3.11.07

De graça...

"Dei-lhes de graça meu coração/E o que ele tem." Fernando Pessoa, 10/10/1933
É isso mesmo! Trabalhar de graça, sob a ameaça rasteira do processo disciplinar, da mobilidade, do despedimento.
Funcionário, empregado a tempo inteiro. De dia e de noite. Sem efectiva contagem das horas. Na expectativa de que morra cedo para sossego da segurança social.
Nem o vento sopra lá fora.
Só a febre da alma se agita, insegura, arranhando-me por fora, sem que o coração chegue a saber que está definitivamente morto.
Lá longe, o barril de petróleo continua a matar a esperança... e a chuva fustiga impiedosamente os deserdados...

2 comentários:

  1. Parece ironia, mas ontem foi dia de não tirar o pijama. E, contudo, levantei-me cedo e deitei-me tarde. Mas não saí de casa, fiquei o dia todo sentado, até para comer, que é assim que normalmente se come. O dia inteiro preso a uma cadeira, os olhos postos em folhas tingidas e linhas ziguezagueantes, gratuitamente. Dezenas de provas corrigidas, incorrigíveis, muitas. No exterior, a luz prometia calor e passeio, mas só para alguns, para aqueles libertamente felizes do tempo lectivo, não-lectivo e de trabalho de casa, que é todo o que resta do que se não consome na escola.
    Hoje de manhã, ao raiar da luz, é preciso ultimar as classificações, dar um toque às fichas de informação para as intercalares, preparar ainda uma reunião de direcção de turma, adiantar a acta - que para quem preside é sempre mais um encargo -, e dar graças a deus pela sobrevivência dominical.
    Com tudo isto, que mossa me faz já o petróleo ou a água em barda arrastando almas? Depois disto, pouco nos sobra para o mal alheio. Depois disto, porque mais sós, pouco mais somos, que funcionários igualmente deserdados...
    E parece haver ainda quem acredite no natal...

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  2. caros colegas(?) vamos a não esmorecer!
    é tudo lindo e os cinquenta têm de ser vividos com um sorriso. o blogger não chego a perceber bem o que faz... mas gostei do escrito

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