30.4.14

Dona Olinda, no Portugal de Abril

Dona Olinda disse-me esta manhã "este dia só termina à meia-noite". Amanhã, Dona Olinda já não estará ao serviço. Cessa uma "servidão" de 40 anos. O termo parecerá excessivo, mas transmite por inteiro a sua dedicação à Casa em que entrou há 40 anos. Dedicação à Casa e aos sucessivos inquilinos que, por vezes, exigiam como se fossem senhores... e ela, discreta, a todos servia... Sorriso luminoso quando a ouviam com atenção, sorriso fechado quando lhe ignoravam a presença...
Ao chegar à Casa, em 1998, percebi de imediato quem poderia ser meu interlocutor. Compreendi que sempre que necessitasse de um esclarecimento na Biblioteca, de uma chave, de uma sala devidamente preparada para uma qualquer reunião de última hora, de umas flores para um velório ou para receber um convidado, bastava dirigir-me à Dona Olinda. Descobri ainda que ela sabia o nome de todos os professores, funcionários e, até, da maioria dos alunos. E também descobri que ela sabia o lugar de todos os equipamentos e de todos os livros, conhecendo-lhes, muitas vezes, a função e, sobretudo, que escutava, em silêncio, a história de muitos que procuravam o palco e o aplauso...
Por tudo isto, ultimamente, sempre que me cruzava com Dona Olinda, eu sentia-me triste se a via a varrer a flor dos plátanos ou se me apercebia que ela executava uma qualquer tarefa porque outrem tinha faltado ao serviço ou simplesmente não cumpria o seu dever.
E hoje não posso deixar de me sentir triste, não porque ela se aposente, mas porque parte com uma pensão miserável que a irá obrigar a continuar a servir.
No dia 1 de maio de 2014, dia do trabalhador, Dona Olinda que dedicou toda a sua vida ao Liceu / Escola Secundária de Camões, não deixará de pensar que a recompensa para tamanha dedicação é, afinal, mesquinha...

29.4.14

O coração de Fernando Pessoa

Fernando Pessoa trata o coração como um comboio de corda que vai entretendo a razão. A ideia seduz o racionalista que aposta na técnica (na arte) como expressão de uma individualidade singular ou, no melhor dos casos, na desmultiplicação das peças que devidamente agregadas procuram, em vão, reconstruir o puzzle humano.
Para trás, o Poeta deixa um coração estilhaçado e desnorteado. Um coração vítima da razão que acusa de lhe não garantir a imortalidade. Um coração efémero, humano! 

É esta noção de coração que transforma a memória num artifício literário. A infância, o cais, a música, a nora, o gato, o quintal, o teatro, a loucura, a palmeira, Lisboa são lugares revisitados sem vida, sem renovação. Em Pessoa, há memória mas não há recordação, no sentido em que recordar significa fazer voltar ao coração.
A razão não chega  para acordar nem para concordar.
O Português é a língua do coração (cor, cordis) e não da razão. Só podemos acordar, concordar e recordar com o coração cuja pulsão é fonte de vida.

28.4.14

A Técnica abre as portas ao Absurdo

Enquanto que os magos da política criam uma cortina de fogo,
enquanto que os magos da política fingem prestar homenagem a quem os serviu,

eu interrogo-me sobre o alcance do verso de F.P./ Álvaro de Campos, «Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.»

De todos os heterónimos de Fernando Pessoa, Álvaro de Campos é a assunção da ideia de que o desenvolvimento tecnológico traz consigo o fim da vida gregária tal como foi construída até ao início do século XX. Por outros palavras, o futurismo (a técnica) combate as estruturas coletivas: a igreja, o estado, a família, a educação,  a moral...
Assim, o técnico, ao dar vida à artificialidade, destrói a natureza como criação divina. Coloca-se no lugar de Deus, e encara a realização individual como arte poética, isto é, como técnica, extensiva a todas realizações, a todas as performances... as fronteiras diluem-se, as narrativas fragmentam-se, e perante um universo escaqueirado a colagem torna-se a arte suprema...
Nos bastidores, o encenador, à medida que as personagens sobem ao palco, toma consciência da inevitabilidade trazida pelo modernismo: a infância, a Lisboa antiga, o Tejo de outrora nada significam. A técnica substitui a saudade pelo nada que é tudo, abrindo as portas ao Absurdo...

27.4.14

Escrever, traduzir e viver para os outros

Vasco Graça Moura morreu este domingo aos 72 anos, vítima de cancro.

(…) “Podes partir. De nada mais preciso / para a minha ilusão do Paraíso.” David Mourão-Ferreira

Homem político, culto, trabalhador, eloquente, afável, disponível, Vasco Graça Moura serviu a república, sem esperar recompensa.
Das opções literárias, não esperava benevolência nem compreensão imediata...
De fortes convicções políticas, sabia que os seres vertebrados odeiam as meias tintas e por isso tinha tantos inimigos e alguns amigos...

Verbete incompleto:
Moura, Vasco Graça (Foz do Douro,1942 - Lisboa, 2014) – Modo Mudando (poesia satírica, 1963)[1];  Semana Inglesa (1966); O Mês de Dezembro (1977) Sonetos de Shakespeare (trad.1977);  A Variação dos Semestres deste Ano (1981); Nó Cego (1982);  A Morte de Ninguém; 50 Poemas de Gottfried Benn[2] (1982) Os Rostos Comunicantes (1984); Quatro Últimas Canções (1987); A Furiosa Paixão pelo Tangível (poesia)[3];  Naufrágio de Sepúlveda (1988); Partida de Sofonisba às Seis e Doze da Manhã (1993); Sonetos Familiares (1994) Nó Cego, o Regresso (1982 /2000[4]); Meu Amor, Era de Noite (2001); Enigma de Zulmira (2002); [5]Lacoonte, Rimas Vária, Andamentos Graves (2005); Poesia 2001/2005 (2006)




[1] - Na perspectiva de João Gaspar Simões, Modo Mudando girava, à maneira de satélite, em torno do orbe lírico do poeta de No Reino da Dinamarca ( Alexandre O’Neill). Por seu lado, Nó Cego aproxima-se de Ostinato Rigore, de Eugénio de Andrade.
[2] - Poeta alemão (1886-1956)
[3] - Maria Lúcia Lepecki, no artigo “Tocar de Ouvido”, publicado no DN de 24 de Janeiro de 1988, expõe os pontos convergência etimológica  entre «tangível» [TAG, de que também descendem ‘toque’ e ‘tacto’] e «dizível» [DEIK, cujo primeiro sentido é rigorosamente mostrar]. Estabelecida esta associação, refere «o primeiro traço pelo qual em VGM o dizível-dito se faz também tangível relaciona-se com uma dinâmica de materialização. Qualquer coisa que dá ao lido o efeito de tocável, dando aos corpos falados o efeito de existência como volume, peso, forma e cor.» (…) A função da imagem  «é trazer no mais concreto sinal do mais abstracto, conferir corpo físico – peso, volume, forma e cor, movimento – ao que de «físico» pouco teria…» E ainda: «ficamos nós entre o ver e o ouvir, duplo investimento sensorial  espaço e experiência intermédios onde mora a pessoa, o ser mais profundo, da poesia de Graça Moura.
[4] - reedição com 15 aguarelas de Mário Botas.
[5] - Ver crítica de Miguel Real, JL de 13 de Novembro de 02: vê duas fases na obra deste autor – a fase estético-realista, em que denuncia os mitos arqueológicos da esquerda portuguesa...

26.4.14

Ler para os outros quando não lhes apetece ler...

«Aqueles dias de horror tinham sido um sismo que num ápice abrira e fechara uma fenda do inferno na superfície clara da sua vida.» Natália Correia, A Madona.

À minha frente, Felizmente Há Luar, de Luís Sttau Monteiro. Será que vou reler esta peça para os outros, uma peça escrita em 1961 e representada pela primeira vez em 1969 e finalmente apresentada em Portugal em 1978? Uma peça que vi representar em 1978! Uma peça que já vi representada, pelo menos, uma dezena de vezes, pela Malaposta, pela Barraca...?
Ler para os outros quando não lhes apetece ler! Ler para os outros, quando haveria tanto a dizer sobre 1961, sobre a Guerra colonial e os movimentos de libertação, sobre a literatura e a emancipação dos povos, sobre o lusotropicalismo e a lusofinia,  sobre Brecht, sobre a PIDE, sobre a censura, sobre Humberto Delgado, sobre a maçonaria, sobre a Igreja Católica, sobre a ocupação estrangeira, sobre a perda de soberania, sobre o despotismo e a liberdade, sobre a traição, sobre Carlos César, o encenador! Ler para os outros quando estes preferem não o fazer?
Já não me apetece ler para os outros porque de mim só querem meia dúzia de frases feitas! Ler cansa-me e dizer ainda mais! Dizer uma qualquer receita para o sucesso imediato...
Em vez de ler, procuro quem leia por mim, e registo:  Traços épico-brechtianos na dramaturgia portuguesa, O Render dos Heróis, de Cardoso Pires, e Felizmente há Luar!, de Sttau Monteiro, por  Márcia Regina Rodrigues.

A cada passo se encontra um académico capaz de me substituir com proveito. Temo, todavia, que o não queiram ler...
Ao contrário do que se apregoa, lê-se cada vez menos, sobretudo, diz-se muito menos. E porquê? Porque já ninguém quer ouvir! A não ser a voz das sereias e dos sátiros! 

Hoje, o que me apetece é interpretar o sentido das palavras daquele ministro que se diz tolerante com os velhos militares e os velhos políticos, que ele respeita pela ação pretérita mas não pelo que dizem. 
Sempre desconfiei que a tolerância era uma forma de cinismo e este aguiar nem tira a máscara.    

25.4.14

Neste abril

As flores podem ser brancas ou vermelhas,
as canções podem ser de nostalgia ou de luta, 
as palavras podem ser ou não ser...

O que não se pode esconder: 
as armas de brincar
e os beijos de perfídia

O que não se pode esconder:
o desespero
o desemprego
a doença
a deseducação
a desertificação
a dívida
o despejo
a emigração
a fome

O que não se pode esconder: tudo o que andamos a esconder há 40 anos...

24.4.14

Hoje, as ratazanas, amanhã, os lobos…

Enquanto caminho, penso no curso do dia e recordo  que, num certo momento, associei a «sombra da azinheira» do Zeca Afonso à azinheira sobre qual «Nossa Senhora apareceu aos pastorinhos», na Serra d’Aire. Lembro a música ensurdecedora que se foi levantando nos pátios e o fascínio dos jovens pela lenda que vai sendo tecida em torno do 25 de abril…

A mesa de montagem tem triturado as imagens e as palavras, criando um cenário fabuloso que, infelizmente, impede o sobressalto democrático imprescindível à mudança de uma classe política incompetente. O dia de amanhã, em vez de ser gasto em cerimónias patéticas, deveria  mostrar a revolta de todas aqueles que, nos últimos anos, têm  vindo a ser condenados à pobreza…

E enquanto caminhava, surgiu diante de mim uma ratazana pachorrenta que me trouxe de volta à crueza dos dias. Subitamente, interroguei-me se ela seria  do campo se da cidade… Revisitei Sá de Miranda:

Agora, por que vos conte / quanto vi, tudo é mudado; / quando me acolhi ao monte, / por meus vizinhos defronte / vi lobos no povoado. / Carta A Seu Irmão Mem de Sá.

Neste 24 de Abril, as ratazanas, não sendo fabulosas, estão cada vez mais vorazes…

23.4.14

Pode ter sido bela, irreverente, mas não deveria ser esquecida...

Pessoas há que quando morrem, logo são esquecidas. É o caso de Natália Correia! Pode ter sido bela, irreverente, ter-se colocado do outro lado da barricada... todavia, hoje, não gostei que tenha sido esquecida... Ao editar Novas Cartas Portugueses Portuguesas, em 1972, mostrou a fibra de que era feita.
Essa edição foi apreendida e destruída, mas nem por isso as autoras que acolhera na Estúdios Cor deixaram de fazer o seu caminho, de subir ao Olimpo.
Nas palavras eloquentes de Maria Teresa Horta, a guerra de libertação autorizada pelo esforço heróico do partido comunista visava arrancar a mulher à condição de escrava do pai, do marido, do estado - tudo figuras masculinas, figuras despóticas milenares. 
Curiosamente, MTH parece ignorar que o PC também se estruturava em torno de figuras masculinas, em regra, despóticas.
Vale a pena relembrar que Natália Correia, cedo, se colocou do lado da MÁTRIA, porque bem sabia que havia caminho a percorrer, tal como, involuntariamente, é reconhecido no "monólogo de uma mulher chamada Maria com sua patroa", monólogo esse escrito por uma das três Marias:

«Muito obrigado isto passa, não é preciso chamar o médico, minha senhora, isto passa, até já estou habituada, são uns ataques que me dão, fico assim sem conhecimento, sem alentos e depois torno a mim como boa, pode estar certa, não se aflija e desculpe, não quis assustá-la minha senhora, ora logo o raio do ataque me havia de dar aqui em casa..Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta, Maria Velho da Costa, Novas Cartas Portuguesas, editorial Futura 1974

Não fossem os mitos urbanos, a empregada que pede desculpa à «minha senhora» seria vista como uma mulher explorada por uma "igual" só que de uma classe social privilegiada. Essa trabalhadora, se ganhasse o suficiente para ir ao médico e à botica, seria despedida. 
Trabalhador pobre, homem ou mulher, não pode ficar doente, não tem dinheiro para transporte, e livre-o Deus, outra figura masculina e despótica, de desmaiar de fraqueza no local de trabalho...

(Texto escrito, numa hora amarga, por um homem que detesta a demagogia, o compadrio e o comadrio...)

22.4.14

O palhaço e o visto

Saibam quantos meus versos não ignoram
Que os meus danos para fora riem,
Minhas risadas para dentro choram.
(...) Natália Correia, Sonetos Românticos, Na câmara de reflexão onde a simulação é um crime I (1990)

A euforia de uns é a tristeza de outros.
Deixo de rir porque o palhaço despreza o outro. O palhaço manda rasteirar o estrangeiro, lembrando-lhe a sua condição de bárbaro...À boca de cena, o palhaço agiganta-se até se esfumar por detrás da cortina.

Entretanto, o palhaço veste a pele do lobo mau e, sorrindo da própria perfídia, atira-se à mão que lhe serve exóticas iguarias.
Chega de criminosa simulação!

21.4.14

Milady já não é britânica

Milady já não é britânica
deixou de ir à boutique
não precisa de guarda-roupa
Milady prefere o ouro o carmim
o briho do ébano
à carnação ebúrnea
Milady esconde os olhos
alonga-se na nudez
vê no umbigo a rosa do mundo
Milady ainda vai à escola
as páginas dos livros troca pelo bâton pelo verniz
espera ser feliz
Milady faz beicinho
se a nota não lhe faz jus...

20.4.14

A benção pascal


A benção pascal já chegou às pastelarias! 
Padre e acólitos começaram por entrar na pastelaria! Foi mais fácil do que entrar no prédio ao lado! Os moradores ou estavam ausentes ou escondiam-se por detrás das portas… Nem a chuva se apiedou do cordeiro pascal! Quanto à ressurreição, parece que ela chegou ao Estádio da Luz. Vamos ver por quanto tempo!

19.4.14

Ai o destino das flores, Gabo!


Pelo contrário, Francisco Marques, morto de saudades, declara  que «esta noite em companhia da mulher é que ninguém lha tiraria.» (J.S., MC)

Entre o Forte e o lugar de Elvas terá passado João Elvas que «por singular capricho não quis entrar na cidade onde nasceu, deram as saudades nesta abstenção.» (J.S., MC)

«Ai o destino das flores, um dia as meterão nos canos das espingardas, os meninos do coro, a basílica de Santa Maria Maior, que é sombreiro, e também a basílica patriarcal, ambas de gomos alternados, brancos e vermelhos, se daqui a duzentos ou trezentos anos começam a chamar basílicas aos chapéus-de-chuva, Tenho a minha basílica com uma vareta partida, Esqueci-me da minha basílica no autocarro…» (J. S., MC)
Para ti, as flores eram amarelas; para nós, brancas e vermelhas. Quantos frutos amadureceram à tua sombra! Quantas linhas ganharam asas sob a tua ousadia!
Quantos mortos saíram da sombra porque seguraste o globo da magia, sem precisares de manto nem de um mar novo!
Sem ti, os Marques e os Elvas nunca teriam sacrificado a vida sob o olhar pasmado do diabo ou sido os nossos olhos na troca de princesas…
(E tudo num implacável universo jesuítico e hispânico…)

18.4.14

Citado pela AT para pagar uma dívida de um avô…

Citado para pagar uma dívida da herança de um avô, falecido há 20 anos, hoje fui à Serra d’Aire à procura das oliveiras que justificam a execução. Refira-se que não faço a menor ideia de quais são as oliveiras, se ainda estão de pé ou se já arderam até porque o terreno não é pertença nem do avô executado nem do cabeça de casal da herança, também já falecido, nem meu, também cabeça de casal, para azar meu, ainda vivo…
Se não pagar a dívida agora apresentada no prazo de 30 dias, tendo início em 2008, lá serei penhorado e não estarei sozinho porque todos os meus 4 tios “receberam” a mesma notificação, um deles  também já falecido. A Autoridade Tributária e Aduaneira espera uma colheita farta, pois não esclarece se o valor da dívida é global ou individual…
Enquanto procurava as oliveiras certamente envolvidas em silvas ou em rebentação, lá fui pensando se qualquer dia não seremos todos citados por uma qualquer dívida de D. Afonso Henriques, cabeça de casal de D. Henrique e D. Tareja …
A demanda acabou por ser interessante porque descobri uma realidade que desconhecia: os terrenos são férteis; o orvalho noturno é suficiente para regar as hortas que por ali vão crescendo à sombra das oliveiras e das azinheiras; os desvairados pássaros cantam ao desafio; e até um velho moinho de água em ruínas espera que a ribeira que o alimentava volte ao seu leito natural…
Só espero que a AT não se lembre de me fazer pagar com juros de mora a água da ribeira do furadouro que por ali corre, isto sem falar do moinho!
Para quem quiser aventurar-se por estes caminhos da Serra d’Aire, basta visitar os moinhos da Pena e depois embrenhar-se pelas encostas da serra…

17.4.14

Carvalhal do Pombo, freguesia de Assentiz

A ideia é simples!
Contar a "estória" de cada família que se instalou e se enraizou em Carvalhal do Pombo.
Nesta blogue, há espaço para narrativas e imagens. Quem quiser contribuir, tem toda a liberdade para o fazer.
No que me diz respeito, sou fruto do casamento dos Cabeleiras com os Gomes, estes oriundos das Moreiras Pequenas...
Caso haja colaboração, estou disposto a escrever a história  desta aldeia do concelho de Torres Novos, cujos rebentos se espalharam pelo mundo...

Os contributos podem ser enviados para: macagomes@hotmail.com

PS. Parece que a proposta não teve acolhimento, sobretudo, por falta de leitores.




Quando um livro – O Caso de Barbacena - nos faz pensar e procurar

O livro “O Caso de Barbacena – Um Pároco de Aldeia entre a Monarquia e a República” de Margarida Sérvulo Correia tem certamente muitos méritos, entre os quais  o de dar conhecer a vida de um sacerdote, João Neves Correia, que soube colocar-se do lado dos mais fracos, defendendo-lhes os interesses, mesmo quando estes faziam opções que não ajudavam a resolver o problema. 
Ler este livro (e viajar por estas terras) mostra-nos como a vida das populações e do seu pároco era dura e, sobretudo, como era necessária muita coragem e resistência física para calcorrear aquelas distâncias ao frio, à chuva e ao calor…
Barbacena (ou Barvacena?) é lugar antigo que parece, ao fim de tantos séculos, não se ter libertado das regras feudais! A herdade da Font’Alva lá continua improdutiva ao mesmo tempo que meia dúzia de aldeãos queimam o tempo num banco da Igreja paroquial.
Enquanto circulei pela Estrada de Barbacena fui vendo que alguns proprietários estão a apostar no cultivo da vinha, mas a maioria dos terrenos continuam subaproveitados… A certa altura, dei comigo a pensar em qual será o valor do IMI para uma herdade da dimensão da Fonte d’Alva! Se alguém tiver resposta, gostava de a conhecer…

16.4.14

Falar é arriscado...

De um lado, a superioridade; do outro lado, a inferioridade. De um lado, o Eu; do outro lado, o Outro...
A língua é o espelho da relação estabelecida entre os dois lados. A língua é a imagem. A língua é o palco.
A língua é, também, o risco. Falar é arriscado, quando não se tem plena consciência da matriz cultural da palavra.
E assim sendo, o escritor corre o risco de brincar com as palavras sem se aperceber que, ao fazê-lo, está a brincar com o fogo. Há escritores para quem dar nome às coisas e às pessoas de um e do outro lado é suficiente para assegurar a imparcialidade. E fazem-no com tal profusão, com tal realismo, sem dar conta de que o tempo e a distância matam a referência...

Vem esta nota a propósito de uma pequena e inofensiva expressão que encontrei no romance de Teolinda Gersão, "A Árvore das Palavras": « ... a mulher dele é que cozinhava, frango com piri-piri, que também se chamava à cafreal.» Basta consultar uma lista de restaurantes e (ou) de pratos para encontrar o termo cafreal
E quem é que se interroga sobre o seu significado, a sua origem? Ora, o termo tem origem em kafr que, originariamente, designava os que não professavam o islamismo. No século XVI, os portugueses aportuguesaram-no como cafre, nomeando os indivíduos atrasados que habitavam o interior de África. No século XVIII, o mesmo vocábulo já se refere aos escravos... Em Angola, por seu turno, encontramos o adjetivo cafrealizado, indicando um branco abjeto, miscigenado... Isto é, tudo que deriva de kafr é expressão de desvalorização do Outro...
Podemos ter muitas razões para gostar do frango à cafreal, mas isso não impede que a designação seja uma forma de inferiorização, não do frango, mas, neste caso de quem inventou a receita... certamente, indiana...

E já que referi "A Árvore das Palavras", aproveito para confessar que me parece que o romance bem poderia ter terminado em: «Um país mal governado. Mal pensado. Mas podia-se fazê-lo explodir, para obrigar a pensar tudo de novo. O Velho estava sentado no seu trono - mas não era verdade que podíamos derrubá-lo?»

E na verdade, o Velho foi derrubado e substituído pelo Novo! Só que 50 anos mais tarde, parece que nada mudou. O risco voltou: de um lado, a raça branca; do outro lado, os novos cafres...

15.4.14

Um museu que parece um silo em Badajoz

MEIAC de Badajoz 

Este museu visto de fora parece um silo! Poderia guardar os cereais necessários à subsistência do corpo, mas expõe as obras que nutrem o espírito. Deste modo, a forma mais do que metáfora é alegórica até porque vivemos tempos de exuberância, efemeridade e desmedida…

Por fora, o espaço envolvente denuncia esgotamento de recursos, de tal modo que o visitante tem alguma dificuldade em identificar o Museo Extremeño e Iberoamericano de Arte Contemporáneo de Badajoz.

No interior, no piso zero, dois pintores: Timoteo Pérez Rubio (1896-1977); Godofredo Ortega Munoz (1905-1982). Pisos 1 a três – fechados ao público. Piso quatro - 12 vídeo projeções de 12 autores: Jose Félix González Placer; Manu Arregui, On My Own. 2003 – uma obra que reflete sobre por que motivo uma política da vida ameaça sempre com uma ação de morte; Estibaliz SÁDABA;  Karmelo Bermejo…

No piso subterrâneo, um conjunto de obras da coleção privada de arte contemporânea do MEIAC, iniciada em 1995, em que sobressaem obras dos portugueses Rui Chafes, Manuel Casimiro, Joana Vasconcelos, Rita Magalhães, Rui Toscano, Carlos Vidal, Pedro Calapez, Luís de Campos, Júlia Ventura, Fernanda Fragateiro, Marta de Menezes…

Um museu com entrada gratuita que valoriza a cultura portuguesa!

14.4.14

No dia em que os reis de Portugal e de Espanha trocaram princesas


O que Saramago não diz no XXIII capítulo de Memorial do Convento.
A Igreja de S. João Batista foi levantada no século XVIII (…) com a ajuda outorgada pelo rei de Portugal, D. João V, pelo casamento em Badajoz da filha Bárbara de Bragança com Fernando VI.
Saramago coloca a ação numa «casa onde se encontrarão os reis e os príncipes, a qual foi construída sobre a ponte de pedra que atravessa o rio. Tem essa casa três salas, uma de cada lado para os soberanos de cada país, outra central para as entregas, toma lá Bárbara, dá cá Mariana (…) do nosso lado são tudo tapeçarias e cortinados de damasco carmesim com sanefas de brocado de ouro, e igualmente a metade da sala do meio nos pertence, e no tocante a Castela os adornos são tiras de brocado branco e verde, tendo ao meio um grosso ramo de ouro donde aquelas saem, e ao centro da sala de encontro há uma grande mesa com sete cadeiras do lado de Portugal e seis do lado de Espanha, todas forradas de tissu de ouro as nossas, e de prata as deles»
Se os portugueses tivessem atravessado o rio teriam compreendido que o rei de Portugal não admitia ficar para trás. A igreja de S. João Batista, não muito longe da Catedral de Badajoz, é prova de como D. João V era magnânimo, piedoso e despesista.

13.4.14

Um cigano exemplar


Badajoz, Iglesia de la Concepción
Beato Ceferino Giménez Malla, «El Pelé» (1861-1936)
(Recentemente foi me perguntado por que motivo viajava na carroça com os ciganos… Porque os homens não devem ser classificados em função da origem, do grupo identitário, da religião, da ideologia… )
Gitano, el primer beatificado de su raza, conocido familiarmente como «el Pelé», seglar, de la Tercera Orden Franciscana. Tratante de caballerías, hombre cabal y honrado, era muy devoto de la Virgen y de la Eucaristía, generoso con los más necesitados y preocupado por la catequesis de los niños. Le llevaron al martirio en 1936 la defensa de un sacerdote y el empeño en seguir rezando el rosario.
(…)
Al inicio de la guerra civil española, en los últimos días de julio de 1936, fue detenido por salir en defensa de un sacerdote que arrastraban por las calles de Barbastro para llevarlo a la cárcel, y por llevar un rosario en el bolsillo. Le ofrecieron la libertad si dejaba de rezar el rosario. Prefirió permanecer en la prisión y afrontar el martirio. En la madrugada del 8 de agosto de 1936, lo fusilaron junto a las tapias del cementerio de Barbastro. Murió con el rosario en la mano, mientras gritaba su fe: «Viva Cristo Rey». Juan Pablo II lo beatificó el 4 de mayo de 1997, y estableció que su fiesta se celebre el 4 de mayo.

10.4.14

Portas que se vão fechando...

«Aquela dor de ser excluída. Havia portanto lugares proibidos, portas que só se abriam para alguns. Assim era, pois. Esse noivo distante que a mandava ir não lhe abria essas portas.» Teolinda Gersão, A Árvore das Palavras.
Avanço lentamente na leitura deste romance, publicado em 1997, mas a cada momento penso que esta narrativa bem poderia ser analisada nas aulas de História que visem compreender a realidade sociológica portuguesa nos anos 60 e 70...
Amélia descobre ainda antes de chegar a Moçambique que o casamento não lhe iria trazer a felicidade e a ascensão social... Amélia  compreende que havia portas que não poderia atravessar por mais ambiciosa que fosse. Era a sua condição, a condição da maioria da população portuguesa...

Entretanto o 25 de Abril derrubou essas portas inexpugnáveis e permitiu que milhões de portugueses entrassem e dançassem nos salões outrora proibidos.  Os Capitães de Abril devolveram a esperança de uma melhor distribuição da riqueza e por um tempo tudo parecia ajustar-se. Mas foi sol de pouca dura! As portas, com a mudança de milénio, começaram a fechar-se e, hoje, a maioria dos portugueses já só bate às portas dos salões e sonha com o euromilhões e com audis alemães...
Até os Capitães de Abril, apesar de ainda poderem entrar nos salões, já só o podem fazer em silêncio... 
Tal como aconteceu a Amélia na longa odisseia da Metrópole para Moçambique, também nós sabemos que a primeira classe deixou de estar ao nosso alcance...

9.4.14

O povo cigano... e a classe cigana

Entre os povos sem pátria, avultam os ciganos. Oriundos dos jinganis, veem-se, desde tempos imemoriais, obrigados a viver de expedientes e, sobretudo, de vendas em feiras e praças. 
Objeto permanente de xenofobia, o cigano, reduzido à condição de nómada, confronta-se atualmente com a diminuição drástica de territórios onde permanecer temporariamente. Por outro lado, mesmo que não possam fugir à sedentarização, ninguém os quer por perto.
O povo cigano é vítima de anátema e porque desterritorializado acaba indevidamente classificado como minoria.

Para além do povo cigano, há uma outra classe cigana que encaixa bem na definição do adjetivo correspondente: «trapaceiro, ladino, traficante de mercadoria subtraída aos direitos».
Nas últimas décadas (em pleno cavaquismo), nasceu e cresceu à sombra dos partidos políticos, uma classe trapaceira (mente e manipula a toda a hora) e que se habituou a desrespeitar os direitos de quem trabalha ou trabalhou longa e honestamente. Para além de defender um miserável salário mínimo, não descansa enquanto os restantes salários e pensões não forem de miséria. 

Ora em tempos de pobreza e de acentuada iliteracia é mais fácil discriminar o povo cigano e outros grupos de origem africana ou asiática do que erradicar a nova classe cigana.

8.4.14

Dia internacional dos ciganos numa pastelaria de referência

Journée internationale des Roms
Dia internacional dos ciganos
C’est le 8 avril 1971, que les Roms, qui représentent la première minorité de l’Union européenne, choisissaient, malgré une situation encore difficile, les symboles de leur communauté ainsi que leur drapeau et leur hymne...

Manhã cedo, três ciganas, tagarelas, sentam-se a uma mesa de uma pastelaria de referência. A mais idosa levanta-se, dirige-se ao balcão e pede um café num copinho de plástico. A resposta seca diz-lhe que ali não há copinhos de plástico
A velha cigana não desiste, volta para o lugar e pede um café em chávena escaldada e um pãozinho de leite tostado... Ao balcão, vários clientes censuram a ousadia quando a cigana devolve o café porque quer a chávena cheia...
Do lado de lá do balcão, já se condena o RSI (o rendimento social de inserção) e tudo aquilo que o leitor esteja habituado a pensar...
Uns minutos mais tarde, a TSF entrevista um distinto cigano que refere que nas escolas pouco é feito por esta comunidade e que mesmo que os ciganos concluam os estudos com sucesso ninguém os contrata...
Por seu turno, a Alta Comissária  para a Imigração e Diálogo Intercultural,  Rosário Farmhouse, aponta que a situação atual dos ciganos não é muito diferente da vivida em 2008 e, sobretudo, que o número de queixas de discriminação desta comunidade não tem aumentado. Se algum problema existir, a culpa é da crise!

Em síntese, há séculos que a minoria cigana é discriminada e continua a sê-lo até no facto de estar sob a alçada de um pomposo Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural. Afinal, a quem é que serve a existência de minorias, se o objetivo é a integração? 

7.4.14

Lampeiros e figos lampos

Não é que durante o dia tenha pensado em figueiras e muito menos em figos lampos, só que por volta das 19 horas dei conta que uma das figueiras que saltam o muro do seminário dos olivais já exibe o fruto temporão.
Estranhei a pressa daquela figueira, mas como ela se encontra em terreno sagrado, logo pensei que, talvez, ela tivesse sido plantada pelo Diabo… Afinal aproxima-se o dia do enforcamento de Judas…
E os figos lampos? Pessoalmente, houve tempo em que os apreciava, embora desconfiasse da excelência da sua natureza temporã … porque, no geral, este tipo de figueira, depois de afirmar a sua virtude, deixa-se cair no pecado da preguiça…
Agora entendo que há sempre quem abocanhe os figos lampos e sobretudo que os lampeiros continuam ativos. E o dia de hoje não foi exceção!

6.4.14

A voz e a emoção

A voz é o suporte acústico da palavra. Quando a voz se torna ininteligível, perdemos a emoção, embora, em muitas circunstâncias, a alteração da voz resulte da irrupção de uma tensão interior capaz de provocar comoção exterior ou, em alternativa, condenação pública.
Hoje a voz de João Perry (O Regresso a Casa, de Harold Pinter) fez-me lembrar uma outra voz de que já perdi o som, mas cuja emoção me acompanhará sempre...
Sei agora que mais do que as vozes memorizo emoções, pequenos gestos... Estes gestos e estas emoções ficam em mim como expressões de sensibilidade, de aproximação...

Em O Regresso a Casa (encenação de Jorge Silva Melo, também ele de regresso ao palco do D. Maria II), as múltiplas vozes enunciam ideias dos anos 60, libertárias, mas que se extinguem na enunciação que parece ser a verdadeira substância da vida. No lugar das palavras também há gestos mas falta-lhes a emoção, como expressão de sensibilidade, aproximação...Para Harold Pinter tudo não passa de jogo... 
    

5.4.14

À espera do quê?

Vladimir. – Mais tu as bien été dans le Vaucluse?
Estragon. – Mais non, je n’ai jamais été dans le Vaucluse! J’ai coulé toute ma chaudepisse d’existence ici, je te dis! Ici! Dans la Merdecluse!  Samuel Beckett, En attendant Godot, 1952

Pouco importa onde morámos, onde sonhámos, se fomos felizes…
Um dia, uma qualquer alcateia deu cabo de tudo e nós ficámos, em definitivo, à espera…
Todos os dias à espera, acordamos e adormecemos, sem coragem para levantar a forca…
Incapazes de nos calar, continuamos a olhar a árvore…
Sobra-nos a corda do olhar…

        e pouco importa onde morámos…
        um dia uma alcateia deu cabo de tudo…
         … e nós sem coragem para levantar a forca!

4.4.14

Voltaremos!

"Voltaremos!" é palavra de ordem. E podem voltar as vezes que quiserem, pois o plano está em marcha e só estará concluído quando o Estado tiver fechado as portas.
Vão fechar hospitais, tribunais, escolas e repartições de finanças! Compreendo o motivo do encerramento de hospitais, tribunais e escolas, afinal, são sectores que só dão prejuízo. Só não entendo a decisão de encerrar as repartições de finanças... Será que já não sobra ninguém para tributar?
E claro também não entendo por que motivo não encerram as esquadras, os quartéis, as câmaras municipais e a assembleia da república, que oficialmente cheira mal...

3.4.14

Um português que não sabe qual é a sua pensão de reforma

Daqui não se vê, mas posso assegurar que se trata de um ser atarracado, braços cruzados sobre o dilatado ventre, sorriso aberto e luminoso sob testa ampla ainda coberta por nívea cabelama. Não fosse a veste negra e a gravata rosada, poder-se-ia imaginar um albino de origem nacional-socialista. Um qualquer farsista ter-lhe-á roubado o bigode de pequeno hitler, deixando, no entanto, adivinhar um dentinho de ouro…
Rotundo desde tenra idade, cedo descobriu que estava destinado a ganhar uma fortuna. Já nos anos 70, auferia 100 contos numa daquelas empresas privadas cujo monopólio era assegurado pelo Estado… De lá para cá, ainda não parou de ganhar dinheiro  e nem no tempo do Vasco Gonçalves soube o que era ficar sem emprego. Apesar de tudo, recebia 50 contos. (Vale a pena recordar que um professor ganhava 5 ou 6 contos a explorar o Estado!)
Já reformado, este indefectível amante da pátria continua a trabalhar na EDP,  em tempos, empresa pública, que ajudou a vender, e a fazer a parte de tantos conselhos fiscais e de administração que já lhes perdeu a conta…
E foi certamente essa falta de memória que o levou a afirmar: «Eu neste momento não sei qual é a minha pensão de reforma.»
De referir que este tipo de português é uma espécie vaidosa que se baba com facilidade e que não tem sentido do ridículo.

2.4.14

EPIS (Empresários Pela Inclusão Social)

EPIS - Sabe o que é? Conhece os órgãos sociais desta associação? Clique, não custa nada! Vale a pena!

Hoje, no Auditório "Camões", com o patrocínio da EPIS, David Justino, sociólogo da Universidade Nova de Lisboa e antigo ministro da educação, apresentou de forma detalhada um estudo sobre o "abandono  e insucesso escolares", com base em dados referentes ao período 2007-2012. 
Confesso que não percebo nada de análise estatística, mas não sou completamente insensível ao jargão e às conclusões.
Não costumo ter paciência para assistir a este tipo de "lições", no entanto, terminadas as tarefas avaliativas do dia, a qualidade do investigador acabou por me arrastar para o Auditório. Não estava cheio, sobretudo não havia muitos professores do Camões, mas, quando entrei, atrasado(?), o público amigo escutava disciplinadamente.
Explicados os conceitos, o discurso desenvolvia-se de forma redundante: em Portugal, cultiva-se uma "cultura de retenção", a começar pelo 1º ciclo, o que provoca uma "elevada taxa de atraso"; o insucesso escolar está, por um lado, ligado, à ruralidade ou às periferias das grandes cidades e, por outro lado, deve ser associado aos pais sem instrução.
Este estudo aponta, ainda, para uma nova variável: o sucesso dos alunos sobe quando as mães detêm um curso superior...Os pais pouco acrescentam...
Em conclusão, a ineficiência do sistema resulta em grande parte da «cultura de retenção» do corpo docente, provavelmente herança do Estado Novo! (Esta ideia é minha!)
Claro que o estudo também dá conta dos concelhos em que "as boas práticas" conseguem reverter as estimativas negativas!
O que estranho é que tanto conhecimento sobre as assimetrias geográficas não resulte num plano educativo nacional que transforme o insucesso em sucesso e principalmente deploro que a variável "docente" raramente seja considerada como promotora de sucesso...
De qualquer modo, para David Justino, o centralismo jamais será capaz de resolver os problemas locais... 

Adivinhem lá quem vem jantar! 


1.4.14

Colaboracionistas

Fazem-se transportar em luxuosas viaturas de alta cilindrada por ruas donde os pobres foram expulsos e dizem a todo o momento que os portugueses compreendem que não é possível voltar às remunerações e pensões de 2011...
Asseguram a todo o momento que não estão a ser aprovados novos cortes e mal fecham a boca, a comunicação social anuncia que os cortes chegam já em abril...
Orelhas moucas, asseguram que o pós-troika é decisão deles, que em Bruxelas colhem opiniões. Invertebrados, aceitam ordens na esperança de uma recompensa futura num qualquer areópago internacional. 
(...)
E nós pasmados, vítimas de aleivosia, continuamos a ouvi-los mentir e, sobretudo, a ser insultados, como ainda hoje aconteceu. 
Diz o senhor professor doutor Nuno Crato: Daqui a 10 anos, iremos ter os melhores professores de sempre. Daqui a 10 anos!
O senhor professor doutor Nuno Crato insulta os professores como nunca ninguém o fez. Os professores de ontem e de hoje!
Agora que a extrema-direita vai fazendo o seu caminho, mais valia que o senhor professor doutor seguisse os conselhos de Marinetti (20 de fevereiro de 1909)

 «Nós queremos glorificar a guerra - única higiene do mundo - o militarismo, o patriotismo, o gesto destruidor dos anarquistas, as belas ideias que matam, e o menosprezo da mulher.»  
 «Nós queremos demolir os museus, as bibliotecas, combater o moralismo...»