8.6.14

Fatias de outro tempo

Figueira, videira, oliveira, laranjeira, amendoeira… 
Estávamos nos anos 60 do século passado. O granizo destruíra a vinha, derretera a flor. O salto fora imediato!
E eu, também, acabei por partir. Para lá das muralhas, havia um corredor com 15 gabinetes de banho de cada lado. Seriam mais? Portas sempre abertas para que as sotainas pudessem censurar. O banho era diário, às 7h15, e durava no máximo 3 minutos… Por vezes, a água fria só corria!
Para lá das muralhas, havia um dormitório. As lâmpadas apagavam-se às 21 horas. Inexoravelmente!  Silêncio! Os braços ficavam de fora a acompanhar castas e tácitas promessas…
(…) Eu não nasci em Briandos, nunca lá fui e por isso não poderei lá voltar, ao contrário da personagem Branca (Natália Correia, A Madona, 1968) que de lá saiu para se libertar do despotismo patriarcal, não deixando, contudo de lá regressar.
Branca partiu para Paris com o projeto materno de ser «bailarina ou qualquer outra coisa em que sejas tu mesma (…) para que não te aconteça…». Em Paris entregou-se ao sexo ( e à indagação do amor). Em casa de Françoise, a promiscuidade era absoluta. A emancipação pela assunção da sexualidade! Nas cidades europeias, Branca procura respostas impossíveis para as questões existenciais que se lhe vão atravessando ao caminho…
Nos anos 60, o mundo que nos separava era tremendo: Havia os que procuravam o pão no trabalho ou num Deus castrador, e os outros, os filhos de Deus, procuravam a felicidade no sexo e na droga… (Da emancipação à alienação... Todos queriam SER / PODER. E o que restava era NADA!)
De salto, nos anos 60, chegava-se a Paris. Mas havia quem lá chegasse com o passaporte na mão!
Nos anos 60, havia quem vivesse cercado por muralhas, sem esquecer os que não tinham tempo para conhecer o efeito das minas…
/MCG

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