28.4.09

Uma teoria de senhores feudais…

Na área da educação, os projectos da "parque escolar" são desmesuradas e oportunistas.

A velocidade da mudança introduzida pelas novas tecnologias da informação deveria impedir-nos de nos endividarmos por períodos tão longos. 30 anos é uma eternidade!

Daqui a 30 anos, as escolas, tal qual as conhecemos nos últimos 150 anos, terão desaparecido.

Se queremos "libertar o futuro", então teremos que mudar a nossa forma de pensar a aprendizagem e as técnicas de ensino. Teremos que apostar no "lugar" do trabalho e fazer dele um espaço de permanente adaptação às novas ferramentas.

A confusão entre educação e aprendizagem é um dos elementos mais nocivos ao desenvolvimento das sociedades.

Hoje, percebi que a "parque escolar" pensa nobilitar as escolas com base nos respectivos projectos educativos e numa certa ideia de "conforto" que não consigo entender.

Trata-se de um autêntico disparate! É uma teoria de senhores feudais na era da globalização.

26.4.09

Libertemos o futuro!

"Libertemos o futuro!" é a última palavra de ordem. No entanto, quem é que nos assegura que o futuro ainda conta com o homem tal qual o conhecemos?

O futuro de que o PSD nos fala vem cheio de passado, de sentimento de identidade, de necessidade de não hipotecar as novas gerações. Que garantias temos nós que no presente não estamos já a construir um futuro capaz de prescindir de um tipo de homem, para quem nascer, reproduzir-se e morrer era inexorável?

De forma atabalhoada, o PS do choque tecnológico pressente que estar do lado do futuro é romper com o passado e deixar que a mudança de paradigma aconteça.

Os novos dirigentes pouco têm a ver com o passado. Há muito que deixaram de pensar no Condestável! E nem São Nuno de Santa Maria nos poderá valer!

25.4.09

35 anos depois...

Dois filhos de Abril: um de 30 anos, solteiro, advogado, mal remunerado, a residir em casa dos pais...; à filha de 25 anos, solteira, falta-lhe uma cadeira para terminar o 1º ciclo de Antropologia (Bolonha) e está a concluir um curso de Realização de Cinema... sem futuro - artista, depende na totalidade dos pais... Há 35 anos, sem ter onde cair mortos, os pais casaram, 20 anos de idade, alunos do 2º ano da Faculdade de Letras; procuraram e conseguiram emprego no ensino, licenciaram-se, profissionalizaram-se e um deles concluiu mesmo um mestrado em relações interculturais que objectivamente não lhe serve de nada - estudaram e trabalharam ao mesmo tempo... Nestes 35 anos, os pais trabalharam todos os dias e continuam obrigados a trabalhar mais e mais; os filhos, 35 anos depois, não têm nenhuma garantia de poder constituir e manter uma família... e vivem na dependência dos pais.
A guerra do ultramar terminou sem glória; os colonos regressaram sob a forma de retornados; os emigrantes voltaram à terra e tornaram-se patrões de novos imigrantes; a paisagem ganhou novas cores; o litoral abarrota de gentes; o interior vê crescer o mato; as novas auto-estradas abrem brechas e inclinam-se perigosamente; rios de dinheiro voam em malas de cartão para paraísos fiscais; quem não se filia num partido político deixa de ter futuro; o presidente da república chama-nos à ordem, esquecido de que os seus amigos enriqueceram à sua sombra...
35 anos depois, a pobreza, a ignorância e a insegurança crescem; a liberdade deprecia-se...

22.4.09

Anoitece novamente...

O dia vai longo!
Começou com a "Menina e Moça" a recontar, sob a forma de resumo com ligeiras, mas importantes variantes, a sua história à "Senhora do Tempo Antigo"... Uma história de fuga à agitação da corte /cidade, governada pela arbitrariedade... E sob o olhar de Bernardim Ribeiro dei comigo a explicar como a leitura em voz alta determinava o projecto de escrita no século XVI... A leitura, actividade lúdica por excelência!
Paradoxalmente, se, em tempos idos, a tristeza lida preparava o leitor para superar experiências traumáticas, o dia de hoje encarregou-se de demonstrar o contrário: a doença anunciada de um amigo devasta qualquer cenário de fuga... as nossas fragilidades encontram nova explicação e as vozes acusatórias deixam de fazer qualquer sentido...
No entanto, sobrepondo-se à tristeza, sem a conseguir anular, vozes juvenis declamam excertos dos Bernardins do futuro, por enquanto alheios ao rouxinol que, sem explicação, tomba, e arrastado pelas folhas corre para o mar sem fim...
Finalmente, de forma lateral, assisti a um jogo de cadeiras, em que as regras são o que menos importa... as cadeiras são apenas duas, mas dificilmente o jogo chegará ao fim!

21.4.09

O embaixador...

Nas reuniões do Conselho Pedagógico do princípio deste século, várias foram as vezes em que fiquei com a sensação que as intervenções do prof. David Monge da Silva tinham um fundamento muito para além da espuma deste tipo de sessões, e os interlocutores nem sem sempre entendiam o seu fino sentido de humor.
Ontem, no Auditório Camões, David Monge da Silva deu a quem lá esteve uma verdadeira lição sobre a história da ginástica, da educação física e do desporto em Portugal e no Liceu Camões. Uma lição interpretativa da iniciativa e do voluntarismo de uns tantos e dos preconceitos de muitos.
No ano do centenário do edifício da Escola Secundária de Camões, o professor David Monge da Silva bem podia ser nomeado seu embaixador.

19.4.09

Nós, Europeus

Em 17.4.1983, José Cardoso Pires, à pergunta de um jornalista "Que é que o preocupa mais neste momento?", respondeu:
« Como pessoa o que me preocupa mais é a incerteza em que se vive, eu, como muita gente: o medo de uma aventura medíocre. Penso até que este país está a correr esse risco, o País todo, não sou só eu.
Outra coisa ligada a isto que me preocupa é uma resignação contente que é muito portuguesa e a que as pessoas são sempre tentadas, todas, inclusivamente eu, uma resignação contente. O pequeno êxito, a pequena coisa, o Vossa Excelência não sabe com quem está a falar, que só o Português é que diz - o cavalheiro não sabe com quem está falar. (...) Isto tem uma carga espantosa de contentinho...»
Cardoso Pires temia que nos perdêssemos numa aventura medíocre. 26 anos depois, essa aventura conduziu-nos a uma mar de sargaços de que dificilmente nos desprenderemos... Quanto ao País, esse não tem regresso. Província da Ibéria, anexada pela União Europeia! A bóia de salvação está inscrita no slogan "Nós, Europeus!"
O problema é que a maioria das embarcações não está equipada com bóias para todos os passageiros...

Pouco a pouco...

Acabo de descobrir que necessito de recuar 10 anos no tempo. Só, deste modo, conseguirei retomar o que ficou congelado. Não sei se terei tempo, mas, entretanto, percebi que só atingirei esse objectivo se arrumar todos os meus papéis. E por isso já meti mãos ao baú... 

16.4.09

Mas parece que...

"Mas parece que das desaventuras há mudança para outras desaventuras, que do bem não a havia para outro bem." Bernardim Ribeiro
Parece que em cada dia que passa nem a mediocridade escapa à mudança para pior! Quanto mais descemos mais enfunamos.
Do nosso quarto, espreitamos o mundo pela janela, sem a abrir. Preferimos as pantalhas à luz crua da vida...
O rio, supõe-se, continua a correr lá longe, mas há muito que abandonámos as suas margens!

14.4.09

Pensar que não sou sozinho...

Torre de Menagem (séc. XII)
Igrejas da Misericórdia e de S. Tiago (séc. XVI)
Ribeiro Sanches, ilustre estrangeirado (séc. XVIII)

As fotos desaparecidas (de Penamacor) que aqui coloquei são o meu modo de dizer que não é possível construir uma identidade colectiva, prescindindo de um olhar atento sobre o património natural e edificado ao longo de séculos. A memória horizontal é efémera e caprichosa, incapaz de estabelecer nós com o passado. É construída sobre areia movediça.
O sentimento identitário exige a combinação da memória horizontal com a memória vertical. Sem essa articulação deixa de haver solidaridariedade, noção de pertença e a liberdade vira acto gratuito.
O que há de comum nestas fotos é a acção de conquista: do território, da espiritualidade, da solidariedade, do conhecimento ao serviço da humanidade, mesmo que isso signifique sacrifício, perseguição, desterro...
A estrada que vou percorrendo é sinuosa para que, pelo menos, nas curvas possa olhar para o lado e para trás e pensar que não sou sozinho...

Da ambiguidade...

Quem vive na ambiguidade, mais cedo ou mais tarde acaba sem amigos.

11.4.09

Pegas no Freixial

Pegas azuis no Freixial (Aranhas). Na Idanha, elas eram pretas!? Estou sem perceber estes desmandos da natureza num raio de 35 km. Parece, no entanto, que as pegas têm uma história muito antiga. Só não compreendo por que motivo não me lembro das pegas da Serra de Sintra, à excepção das do Paço Real.
Pega gulosa, sem vertigens!
Um cuco! Quem diria que ao cantar, o cuco prevê a queda de neve? O tapete é de rosmaninho.
Pinheiro doente. Por aqui, os pinheiros estão todos doentes e parece que ninguém se incomoda.
De vez em quando, lá vou dando sinal de mim! Não estava a ouvir a triste avezinha do Bernardim nem a queria ver cair morta que o mundo já vai tão em desgraça!

6.4.09

Barragem de Idanha-a-Nova

Para além da barragem Marechal Carmona, é de destacar a hidráulica agrícola, inaugurada em 1946 por Oliveira Salazar, com o objectivo de fomentar a agricultura, permitindo a fixação das populações. À primeira vista, o objectivo do Estado Novo continua por atingir. Para o visitante, existe um bom parque de campismo junto à barragem, apesar de, em abril, manter os principais equipamentos encerrados. É pena que a Orbitur não esteja mais atenta, pelos menos à semana da Páscoa!  No entanto, para quem seja avisado, ou seja não se tenha esquecido de se abastecer no supermercado, vale a pena pernoitar na zona para fruir a paisagem, ouvir a passarada, calcorrear os vários itinerários, e finalmente repousar do bulício citadino e do lixo comunicacional.   

2.4.09

O dia das verdades...

A tradição que consagra o dia 1 de Abril como o dia das mentiras deve ser mudada. De facto, todos os dias passaram a ser dias mentirosos, por isso proponho que doravante o dia 1 de Abril passe a ser o dia das verdades.

1.4.09

Digressão por fazer…

Na vida portuguesa, há coisas que não consigo entender. Por exemplo: Por que motivo há tanta gente a queixar-se de que é pressionada a torto e a direito. (Parece-me perfeitamente normal que isso aconteça.) O que é inaceitável é que já não haja homens ( e mulheres) íntegros, capazes de ignorar as pressões e cortar a direito, doa a quem doer. Inspectores, procuradores, juízes, árbitros, polícias várias, advogados, jornalistas passam os dias a levantar suspeitas sem apresentar provas, e, sobretudo, sem utilizarem os poderes de que dispõem para encostar à parede os prevaricadores. Qualquer malhador de púlpito ou de ministério os aterroriza!

No fundo, tudo se resume a uma educação mole, frouxa e céptica. A educação romântica conduziu à moleza e à fraqueza suicida. Por seu turno, a educação realista mergulhou-nos na descrença anticlerical e no cepticismo como forma de vida (a abulia). A educação republicana gerou a anarquia e o bolchevismo que o Estado Novo se encarregou de esconder no fundo da sacristia e de eliminar nas salas de tortura e na frigideira do tarrafal.

Esgotados, acreditámos que a revolução estava na rua, e a educação desapareceu nas secretárias dos burocratas e nas palavras de ordem de novas seitas que permanentemente atacam o erário público.

Digressão feita, penso que já compreendo o que ao princípio me assombrava.