1.5.14

Afinal, os regentes são só dois...

«Há gente, senhores, que sente grande ardor patriótico sempre que os seus interesses estão em perigo.» 
(D. Miguel Forjaz, in Felizmente Há Luar!)

Tradicionalmente, os principais agentes desse ardor eram os frades, os fidalgos, os oficiais e os tambores. Juntos acabavam por aplicar a mesma "teoria das emoções": as bandas e os sinos não paravam de tocar,  os frades de gritar e os aldeãos de empunhar a bandeira...
Hoje, os agentes do ardor patriótico são senhores da comunicação social ou vivem enquistados nos partidos. São cada vez mais jovens, herdeiros... iletrados e demagogos.

No meio da trapalhada em que vivemos, a verdade cede o lugar à emoção, já que esta «nem carece de provas, nem se apoia na razão.» (op. cit., D. Miguel Forjaz)

A Troika lava as mãos, qual Beresford que se apresenta como «um simples técnico estrangeiro (...) rodeado de inimigos: o clero odeia-me porque não sou da sua seita; a nobreza, porque lhe não concedo privilégios; o povo, porque me identifica com a nobreza, e todos, sem excepção, porque sou estrangeiro...» (op. cit., Beresford)

Neste mês de maio, o ardor patriótico será tema dominante da campanha eleitoral: "a saída limpa", "a partida da troika", a recuperação da soberania por aqueles que ao longo destes três anos ajoelharam e pediram a bênção... 
E nós, cada vez mais endividados, movidos pelo ardor patriótico, hesitamos e acabamos por acreditar em quimeras.
Tal como em Felizmente Há Luar! os regentes são só dois, os restantes são técnicos, estrangeiros e hereges, odiados por todos, ainda que por diferentes motivos.


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