31.5.10

No Campo dos Mártires da Pátria

Em comum, a ameaça de canícula; a luz e a sombra. Algures, a metamorfose anódina do que sobra da gruta lisboeta do épico. Em contraste, uma cidade suja que soçobra ao lado de jardins esplendorosos. Que dizer das pessoas às 3 horas da tarde? Os operários arrastam-se para as fontes; os jovens escondem-se nos bancos de jardim, sob o pretexto de lerem um livro ou de passearem o cão; os idosos e os desempregados, sentados em torno de uma mesa, jogam à sueca. Invisíveis.

E eu que faço aqui? Interrogo-me se há algodão no Campo dos Mártires da Pátria. Está claro que bem podia relembrar o Gomes Freire de Andrade, a Matilde; o Sousa Martins; o Câmara Pestana; o Viana da Mota… Mas com este calor quem é que quer saber!

/MCG

30.5.10

O primado da biologia…

Dizemos em ciência que o humano (biológico) se está tornar pessoa (psicológico). Quintino Aires

«6% dos jovens têm problemas de conduta (comportamentos incontroláveis ou destrutivos para si ou para os que os rodeiam).» Daniel Sampaio

A hipótese de Quintino Aires é simpática, mas inverosímil. Basta que chova para que do solo surja uma vegetação exuberante que elimina as veredas e destrói as culturas. Sem a intervenção humana, a biologia segue o seu caminho, impondo a lei do mais forte.

Quanto à transformação do humano em pessoa, o factor afectivo (relacional) é essencial. Os estímulos de apoio ou de rejeição são essenciais desde o berço; os limites (os marcos) devidamente colocados são necessários à decisão fundamentada.

Melhor do que defender que O PROGRAMA É O ALUNO, devemos procurar que O PROGRAMA SEJA A PESSOA. Afinal, os problemas de conduta de jovens e adultos resultam dos sinais errados que lhe foram dados na infância e que a ESCOLA, entretanto, não consegue corrigir… porque fazemos opções erradas, também elas alicerçadas no primado da biologia.

29.5.10

Inesperadamente…

  

Saíra cedo de casa a pensar se a post(agem) merece um comentário fora do universo dos blogues (‘páginas da internet com características de diário’). Um modo de iniciar o sábado um pouco frustrante, no entanto, refém  da A1, via-me condenado a rememorar o tempo em que tentava explicar aos meus alunos dos cursos de ciências da educação que o PROGRAMA de um professor do ensino básico e secundário era bem diferente do PROGRAMA no âmbito dos estudos universitários  (isto antes de Bolonha nos ter colonizado!). No ensino superior, o PROGRAMA ganhava autonomia, tinha vida própria (era um pouco como o capital, indiferente aos custos, sempre a pensar nos lucros!) – professor (quase sempre perito, disfarçado de investigador) e alunos pouco contavam, desde que servissem a Instituição (por contenção, abstenho-me de falar agora dos pilares, mas podemos, com proveito re(ler) sempre o Auto da Alma, de Vicente).

Não vá o parágrafo tornar-se ilegível, retomo a lição para, ainda na A1, rememorar o que dizia aos meus alunos: «No ensino básico e secundário, o PROGRAMA É O ALUNO.» Já na 6ª feira, ontem, regressara a esta certeza perante um aluno que de forma mais ou menos desabrida me perguntara ‘ o que era um púlpito?’. Quando tentei responder, dizendo-lhe que era ‘a tribuna utilizada pelos sacerdotes para…’, replicou que não queria saber pois a religião não lhe interessava! Fiquei perplexo com este jovem, já não era a semântica nem a religião que me preocupavam, era a ÔNTICA.

Entretanto, a viagem na A1 terminara, a questão do comentário deixara de estar em foco. O mato e a forragem tinham crescido exuberantemente; o atalho perdera-se; a oliveira centenária continuava frondosa. Inesperadamente, uma lura na raiz de um tronco! E, sobretudo, uma cobra que em vez de deitar fora a camisa me reteve a sombra!

Afinal, o que é que me impediu de meter o braço na lura e de pisar a cobra?

27.5.10

Nada é seguro…

    O tempo inexorável segue o seu caminho, embora no que respeita ao mundo florestal estejamos convencidos que o verde e as flores estarão de regresso no próximo ano. Porém, no caso em apreço, nada nos assegura que assim será. Quando o arquitecto, na ânsia de rebaixar o edifício, desce aos alicerces quem paga são as raízes. Claro está que não é ele que deseja ser o coveiro das frondosas árvores! A ordem vem de quem traçou um projecto salazarista de recuperação do parque escolar e serve clientelas de proximidade.

26.5.10

A crise financeira e o património…

  Neste tempo de crise, ainda ninguém perguntou quanto vale o património português! Não sabemos valorizar o legado que os avoengos nos deixaram. Anualmente, centenas de milhares de estrangeiros e nacionais percorrem o casco das nossas cidades, sobem aos castelos, entram nos museus gratuitamente ou por quantias irrisórias. A maior parte dos monumentos não consegue financiar a respectiva manutenção e as despesas com o pessoal. Sem recurso ao orçamento de estado ou ao mecenato, o património construído entraria em ruína. Mas esta não é a solução!

O Ministério da Cultura existe apenas para subsidiar clientelas. É um organismo inútil que agrava diariamente o estado da nação. As missões que lhe têm sido atribuídas podem perfeitamente ser asseguradas pelos municípios. A cultura só é universal se enraizada no local! Para quê um mediador centralizador quase sempre desconhecedor das especificidades culturais? Um mediador que pela sua própria natureza elitista deixa no esquecimento lugares e monumentos genuínos que bem podiam ser preservados pelas gentes que com eles co-habitam.

Em nome da Cultura, desperdiçamos milhões de euros e paradoxalmente somos cada vez mais incultos. (Ainda hoje alguém me perguntou se um soba era uma pessoa!) Afinal, para que é que precisamos de dois ministérios na área do ensino? E de que serve o ministério da economia?

PS: Basta sair do terreiro português para perceber quanto custa a entrada num museu, num castelo, numa catedral ou numa mesquita!

24.5.10

António Lobo Antunes - será que ele vem?

Diria que a passagem do tempo ocupa permanentemente a minha atenção: adiar o inadiável, enganar o finito, viver o momento, exorcizar o futuro, reviver o passado. A partir de uma determinada idade, a duração torna-se obsessão: a historicidade ganha substância.

No entanto, em termos comunicacionais, não posso imaginar que a juventude me acompanhe nas minhas reflexões que, para além da efemeridade do meu ser, se enraízam na História de uma Nação que desde a perda do Brasil arrasta as grilhetas da morte. Já lá vão quase 200 anos, sem falar noutras catástrofes que deixaram a Pátria moribunda.

O apego à vida, na obra de António Lobo Antunes, não é muito diferente da minha íntima vontade de atrasar o relógio biológico. E de algum modo, A.L.A. alimenta a ideia de que, ao suspender o seu tempo, está a impedir Portugal de soçobrar definitivamente. Morrer com a Pátria é o gesto derradeiro, por muitos sonhado, mas até agora nunca consumado…

Ora, os jovens sabem, mesmo que o não sonhem, que o pessimismo e o derrotismo são seus inimigos endógenos e exógenos. E por isso o passado não os encanta!

Quanto ao escritor, ele bem sabe que só suspenderá o tempo enquanto continuar a escrever… Por atalhos não conseguirá! E se insistir nessa via, despache-se, e, por momentos, regresse aos pátios que atravessou entre 1952 e 1959, porque os jovens nos últimos dias, com insistência, me perguntaram se ELE VINHA…

/MCG

23.5.10

Arte substantiva…

Golegã2 003 Golegã2 010 Golegã2 016 Golegã 027 Golegã 029 Golegã 033 Golegã 039 Golegã 040

Na GOLEGÃ, mesmo que alheados passemos, a arte fica: imperial, tentadora, iconoclasta, hípica, ambientalista.

22.5.10

(Des)encontro na Azinhaga

     Tal como Saramago com Deus, o meu encontro com a Fundação Saramago falhou. E, ao contrário de Saramago que ainda espera que o Senhor o visite, eu desloquei-me à Azinhaga, mas as portas estão fechadas, para férias, até  30 de Maio. Fiquei com pena, não por mim, mas por aquele jovem a quem perguntei onde se situava a Fundação e que me respondeu que ela estava fechada, que ele, o próprio, vinha de lá frustrado (o termo não é dele, mas corresponde).

De qualquer modo, fiquei com a ideia de que a Azinhaga no tempo das “pequenas memórias” era verde, católica, mas dividida. De um lado, os pobres, muito pobres, e do outro, os senhores, muito ricos. E talvez não tenha mudado muito! À excepção, do gigantismo atribuído ao escritor, como se este filho da terra tivesse definitivamente vingado a miséria extrema dos cativos.  Indiferente, corre o rio Almonda sonolentamente adjectivado por uma coruja.

/MCG

19.5.10

Declive?

 Estará lá o declive? Ou é da minha vista? Como quero ver direito, experimento inclinar a foto. Agora, parece-me melhor – um simples toque parece poder alterar a minha percepção. Quando envelhecemos, queremos acreditar que contribuímos para melhorar as coisas em que tocámos, mas, ao mesmo tempo, começamos a ter pejo em pensar que a nossa presença trouxe algum benefício ao nosso semelhante… A ligeireza da palavra intempestiva aborrece-me, coarcta-me os argumentos, como se apenas a pedra pudesse estancar a catadupa de rugidos que se abate sobre mim.

Independentemente do juízo que faça da realidade, que a veja em declive, esta sai sempre vencedora. Ainda caio na tentação de querer corrigir a inclinação da agulha atraída por uma força ignota, mas, de verdade, o que desejo é perder-me na raiz vida, ficando a ouvir o gorjeio, por ora, dos melros…

17.5.10

Plano inclinado…

A instituição “casamento” tal como foi concebida acaba de dar o último suspiro. O Presidente hipotecou as suas convicções, incompatibilizando-se com todos os que viam nele o garante de uma civilização judaico-cristã.

Resta saber o que significa esta decisão em termos de «avanço civilizacional». Esperemos que não estejamos perante uma vitória de Pirro!

16.5.10

A lagarta da couve

Não queria pensar no assunto, mas, quando olho a lagarta sobre a folha de couve, não posso deixar de pensar no tempo em que, qual patrão, eliminava a pobre-de-cristo sem me aperceber da minha crueldade. De facto não fazia ideia da metamorfose que o pobre e peludo ser esverdeado iria sofrer. Nem sequer me passava pela cabeça que tal termo “metamorfose” pudesse existir. Mais tarde, Kafka atravessou-mo no caminho um pouco como a lagarta da couve… E não deixo de pensar que o termo “metamorfose” se revelou durante muito tempo mais sedutor do que o bicharoco!

 

15.5.10

Hoje…

«Não, ainda não se proíbe ninguém de ler. Não, ainda não se queimam livros.» João Bénard da Costa a propósito do filme de François Truffaut, FAHRENHEIT 451 /1966

Em 2010, a destruição de livros está inscrita na lei. A imagem é quase tudo. A felicidade e o prazer são os que são proporcionados pelas drogas e pelo virtual – e cada vez mais pelas redes sociais virtuais!

Em 2010, os bombeiros que reprimem o prazer solitário da leitura já não são necessários. Creio, todavia, que um ou outro bombeiro incendiário talvez pudesse despertar em nós a sede de transgressão levando-nos a cobiçar os proibidos livros, sem ser necessário regressar ao tempo da oratura – o tempo anterior ao livro –, um tempo esfíngico, subordinado ao rigorismo ou ao laxismo da memória.

Quanto ao filme  FAHRENHEIT 451 /1966, os dois lados da moeda equivalem-se na anulação da consciência. Impera um pensamento geométrico que me arrasta para a leitura de Blaise Pascal… E dele para o jansenismo….

14.5.10

Crepúsculo…

 Quando a espiritualidade entra em crise, o recurso à transcendência perde todo o sentido. Em alternativa, a atenção humana ainda procura voltar-se para o Ideal, para a Revolução, para a Utopia, sempre com o intuito de criar um novo homem, mais justo, mais solidário, mais fraterno. No entanto, esse  novo homem acaba por se revelar déspota, ganancioso e predador. Eliminados o Destino, Deus, o Ideal, a Revolução, a Utopia, que lugar sobra para a consciência? Uma consciência  criada para servir a Ordem! Perante a Desordem, a consciência apaga-se de vez e o Ser que resta opta pelo Cifrão e pelo Momento.

(Em memória de Raul Brandão.)

13.5.10

Cilada…

   Longe de Fátima (talvez os locatários tenham engrossado a mole quis ver e saudar o Papa!), o guindaste, aparentemente, descansa  ao fundo da rua… No entanto, o contra peso de base está posicionado sobre um edifício, qual espada de Dâmocles, o invejoso. Porém Dionísio, o déspota de Siracusa, finge que cede o trono a Dâmocles que inebriado acaba por se aperceber que a sua glória pode cessar a cada momento, pois uma espada pontiaguda ameaça abrir-lhe o crânio…  Se nem Platão conseguiu evitar a escravatura, como é que a república, submersa pela dívida soberana, vai escapar ao seu destino?

12.5.10

O caminho do Papa

 Cercado de automóveis, Santo António aponta o caminho ao Papa, pois até um engraxador abandonara  as ferramentas de trabalho. De qualquer modo, o lugar escolhido, à porta de um banco, junto de duas caixas de multibanco, dá que pensar quanto às intenções do trabalhador.

Sentado num banco enquanto esperava (talvez, Godot?), cheguei a pensar que o santo estava a indicar-me o caminho, a mim. Por pouco não me sentei na cadeira, dando um novo rumo à minha vida, até porque, tal como aconteceu com o santo, estou cansado de combater o alheamento, senão a alienação… Falta-me a brandura papal!

11.5.10

A expectativa

  Tão distante e tão perto, a mão tímida acena, quase invisível. Para quem?
Houve tempo em que talvez pensasse nessa emoção. Hoje,  bastam-me apenas a cor e o movimento.
 
 

10.5.10

Em ruínas…

  Na esquina da Casal Ribeiro com a Almirante Barroso (Lisboa). Sempre que ali passo respeito o sinal e paro a olhar o que sobra do Império… da tal Fantasia Lusitana. E lembro que ali residiu quem, entre muitos outros, sonhou um mundo menos injusto – Amílcar Cabral que chegara a Lisboa em 1945 para prosseguir os estudos no Instituto Superior de Agronomia.

Em Outubro de 1944, a Casa dos Estudantes do Império-sede começara a funcionar, sob a presidência de Alberto Marques Mano de Mesquita, no n.º1 da Rua da Praia da Vitória, ao Arco do Cego. Mas, no mês seguinte, mudara-se para o n.º 23 da Avenida Duque de Ávila, onde vai permanecer até à sua extinção. Por essa altura, abre também uma delegação em Coimbra. Amílcar Cabral foi um dos dinamizadores desta importante instituição à revelia do salazarismo, e na euforia do pós-guerra.

A memória multicultural de S. Jorge de Arroios, aos poucos, fenece.

9.5.10

Fantasia lusitana, de João Canijo…

http://aeiou.expresso.pt/fantasia-lusitana-o-paraiso-de-salazar=f578926

Portugal é pintado como um paraíso de paz e harmonia, numa altura em que boa parte da Europa agonizava com a II Guerra Mundial e se tornava ponto de passagem ou de refúgio para milhares de pessoas, entre os quais escritores célebres como Alfred Döblin, Antoine de Saint-Exupéry ou a actriz Erika Mann, filha de Thomas Mann. Os depoimentos, em que relatam as suas impressões do contacto com o país, são lidos pelos actores Hanna Schygulla, Rudiger Vogler e Christian Patey.
(Se quis ver o documentário tive que me deslocar ao Campo Pequeno e entrar nos curros abundantemente decorados com imagens e artefactos cinematográficos de mau gosto, para além dos tectos baixos impregnados do cheiro a pipocas e do martelar de teclados e bombos ensurdecedores.)
No meio do conflito mundial, a excentricidade do Mundo Português surpreende os refugiados e arrasta o povo miserável, eternamente grato a um redentor (Oliveira Salazar) sob o abraço universal do Cristo Rei, para uma guerra colonial anunciada.
Insistir que Salazar nos livrou da guerra é uma aberração, pois todos sabemos que a “nossa guerra” se aproximava por nos termos conluiado, primeiro com os franquistas e depois com a Alemanha nazi. Em tempo de guerra, os exércitos precisam de rectaguarda e o Portugal de Oliveira Salazar estava à mão… A estratégia de Salazar esteve em saber aproveitar as necessidades alheias, adiando o sacrifício do seu povo…
Sim. Gostei de ver  “Fantasia Lusitana”. Mas não gostei do ar fascinado dos espectadores que sorriram do acasalamento das cebolas com as batatas e, sobretudo, que não sentiram vontade de cuspir para o chão!  

8.5.10

Finalmente, há teatro…

António Pedro, 1909-1966 by Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian.

António Pedro (1909-1966) é o autor da Antígona, ontem, levada à cena, no Auditório “Camões”,  pela novíssima companhia Grupo de Teatro da Escola Secundária de Camões . Trata-se da Glosa Nova da Tragédia de Sófocles. Em 3 actos e 1 Prólogo incluído no 1º Acto. António Pedro, num artigo do Mundo Literário, escreveu um dia: Teatro é tragédia e farsa; o drama burguês, melífluo, a comédia burguesa, comedida, são apenas acidentes acontecidos na sua história milenária.»

A escolha do texto – acto fundador – revelou-se acertada. Apesar de tardíssimo, Creonte vergou-se perante a inexorabilidade do Destino. Tirésias, o adivinho, restaura mais uma vez a ordem em Tebas. Que sobriedade a da actriz (Rita G. Júlio)! E que dizer de Antígona pronta a morrer às mãos do tirano em defesa de uma antiquíssima tradição – dar sepultura aos mortos? OS VELHOS, numa elocução cristalina, tomaram partido como convinha… Pela 1ª vez, ouvi e vi um coro tão afinado que pensei encontrar-me numa ágora da antiga Hélade.

Esta nova companhia está de parabéns. Os sinais de uma escola integradora, participativa e de qualidade estão todos presentes neste espectáculo. E por isso quer felicitar todos os que denodadamente contribuíram para que, finalmente, haja teatro no Camões – alunos, funcionários e professores. Assim, sim!

7.5.10

Às 6h50...

Às 6h50,  a rede social está adormecida. De nada serve explicar que o tempo de aprendizagem da escrita se dá quase sempre em lugares inesperados. Não foi na Escola, no caso, no Liceu, que António Lobo Antunes aprendeu a escrever - foi na guerra (de Angola) - "DESTE VIVER AQUI NESTE PAPEL DESCRIPTO". Em aerogramas. 60 por mês.

6.5.10

Instantes…

 Por instantes o verde primaveril quase que esconde «o poder do oiro». Em nome de anónimos predadores (CORVOS), os executivos, tranquilos, repousam ou decidem novas aquisições. Das vítimas (MORCEGOS) nem ruído… arrastam-se, todavia, escada acima, ensimesmadas, dominadas pelo desespero dos condenados. Incapazes de superar a dor pessoal, esperam que a sorte lhes sorria, de modo a que busca atormentada do sentido da existência não lhes roce a consciência…
Afinal, enriquecer é para os predadores! Por enquanto as vítimas esperam o tempo do salto que lhes permita entrar no santuário do cifrão… Porquanto nem a Igreja da Santíssima Trindade nem o Abismo as movem.

4.5.10

O encanto dos nossos governantes…

« O Português, sendo embora um trabalhador incansável, possui um espírito empírico, não gostando nem de organização nem de disciplina. (…) Aliás, o encanto dos Portugueses reside nos seus próprios defeitos. Em 1966, mais de 70000 automóveis circulavam nas estradas de Angola, sem mencionarmos motos, veículos indispensáveis em África. Se nos arriscamos a partir a cabeça a todo o instante, na estrada que liga Catete a Luanda, devido à sua estreiteza e tráfego intenso, encontramos, pelo contrário, no sul de Angola, entre Moçâmedes e Porto Alexandre, mais de 100 quilómetros de estradas asfaltadas, dignas de uma pista de corridas. Um único  carro passará talvez, de hora a hora, nessa estrada, mas as autoridades quiseram, não sei por que razão, construir tal artéria em detrimento de outras, cem vezes mais importantes.» Mugur Wallu, Angola – Chave de África, pág. 136, 1968, Parceria A.M. Pereira, Lda, Lisboa.
Os nossos governantes insistem, como as autoridades coloniais, em construir vias e pontes fantasmáticas, em  esbanjar recursos em reconstruções plásticas de edifícios escolares, em detrimento da reordenação do território de modo a potenciar a capacidade trabalhadora e produtiva das populações.
Bipolares, saltamos da megalomania  para o imobilismo, sofismando permanentemente. O sofisma tornou-se numa arma capciosa, incapaz de iludir o mais incauto…
O encanto dos nossos governantes é tão antigo como o país que nunca soubemos administrar. É visceral. ESTRUTURAL. 

2.5.10

Nortada…

De nada serve querer desvalorizar o adversário, muito menos tratá-lo como inimigo. Quando o jogo é limpo, a verdade vem sempre ao de cima. Infelizmente, a face imunda do egoísmo e da cobiça continua a ter as primeiras páginas, sem que ninguém lhe ponha cobro… Inebriados de fanatismo, pouco produziremos neste mês de Maio. E isso pouco nos importa! Com PEC ou sem PEC, com mais ou menos Papa e mesmo que o Benfica perca o campeonato, o que interessa é que a nortada serene.