26.4.08

Não percebo o alarido...

Toda a gente parece preocupada com a nossa falta de memória. Os jovens e os menos jovens ignoram o que foi o 25 de Abril. Assim mesmo, sem a preocupação de completar a frase: 25 de Abril... de 1974. Quando não completamos as frases, pressupomos que todos sabem do que estamos a falar e, preguiçosamente, deixamos ao interlocutor o papel de confirmar o nosso raciocínio. Nem sequer aceitamos que o outro nos interrogue. Por exemplo, o que é que terá acontecido a 25 de Abril de 1140? No entanto, todos sabemos que ninguém vem ao mundo, sabedor do que aconteceu anteriormente ou no próprio dia do nascimento.

Por outro lado, lidamos com outra dificuldade: não podemos armazenar mais do que uma certa quantidade de informação. Mesmo que nos esforçássemos por reter toda a informação, as lacunas rapidamente se tornariam visíveis ou, em alternativa, a memória curtcircuitaria, passe a ousadia.

Deste modo, aqueles que agora parecem preocupar-se com tamanha ignorância dos portugueses deveriam, antes, explicar por que motivo varreram a História (tout court), a História da Cultura, das Religiões, da Literatura, da Arte, das Instituições para um canto dos curricula.

Na minha perspectiva, isso só aconteceu ( e já não é pouco!) porque tememos o despertar dos demónios (furtos, torturas, autos-de-fé e massacres que protagonizámos ao longo dos séculos), e, também, porque detestamos a comparação, privilegiamos a vaidade e a inveja.

Jamais esquecerei, no pós-25 de Abril de 1974, a corrida aos cursos de História e os milhares de licenciados que deseperamente descobriram o desemprego. Todos queriam conhecer a verdade que o passado lhes escondera. Mas a porta da História fechou-se-lhes, como se a caixa de pandora pudesse aniquilar os Heróis de Abril (os que vinham de longe e os novíssimos que, logo, souberam apanhar o comboio e se encarregaram de reescrever a sua própria história).

Hoje, 34 anos depois da Revolução ( também no Estado Novo se falava de revolução: 5, 10 anos depois...) querem mais, uma vez culpar a escola e, mesmo, a comunicação social, deste nosso desconhecimento, quando, de facto, foram os políticos que, desejando legitimar o poder conquistado na rua ou nas urnas, decidiram pôr uma pedra sobre o assunto. Nada do que acontece na sociedade portuguesa ou outra é fortuito: tudo traz o ferrete da decisão, da manipulação ou da omissão de quem nos tem (des)governado.

E nesta data, proponho-vos uma leitura: A ARTE DE FURTAR.

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