7.5.14

Cansado de ser o que não sou

Cansado de ser o que não sou, ligo a antena e oiço a embriaguez dos clássicos em ritmos risonhos, sorumbáticos e melífluos: as máquinas investem nos incêndios reacendidos, os versos tornam-se reféns dos deuses e as escadas arrebatam para o santo dos santos...e fico à porta do Templo, na confluência da Filosofia com a Língua, tudo subordinado às sementes que certo dia esqueci de regar...
Na verdade, nunca esqueci esse gesto inicial e posso até acrescentar que, apesar do desvio, toda a minha vida foi justa até que descobri que o champanhe substituíra a água cristalina... E aí chegou o Tempo por alguns considerado "coisa antiga" mas que mais não é do que fome de ser sem passado nem futuro.
Como tal, abstenho-me de navegar e até de me desfolhar, não vão querer encadernar-me!

Cansado de ser o que não sou, desligo a antena, ciente de que, por instantes, cheguei a pensar que os deuses acabavam de perder uma boa oportunidade. Mas que importa!

Já com a antena desligada, registo que se faltasse a persistência, o rio deixaria de correr para o mar e viraria pântano. 
Neste Dia Aberto, vale a pena enaltecer a duração porque no seu decurso é que se manifestam "os artistas". Num colóquio, num concurso, numa exposição, numa experimentação, num boletim é sempre possível antever um rumo contrário à estagnação. Um rumo feito dos rostos da Ariana, do João, da Rita, do André, da Alice, da Nazaré, da Ana, do Eduardo, do Ricardo, do Tiago, do Dinis, da Mariana, do Pedro, da Andrea, da Madalena, da Margarida, da Adriana, do Duarte, do Guilherme, da Anca...
   

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