27.6.13

Jogos verbais

«De maneira que Rossélio não se admirou quando percebeu que nunca alcançariam o Maria Speranza, nem Shandenoor, nem regressariam a Carvangel, e também não se importou.» Mário de Carvalho, O Varandim seguido de Ocaso em Carvangel, 2012 
 
N'O Varandim, o espaço fechado é arrasado pela dinamite anarquista depois de uma longa disputa sobre como assegurar o melhor lugar para assistir ao enforcamento de alguns relapsos. O acontecimento leva a uma longa transformação da casa fronteira - ao negócio das vaidades sociais...
 
Em Carvangel, a sociedade move-se em torno de um desmesurado canhão e na obrigatoriedade de embarcar no Maria Speranza, não como imposição, mas como desejo coletivo ou, talvez, inevitabilidade.
À medida que a narrativa avança, a neologia cresce designando espaços e até iguarias fictícias; as próprias personagens mais não são do que reflexos ou complementos... Rossélio, sem nunca se adaptar aos jogos locais, acaba por abdicar do sentido dos atos e das coisas, percebendo, todavia, que de nada serve procurar saída ou tentar regressar.
Já nem os anarquistas conseguem combater o estado concentracionário!

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