Para quem já escreveu uma dissertação sobre a obra de Pepetela e, em particular, sobre o romance YAKA (1985), a leitura de "O Terrorista de Berkeley, Califórnia" (2007) deixa uma sensação de vazio, diria mesmo de nulidade.
A começar pelo título, o "terrorista...", termo maldito para o gerrilheiro revolucionário que combatia o fascismo colonialista e o capitalismo expansionista. Agora, o "terrorista" não passa de um "cérebro de formação matemática e informática" que resolveu brincar com o decrépito sistema de informações americano, simulando, através da troca de e-mails, a preparação de atentados capazes de rachar a Califórnia ao meio.
A equipa de Steve Watson, o chefe do grupo especial de combate ao terrorismo para a região de S. Francisco, enceta uma minuciosa caça à perigosa rede terrorista, revelando ao longo da novela muitos dos estereótipos que, actualmente, aterrorizam o americano médio, protestante... e branco.
Larry, o terrorista de Berkeley, "jaz sobre o computador, como a tentar protegê-lo, doze balas nas costas" ...
Por esta novela, ligeira na abordagem do tema, perpassa alguma da ironia que caracteriza a obra de Pepetela e, sobretudo, um fino anti-americanismo. De Angola, apenas raros vestígios lexicais: muata; mujimbo; e algumas construções sintácticas com cheiro a Brasil...
De qualquer modo, o Autor parece procurar um novo público mais afastado do debate político e mais próximo das novas tecnologias. Um público, para quem a leitura é, sobretudo, um acto lúdico...