18.1.09

Outro desatracado…

Dizer que a barba de São Francisco Xavier o distingue do Santo Inácio de Loyola não sei se faz de mim um desatracado, termo que subtraio a Miguel Esteves Cardoso, sem a devida autorização. Atrevo-me, no entanto, a referir que o meu olhar estacou, por instantes,  na iconografia jesuítica disponível no Museu de São Roque. Fiquei, ali, diante daqueles santos da contra-reforma a pensar na estratégia catequética adoptada no Oriente. E continuo sem compreender o súbito fervor do Fernão Mendes Pinto, bem explícito na PEREGRINAÇÃO…

O resultado entra olhos pelos dentro: a prata dourada, a madrepérola, o marfim, as cores quentes, o realismo das figuras, a magnificência dos relicários, tudo nos promete uma vida (outra) excelsa, bem longe da peste, da fome  quotidiana…

A caveira que, há muito, via nas mãos de um santo  sado-masoquista, encontra-se aos pés de um outro intrépido santo, como se ela não representasse mais do que a terrena vida…

À distância, não deixo de pensar que do reinado de D. Manuel I para o de D. João III, a élite portuguesa atascou as mãos na riqueza que jamais imaginara possuir, hipotecando definitivamente a nação… E, hoje, continuamos a reagir do mesmo modo a qualquer estímulo de fartura…, esperando que, na desdita, o manto virginal nos cubra com a sua infinita misericórdia… 

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