13.5.07

Cachimbadas na ponte...

Deixou de se fumar cachimbo nas varandas… O cigarro sai e entra pelas narinas, ao desafio, trocista, atravessa os pátios… Eduardo Prado Coelho, no dia 11 de Maio de 2007, no Público, voltou a referir-se ao «extraordinário professor», Mário Dionísio que teve no liceu [Camões], que fumava cachimbo e que teve a tentação de imitar. Mas EPC desistiu, quando percebeu que o seu «professor David Mourão-Ferreira tinha uma trabalheira imensa para conservar o hábito do cachimbo…» Será que os condiscípulos de EPC, Mário de Carvalho e João Aguiar também tiverem a tentação de imitar os mestres? (Uma pergunta por fazer) Eduardo Lourenço que nunca (?) terá passado pelo Liceu Camões, ao escrever, em 1968, Sentido e Forma da Poesia Neo-Realista, não se referiu a Arquimedes Silva Santos, a Mário Dionísio ou a Manuel da Fonseca porque, apenas, convivera com os cachimbistas [apesar de não estarem obrigados a ser portadores do implícito] de Coimbra, designadamente Joaquim Namorado e Carlos de Oliveira. O que deixa adivinhar que desconhecia a fumaça dos cafés Bocage e Monte Carlo… E sem fumaça, o intelecto torna-se escorregadio, heterodoxo…
José Gomes Ferreira, a 30 de Dezembro de 1967 [com e sem cachimbo] interrogava-se indirectamente sobre o amigo Mário Dionísio (aqui, sem cachimbo!?): «Que toque de simpatia pública falta a este homem que, no entanto, pode gabar-se de ser amado até à idolatria pelos alunos dos primeiros anos do liceu [Camões]Dias Comuns III, Ponte Inquieta, Publicações D. Quixote. O mesmo José Gomes Ferreira, ex-Liceu Camões, com o José Bacelar, o Armindo Rodrigues. Sabem de quem se trata? Dixit: «Foi ali [Gil Vicente], naqueles corredores de ecos sombrios, sujos de passos apodrecidos de monges, que, liberto dos mestres-caturras do Liceu Camões (de má memória), se definiu, de maneira categórica, a minha vocação literária, sustentada por um grupo de professores que classifico sempre com este adjectivo de anúncio de filmes: sensacional. Senão, leiam o elenco: Leonardo Coimbra, Newton de Macedo, Ângelo Ribeiro, Câmara Reys, Damião Peres…»
Fico sem saber se no Camões se fumava mais ou menos do que no Gil Vicente. E pelos vistos, fumava-se dentro da sala de aula. Ainda, hoje, recordo esse cachimbista laureado que é o Álvaro Manuel Machado que nunca encetava o Paradiso do Lezama Lima sem nos cachimbar o espírito.
(De regresso, a JGF - A Memória das Palavras ou o gosto de falar de mim, Portugália - vale a pena ler a nota sobre os professores supranumerários de 1914-1915, cuja missão consistia em velar pela ordem nas turmas durante a ausência acidental dos efectivos…) Os primeiros não tinham dinheiro para cachimbadas, mas nem por isso deixavam de ser cachimbados. Quanto aos últimos, mestres-caturras...
Ao longe, já avisto o cachimbo de Vergílio Ferreira a vocifrar com o cachimbo do Mário Dionísio...

(Se me distraio, ainda chego aos fumos da Índia...)

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