9.1.11

Mépris (1963) involuntário?

Em 1963, eu não sabia que Jean-Luc Godard realizava um filme que só, ontem, tive oportunidade de ver – um filme sobre o cinema ( os que o fazem, os que o produzem e os que o vêem). Nessa época, eu aprendia a desviar o olhar – o pecado morava em frente! E ainda hoje não me libertei completamente dessa educação que me ensinou a “baixar os olhos”, a  dissimular as emoções, a tolerar a hipocrisia.

Em 1963, os espectadores (que não eu nem os portugueses até 30 de Junho de 1975 – data da estreia de LE MÉPRIS, em Lisboa) podiam ver Brigitte Bardot inteiramente nua em cenários interiores e exteriores. E é precisamente essa diferença que agora me surpreende: mais do que a geografia é a cultura que nos atrasa; não a falta dela, mas uma mentalidade retrógrada, pecaminosa que nos impregna os ossos…

No filme, a dissolução da relação ( e do argumento) resulta de um gesto in (voluntário) do argumentista que atira BB para os braços do rico produtor americano, como se o corpo (a beleza ) mais não fosse do que uma mercadoria que, inevitavelmente seria sacrificada, pois os deuses não toleram os humanos desafios…

Embora noutro contexto, esta diferença de perspectiva na abordagem do corpo ou da língua já há dias me deixara perplexo e indeciso. Como explicar a actual rejeição da cultura francesa? Em muitos casos, essa rejeição é uma forma de desprezo de quem (in)voluntariamente tudo sacrifica em troca de algum reconhecimento e, sobretudo, de uns milhares de euros…

De qualquer modo, os deuses não dormem!

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