17.10.12

Dia XIX

I - Quando a História e a ideologia são a seiva da intriga... «Foi para a Índia em 17 de Março de 1807.» Simão António Botelho partiu no início da Primavera de 1807, quando no Outono do mesmo ano, Napoleão ordenava a invasão do país e a corte se mudava (fugia) para o Brasil.
O primeiro capítulo de Amor de Perdição  faz nos recuar a 1779, para definitivamente nos traçar o retrato de uma época que se situa entre 1767 e 1807.
Cá dentro, D. Maria I governa entre 1777 e 1816. Lá fora,  a Revolução Francesa, entre 5 de Maio de 1789 e 9 de novembro de 1799. Os ecos da Revolução chegavam inevitavelmente a Portugal e, em particular, à academia de Coimbra.  E é em Coimbra que Camilo coloca, em 1801, os irmãos Botelho:
« Manuel (...) frequenta o segundo ano jurídico. Simão (...) estuda humanidades.»
Por esse tempo, Simão Botelho « defendia que Portugal devia regenerar-se num baptismo de sangue, para que a hidra dos tiranos não erguesse mais uma das mil cabeças sob a clávula do Hércules popular.»
Considerando a inserção na História, o leitor deverá procurar os sinais que ajudam à construção do retrato de um narrador conservador e reacionário. A 21/01/1793, Luís XVI foi executado pela guilhotina:
«Os apóstolos da revolução francesa não tinham podido fazer reboar o trovão dos seus clamores neste canto do mundo; mas os livros dos enciclopedistas, as fontes onde a geração bebera a peçonha que saiu do sangue de noventa e três, não eram de todo ignorados. As doutrinas da regeneração social pela guilhotina tinham alguns tímidos sectários em Portugal, e esses de ver é que deviam pertencer à geração nova


 

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