaram a casa, mas pode ser que finalmente germinem para assinalar o dia que em ela mudou de mãos. Um primeiro sinal: aquela menina que estoicamente suportou o ritual de passagem…
7.8.14
Das pedras
Perante a confusão reinante, prefiro contemplar a disposição das pedras. Não sei se estão bem dispostas, admiro-lhes, contudo, a leveza que lhes permite serem solidárias sem fastio.
Estas pedras parecem procurar a harmonia na instabilidade e elevam-se no azul sem procurar qualquer aprovação. Junto delas respiro sem peias, ainda que por pouco tempo…
6.8.14
Na serra da Aboboreira
5.8.14
A mesa
Em cima da mesa
um par inútil de lentes
um relógio de aniversário
notícias absurdas do dia
versos em prosa interrompidos
Por cima da mesa
sol vozes
sons vibrantes e descontinuados
Ao lado da mesa
ainda com sol
cadeiras brancas
um cão invisível que ladra
Através da mesa
uma lapiseira que goteja
panos enfunados
uma motoreta que arqueja
Para lá da mesa
no lugar de um velho papagaio
imitador de sons vibrantes e descontinuados
só ouço distante o sino das 19 horas
Por enquanto atrás da mesa branca sem sol
espero o papagaio da voz vibrante e descontinuada…
Ilusões forçadas
Na vida, as coisas não são muito diferentes. Até há pouco tempo, pensava que conhecia relativamente bem a transição da primeira república para o estado novo. Tudo me parecia ter decorrido com uma certa celeridade. Só que ao ler o primeiro volume de Salazar , de Filipe Ribeiro de Menezes, começo a perceber que a minha percepção da realidade histórica é demasiado frouxa e está contaminada quer pela propaganda do regime salazarista quer pela diabolização do regime democrático.
E é pena que tal me esteja a acontecer, pois é um pouco tarde para poder intervir na barbárie mental que nos rege… Tal como na minha infância havia uma casa das cobras na torre sineira da aldeia, hoje também há em nós um banco velho cheio de víboras…
A solução está em voltar-lhe as costas! Quanto às víboras, elas que se envenenem umas às outras!
4.8.14
O destino
3.8.14
De Tormes à Régua
Marcas de um passado produtivo e de um presente ocioso, impreparado para garantir o futuro desta luxuriante região.
Os sinais continuam a ser de uma economia de subsistência subjugada por obras palacianas.
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2.8.14
Eça revisitado: Casa-Museu Eça de Queiroz
A visita à Casa-Museu permite que me desfaça da ideia que Pessoa quis impor: a de que o cosmopolitismo de Eça seria fruto do deslumbramento do provinciano…
1.8.14
Portela de Gôve
Primeira impressão, num dia de verão cinzento. Exceção: A Casa do Almocreve – acolhedora e bem decorada.