18.1.07

Um dia atípico...

Estragon - On trouve toujours quelque chose , hein, Didi, pour nous donner l'impression d'exister?
Esperei todo o dia por uma porta que não chegou. Está dois meses atrasada. Habitualmente, nestas situações, relembro o título de Samuel Beckett, En attendant Godot. De acordo com o carpinteiro, é incompreensível que a porta ainda não tenha regressado, porque, na arrumação em que se encontra, ela já incomoda, e, em casa, parece fazer falta. - Não, passa de amanhã - garantiu o carpinteiro. No entanto, não estou convencido, eu que pensava tê-la visto passar em direcção ao aeroporto da Portela, facto / ilusão que não me surpreendeu, pois, às 8 da manhã, recebera a informação inopinada e espontânea de que, depois de passar pelo aeroporto, a porta seria devolvida às dobradiças que, chorosas, a aguardam pacientemente...
Entretanto, enquanto (des)esperava pela porta, assisti e, de certo modo, participei, pondo em risco o esqueleto na substituição de uma cozinha... Mas, também, aqui, tudo está atrasado e, principalmente, desajustado. As medidas nunca correspondem. E, portanto, vai ser necessário improvisar... Apesar de tudo, neste caso, o carpinteiro, ainda novo, parece ser competente... Vamos lá ver se tem os conhecimentos necessários à resolução dos problemas criados por uma incompetente agrimensora...
Começo a resvalar num terreno escorregadio, aquele em que uns tantos - muitos - substituiram com naturalidade os conhecimentos pelas competências, mudando do paradigma da incerteza para o da estupidez...
Voltando à atipia, este meu dia foi ainda atravessado por «mastros» alarmistas que me deixam à espera de Godot para que ele me explique por que motivo é tudo tão lento, tão desafinado e negligente. Apenas o maldito romeiro vai cumprindo a promessa de voltar vivo ou morto, ainda que a horas tardias, para além de que hoje o Camões não me telefonou: « Um momento, é do Camões, vou passar a chamada...»

1 comentário:

  1. Assim é, de facto: gente cada vez mais competente, mais capaz, mais certificada e com direito a equivalência, também ela igualmente certificada, porém ignorante como antes da dita certificação. Leia-se ignorância no sentido etimológico, de desconhecimento, de não-conhecimento.
    Temos deste modo uma população cuja habilitação escolar passou agora a ser de "ignorância certificada", e por níveis!
    Outrora, dir-se-ia uma população "burra como uma porta", sem ofensa para a porta, seja ela qual for, que todas elas são de abrir e fechar, se auxiliadas, e não abrindo ou fechando por elas próprias nunca o defeito será delas, mas de quem as não sabe puxar ou empurrar.
    E até mesmo quando tardam em chegar, quando há muito deveriam estar no seu destino, exercendo a sua função, é porque por detrás delas reinará muito provavelmente incompetência, incapacidade e um défice de avaliação.
    Há que ultrapassar os obstáculos! Como sugestão, não havendo porta, coloque-se em seu lugar uma cortina. O êxito será menor, mas haverá pelo menos a vantagem de se não bater nela com a cabeça!!!

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