13.2.14

O polvo prega, comunga e condena à fogueira

I – O planeamento e a agricultura de mãos dadas! Não posso deixar de admirar a comunhão das malvas com as favas…
II – Entretanto, «o polvo vestiu-se de todas aquelas cores a que está apegado» e foi comungar. Será que se confessou?

III – «O polvo, com aquele seu capelo na cabeça parece um monge; com aqueles seus raios estendidos, parece uma estrela; com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura, a mesma mansidão. (…) O polvo é o maior traidor do mar.» Padre António Vieira, O Sermão de Santo António.
O polvo de Vieira é o dominicano que, morto D. João IV (1656), o persegue e o manda prender. O traidor dominicano, responsável pelo tribunal da Inquisição, que abraçou a Cristo e o prendeu…
Curiosamente,  tendo o Sermão de Santo António sido proferido no dia 13 de junho de 1654, os estudiosos de Vieira não identificam os pregadores que não salgavam a terra com a ordem dos dominicanos, cuja missão principal era pregar e, sobretudo, não veem no polvo o retrato do principal inimigo político de Vieira – o dominicano.
Provavelmente, no sermão pregado em 1654, no Maranhão,Vieira não terá feito qualquer referência à figura alegórica do polvo-traidor que só montou o auto-de-fé depois da morte de D. João IV. Apenas, quando estabeleceu o texto para publicação, Vieira terá introduzido «o salteador, que está de emboscada dentro do seu próprio engano…»

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