1.12.13

Programa de Português do ensino secundário em discussão pública

Acordei e fui ler uma segunda vez a Introdução do Programa e Metas Curriculares de Português - um pouco à maneira de Aquilino Ribeiro: ALCANÇA QUEM NÃO CANSA!
Ora na página 6, em tradução livre, os autores do documento citam Shanahan, 2012 - "A recompensa resulta da capacidade de perseverar".
Estou completamente de acordo, só tenho pena que o Aquilino Ribeiro fique de fora. Também ele condenava o facilitismo e, sobretudo, porque mostrou ser capaz de estabelecer conexões que fazem das suas obras exemplo de TEXTO COMPLEXO.
(Por outro lado, estou em desacordo porque não creio que sob a citação deva aproveitar-se para criticar o Programa anterior e os seus gestores - os professores.)
Retomando a noção de texto complexo e a defesa da sua centralidade no novo Programa, registo que os autores reconhecem que ele exige: «vontade de experimentar e compreender»; «existência de poucas interrupções»; receptividade para aprofundar o pensamento». Qual é a novidade? A ideia de que o texto literário se situa no leque dos textos complexos? 
No essencial, estou de acordo, mas será que o MEC tenciona disponibilizar as horas letivas suficientes para compensar «a falta de experiência de leitura», para proporcionar o «trabalho mais lento» necessário à chamada «compreensão inferencial»?
Há ainda um outro detalhe em que vale a pena refletir. A complexidade do texto resulta apenas da sua especificidade ou depende em muito da maturidade do aluno? Para um aluno do 10º ano, a leitura de uma cantiga de amor será menos complexa do que a de um poema de Fernando Pessoa?
No atual contexto ideológico, a disciplina de Português não deveria envolver-se em qualquer projeto de educação literária. A educação é um problema dos pais ou, pelo menos, parece ser.Os pais é que a escolhem a escola! Há que combater o eduquês! Isto é, o professor só deve preocupar-se em estimular a concentração e a lentidão da aprendizagem. 
Eu, no lugar dos pais, exigia educação artística, científica e humanística!
E mais não quero dizer porque ao fazê-lo num blogue, pratico um mau exemplo de texto complexo! Falta-me a visão global... em pedaços me dissolvo ou, talvez, em fragmentos....
(À parte) O último parágrafo da página 9 faz-me lembrar outros tempos: «Em suma, defende-se uma perspetiva integradora do ensino do Português, que valoriza as suas dimensões cultural, literária e linguística...» Só falta a dimensão discursiva!
Finalmente que Projeto de leitura é este que se limita à escolha anual de uma ou duas obras em que os autores portugueses ficam excluídos, em particular os VIVOS?

PS. Já me esquecia de aplicar a minha capacidade (ou será competência?) inferencial: «Como lembra Bauerlein (2011, 29), os textos complexos podem ir desde "uma decisão do Supremo Tribunal a um poema épico ou a um tratado de ética"... (Programa, 6) Os sublinhados são meus...



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