20.2.07

Mergulhar na nossa vida...

1984, RDA. A missão da STASI é saber tudo sobre a vida das pessoas, através de uma vasta cadeia de informadores/denunciadores. O filme "AS VIDAS DOS OUTROS" de Florian Henckel von Donnersmarck mostra a gradual desilusão do capitão Wiesler, um oficial altamente credenciado da polícia política, cuja missão é espiar o famoso escritor, George Dreyman, e a sua esposa, a actriz Christa-Maria Sieland.
A intriga tem todos os condimentos para seduzir o espectador. No entanto, o que mais impressiona é o modo como o poder totalitário controla o cidadão, deixando-o incapaz de qualquer defesa, tornando-o num bufo. E deixa ainda perceber que em ditadura, a oposição organizada cai facilmente nas malhas estéreis da soberba e da vaidade.
Este filme ajuda-nos a compreender que a queda do Muro de Berlim, em 1989, era inevitável: o capitão Wiesler representa todos aqueles que de dentro descobriam a arbitrariedade do poder e que fascinados pela pureza da ideologia traída acabaram por passar para o lado de lá... apesar de a História os ignorar, reduzindo-os ao papel de carteiro, como acontece no romance de George Dreyman.
Em Portugal, não há registo do capitão Wiesler. Mas ele existiu nos últimos anos do marcelismo... A PIDE não era diferente da STASI e por isso ver o filme AS VIDAS DOS OUTROS é ainda mergulhar na nossa vida. Uma vida escondida que nos comprazemos em ignorar, talvez porque como refere Anthony Giddens (Sociologia, pág.597) "uma sociedade, onde um movimento que tenha tomado o poder se revela posteriormente incapaz de governar com eficácia, não pode ser considerada como tendo passado por uma revolução e é mais provável que seja uma sociedade caótica ou em risco de se desintegrar."

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